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Em meio a uma mesa de um típico pub londrino , só que em Buenos Aires, com três canecas de chope e quatro pessoas, um homem de 25 anos já um pouco bêbado, israelense, pede para contar uma história que ocorreu com ele anos atrás, em seu país de origem; os outros três, brasileiros, se calam e escutam com atenção o israelense, que num misto de inglês, espanhol e português, começa sua história *:
Foi há alguns anos atrás isso, como já falei. Em Israel , não sei se vocês sabem, mas o serviço militar é obrigatório, tanto pra homem quanto pra mulher. Chega os 18 anos, nós já vamos com uma certa preparação psicológica para ficar um ano servindo, ainda mais se você não gosta e nem vê perspectiva no exército, como muitas vezes acontece. Mas nãó era o meu caso, eu me apresentei tranquilo, queria ser piloto de tanque - nós , pelo menos, temos liberdade para escolher nossa função dentre as apresentadas por eles.
Definido o quartel, me apresentei, manifestei logo meu desejo de ser piloto, eles me encaminharam para o treinamento, que foi bem dentro do que eu esperava, bastante duro mas recompesador, pois me orgulhava servir ao meu país e ao meu povo. Depois de alguns meses, independente da função escolhida, somos mandados para algum quartel ou base no país para ficarmos, se tudo ocorrer bem, até completar um ano de serviço obrigatório; pode-se ficar mais, mas são poucos os que querem, e eu não queria, buscava fazer uma faculdade.
Como é sabido por vocês e por quase todo o planeta, vivemos em uma terra de que está permanentemente em guerra; os conflitos sempre se renovam, as batalhas nuncam cessam por completo e a tensão presente em todo o território é alta; por outro lado, somos já tão acostumados a essa tensão que muitas vezes banalizamos certas coisas, como a morte de uma pessoa, por exemplo, já que desde pequenos nos acostumamos que isso aconteça com conhecidos, pessoas próximas - embora
Fui servir a uma base quase na fronteira com o Egito, que não é a região mais tensa do território, mas ainda assim suscetível a ataques surpresas e , portanto, merecedora de cuidado. Fiquei por 3 meses lá, patrulando de tanque o deserto - era uma zona desértica, como quase todo Israel - sem nunca precisar atirar em alvo que apresentasse risco iminente para mim, apenas alertava quando alguém entrava na zona que cuidava. Mas eis que no último dia me acontece algo terrível.
Na base ficavam 10 pessoas, a maioria da infantaria; com o tempo e a convivência, ficamos amigos, todos nos dávamos bem. Era uma quinta feira, iríamos ser liberados no fim da tarde de sexta. Como aquele dia estava muito quente, resolvemos antecipar nossa festa de despedida; compramos algumas (muitas) cervejas, geladas, e logo que anoiteceu começamos a beber, todos, inclusive nosso chefe, que, apesar da amizade que criamos, ainda mantinha uma distância de nós - o que era saudável até, por questão de autoridade. Mas naquele dia ele bebeu demais, assim como todos, menos eu; por um acaso, ou por ser piloto, fui o encarregado de buscar mais cervejas no vilarejo próximo, à noite, quase 11 horas. Obviamente, foi muito difícil encontrar; só consegui depois de quase duas horas procurando. Quando cheguei, todos estavam ainda mais bêbados; tinham tomado todas as cervejas e ainda acharam algumas garrafas de vinho esquecidas na despensa. Um sóbrio no meio de um grupo de bêbados se sente um completo idiota, e por isso fui dormir, irritado por terem me preterido na festa.
No outro dia, no horário de todos estarem acordados somente eu estava. Fiquei receoso com a situação (vai que no último dia surja algum perigo...), mas me vesti e saí para minha ronda normal. A surpresa veio quando vi um grupo de rebeledes palestinos escondidos atrás do único morro perto da nossa base. Imediatamente, fui direto para a base contar a péssima novidade. Acordei o pessoal, informei do problema; de ressaca, todos, acordaram ,surpresos, e foram se vestir. O chefe me mandou ir na frente para atrasar os rebeldes, pois era o único que estava vestido. Peguei o tanque e fui, morrendo de medo da situação nova que me esperava, e exigia, uma ação. Quando entrei no tanque, começaram a atacar a base. Na hora, fiz o contra-ataque; não deu resultado, errei o tiro. Eles eram muitos, e , o que é pior, espalhados. O ataque continuou, mas dessa vez o resto do meu grupo revidou, alguns ainda vestindo a roupa do exército, atabalhoados, mas já atirando com a metralhadora.
A batalha se seguiu por algumas horas, até afugentarmos os rebeldes. Mas não sem um saldo negativo: nosso chefe foi atingido no peito e veio a falecer tempos depois. Um dia depois da despensa, juntei todo o meu dinheiro e fui para os Estados Unidos estudar e trabalhar; fiquei um ano lá, tranquei a faculdade e fui viajar, coisa que faço até hoje - como vocês bem podem notar.
* Em depoimento; embora, como diz Borges, o esquecimento e a lembrança são inventivos.
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quinta-feira, janeiro 26, 2006
quarta-feira, janeiro 25, 2006
Cenas Buenairenses (1): Jardim Botânico
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No meio de um bairro, Palermo, considerado "chique", de classe média e alta, a algumas quadras de lojas com preços para uma roupa ou uma bolsa acima da casa dos mil pesos, cercado por robustos prédios de apartamentos de 10,12 andares e margeado por uma avenida com nome de província argentina (Santa Fé), há o Jardim Botânico de Buenos Aires. Majestoso, mas não tão imponente, serve de refúgio para quem:
a) quer ler um livro estirado na grama ou bem sentado nos inúmeros bancos;
b) não tem como ir a praia e quer deitar em algum lugar para tomar banho de sol ( a grama , em certos locais, é mais fofa que a areia de muitas praias, mas tem o acréscimo, que a areia só oferece para quem tem alergia, da cosquinha, nem sempre bem vinda; uma toalha qualquer resolve o problema )
c) tem filhos pequenos, mora em apartamento e precisa de um lugar para que os filhos possam correr, deitar, rolar, brincar, até gritar, sem se preocupar com nada além da ameaça a integridade física dos seus filhos que as ações citadas possam causar;
d) gosta de gatos ( há perto de 50, brancos, pretos, malhados, cinzas, todos criados e , provavelmente, nascidos ali mesmo, talvez a explicação deles serem tão dóceis a ponto de pular no colo de quem senta sem esse estar oferecendo comida)
e) quer tomar um mate e jogar conversa fora, na sombra ou no sol, seja às 10 e 31 da manhã ou às 19 e 15 da tarde (demora a anoitecer, entre 20:45 e 21:15);
*****
Como todo jardim botânico que se preze, tem muitas árvores, algumas com seus dados de identificação em placas , e muitos bancos, que embora a grande quantidade, ainda assim não são fáceis de se ver desocupados.
Há gente de todas as idades, e , parece, também de todas as classes sociais; de executivos de terno descansando em algum banco a casal de aposentados tomando seu mate, passando por estudantes deitados ao sol lendo, garis uniformizados conversando alegremente, turistas europeus 'sacando una foto', gurias adolescentes conversando estiradas na grama e um velho maltrapilho parecendo um mendigo.
Sentar descompromissado em algum banco por uma hora, duas, é uma boa forma de observar, e conhecer, o comportamento dos portenhos. E também de gostar ainda mais do jardim Botânico, lugar fértil de se criar impressões e aprazível para torná-las consistentes. Pode até ser um parque como qualquer outro, mas só se for numa classificação grandiosamente comparativa e radicalmente racional, feita , talvez, por gente que nunca frequentou o lugar e nunca se deu ao esforço de querer entender aspectos culturais/comportamentais dos povos e lugares que percorre - ainda mais de um povo tão sentimental, passional e observador como os argentinos.
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No meio de um bairro, Palermo, considerado "chique", de classe média e alta, a algumas quadras de lojas com preços para uma roupa ou uma bolsa acima da casa dos mil pesos, cercado por robustos prédios de apartamentos de 10,12 andares e margeado por uma avenida com nome de província argentina (Santa Fé), há o Jardim Botânico de Buenos Aires. Majestoso, mas não tão imponente, serve de refúgio para quem:
a) quer ler um livro estirado na grama ou bem sentado nos inúmeros bancos;
b) não tem como ir a praia e quer deitar em algum lugar para tomar banho de sol ( a grama , em certos locais, é mais fofa que a areia de muitas praias, mas tem o acréscimo, que a areia só oferece para quem tem alergia, da cosquinha, nem sempre bem vinda; uma toalha qualquer resolve o problema )
c) tem filhos pequenos, mora em apartamento e precisa de um lugar para que os filhos possam correr, deitar, rolar, brincar, até gritar, sem se preocupar com nada além da ameaça a integridade física dos seus filhos que as ações citadas possam causar;
d) gosta de gatos ( há perto de 50, brancos, pretos, malhados, cinzas, todos criados e , provavelmente, nascidos ali mesmo, talvez a explicação deles serem tão dóceis a ponto de pular no colo de quem senta sem esse estar oferecendo comida)
e) quer tomar um mate e jogar conversa fora, na sombra ou no sol, seja às 10 e 31 da manhã ou às 19 e 15 da tarde (demora a anoitecer, entre 20:45 e 21:15);
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Como todo jardim botânico que se preze, tem muitas árvores, algumas com seus dados de identificação em placas , e muitos bancos, que embora a grande quantidade, ainda assim não são fáceis de se ver desocupados.
Há gente de todas as idades, e , parece, também de todas as classes sociais; de executivos de terno descansando em algum banco a casal de aposentados tomando seu mate, passando por estudantes deitados ao sol lendo, garis uniformizados conversando alegremente, turistas europeus 'sacando una foto', gurias adolescentes conversando estiradas na grama e um velho maltrapilho parecendo um mendigo.
Sentar descompromissado em algum banco por uma hora, duas, é uma boa forma de observar, e conhecer, o comportamento dos portenhos. E também de gostar ainda mais do jardim Botânico, lugar fértil de se criar impressões e aprazível para torná-las consistentes. Pode até ser um parque como qualquer outro, mas só se for numa classificação grandiosamente comparativa e radicalmente racional, feita , talvez, por gente que nunca frequentou o lugar e nunca se deu ao esforço de querer entender aspectos culturais/comportamentais dos povos e lugares que percorre - ainda mais de um povo tão sentimental, passional e observador como os argentinos.
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terça-feira, janeiro 24, 2006
Saberás, quando não?
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Viajar, quando nada mais resta;
Viajar, quando não se sabe, nada?;
Viajar, quando restar, o quê?
Viajar e encontrar.
Longe da acomodação tranquila de casa, não há quem resista a uma consulta com si mesmo. A tentação é forte, e boa; lugar melhor, independente de onde, não há. Não precisa marcar, nem sofrer estar se entregando a alguém que nao tem uma intimidade suficiente para gerar a confiança necessária. Não precisa de subterfúgios, desculpas que adiem, enrolem ou dificultem a consulta; ela acontece quando se faz necessária, sem um aviso - chamativo - prévio, simplesmente há uma sensação de que se está consultando - embora, às vezes, não se perceba muito bem algum resultado, ou mesmo o efeito imediato, logo depois do acontecido. Precisa-se de uma preparação, que nem sempre está pronta quando o imediato a chama. Algum tempo de assimilação tornam tudo tão imediato que quase nem dá-se conta de que não é mais algo tão imediato assim.
Assimilação lenta, efeitos prorrogados e definitivos; uma chavezinha , num desses lugares, foi encontrada, mas é chegando em casa que ela vai ser testada em diversas portas para saber qual ela irá abrir, se é que abrirá alguma.
Caso positivo, há ainda diversas opções: encruzilhada simples, complexa, estrada limpa, deserta, pavimentada com tracinhos prontos a serem seguidos, estrada limpa com uma outra obscura meio que escondida atrás de uma vegetação tão expessa quanto é possível a nós ver, outra tão deserta que as bifurcações aparecem em forma de miragem, sonho, mas que na hora não são distinguíveis, e por isso levam a lugar nenhum ou algum lugar, nao se sabe.
Se abrir alguma, melhor que sejam desse último tipo citado, deserta, com bifurcações que mais parecem sonhos - ou pesadelos - mas que são tão incríveis, diferentes, que parecem miragem ou ilusão de um caminho para um oásis que existe, verdadeiro como o caminho que leva até lá não é (ou pode ser). Chegando lá, observando quem está ao redor, é que se saberá se
a) É o paraíso;
b) É o paraíso, pós-morte;
c) A chavezinha abriu a porta correta;
d) Todas as outras são verdadeiras, embora não se acredite em nenhuma.
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Viajar, quando nada mais resta;
Viajar, quando não se sabe, nada?;
Viajar, quando restar, o quê?
Viajar e encontrar.
Longe da acomodação tranquila de casa, não há quem resista a uma consulta com si mesmo. A tentação é forte, e boa; lugar melhor, independente de onde, não há. Não precisa marcar, nem sofrer estar se entregando a alguém que nao tem uma intimidade suficiente para gerar a confiança necessária. Não precisa de subterfúgios, desculpas que adiem, enrolem ou dificultem a consulta; ela acontece quando se faz necessária, sem um aviso - chamativo - prévio, simplesmente há uma sensação de que se está consultando - embora, às vezes, não se perceba muito bem algum resultado, ou mesmo o efeito imediato, logo depois do acontecido. Precisa-se de uma preparação, que nem sempre está pronta quando o imediato a chama. Algum tempo de assimilação tornam tudo tão imediato que quase nem dá-se conta de que não é mais algo tão imediato assim.
Assimilação lenta, efeitos prorrogados e definitivos; uma chavezinha , num desses lugares, foi encontrada, mas é chegando em casa que ela vai ser testada em diversas portas para saber qual ela irá abrir, se é que abrirá alguma.
Caso positivo, há ainda diversas opções: encruzilhada simples, complexa, estrada limpa, deserta, pavimentada com tracinhos prontos a serem seguidos, estrada limpa com uma outra obscura meio que escondida atrás de uma vegetação tão expessa quanto é possível a nós ver, outra tão deserta que as bifurcações aparecem em forma de miragem, sonho, mas que na hora não são distinguíveis, e por isso levam a lugar nenhum ou algum lugar, nao se sabe.
Se abrir alguma, melhor que sejam desse último tipo citado, deserta, com bifurcações que mais parecem sonhos - ou pesadelos - mas que são tão incríveis, diferentes, que parecem miragem ou ilusão de um caminho para um oásis que existe, verdadeiro como o caminho que leva até lá não é (ou pode ser). Chegando lá, observando quem está ao redor, é que se saberá se
a) É o paraíso;
b) É o paraíso, pós-morte;
c) A chavezinha abriu a porta correta;
d) Todas as outras são verdadeiras, embora não se acredite em nenhuma.
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sexta-feira, janeiro 20, 2006
Em Itaqui ( finalizando)
Bueno, já estou pelo Brasil. Na terça mesmo voltei para Buenos Aires de ônibus (a única forma, talvez) ; fiquei a quarta inteira por lá, visitei alguns lugares que ainda nao tinha visto, como o Jardim Botânico e a Plaza Cortázar, e , talvez pelo sol que fazia e a temperatura muito agradável, foi o melhor dia em Buenos Aires. Algumas fotos eu colocarei depois.
Na própria quarta, quase de madrugada, peguei um outro onibus para Paso de Los Libres; depois Uruguaiana, e , finalmente, na quinta pelo meio dia estava em Itaqui. Faziam quase 10 anos que nao visitava meus tios aqui, entao resolvi aproveitar o ritmo de viagem e dar uma passada.
Bom, o diário de bordo acabou, a viagem ainda nao. Ao longo do tempo, vou soltando algumas fotos e impressões dos lugares que passei, mas agora sem qualquer ordem, nem cronológica nem nenhuma outra, e o blog voltará ao que era antes da viagem.
Na própria quarta, quase de madrugada, peguei um outro onibus para Paso de Los Libres; depois Uruguaiana, e , finalmente, na quinta pelo meio dia estava em Itaqui. Faziam quase 10 anos que nao visitava meus tios aqui, entao resolvi aproveitar o ritmo de viagem e dar uma passada.
Bom, o diário de bordo acabou, a viagem ainda nao. Ao longo do tempo, vou soltando algumas fotos e impressões dos lugares que passei, mas agora sem qualquer ordem, nem cronológica nem nenhuma outra, e o blog voltará ao que era antes da viagem.
terça-feira, janeiro 17, 2006
Em Bariloche(2)
segunda-feira, janeiro 16, 2006
Em Bariloche
Ola,
Estou em Bariloche, depois de passar um dia em Viedma, 980 km ao sul de Buenos Aires, e pegar o trem para cá, distante uns 900 km também de Viedma. Dá para se imaginar um triângulo retângulo virado de lado; em uma está B Aires, outra Viedma, e na ponta, virado para a esquerda, está San Carlos de Bariloche.
Em uma cidade turística como Bariloche - janeiro é epoca de Vacaciones por aqui, o que contribui para o aumento do número de pessoas por aqui - tudo é mais caro.
Depois de quase nao ter dormido durante dois dias ( um na viagem para Viedma e outro na tentativa, nao muito produtiva, de dormir na rodoviária de Viedma, já que todos os hotéis mais em conta na cidade, inexplicavelmente, estavam cheios), resolvi que iria dormir em algo decente; achei um hostel a 15 km do centro de Bariloche, encrustado no meio da montanha de 1400 m de altitude e com acesso só em jipes 4x4 de tao ruim que é a estrada. O preco era o mesmo dos hostels do centro, entao valia a pena tirar um dia para descansar e curtir o visual - magnífico - e o silêncio, muito silêncio, quase inacreditável de tao quieto era o lugar.
O local lembra também aquelas casas onde, em filmes de terror e suspense, um grupo vai para o local, completamente isolado de tudo, e lá acontecem várias mortes, restando um que desvenda o enigma e o filme termina. Ajuda a lembrar esses filmes o fato de o dono ser um tanto quanto estranho, calado e com cara de psicopata, e de suas duas filhas que cuidam do hostels serem outro tanto estranhas, loiras, as vezes simpáticas as vezes rude, parecidas com a) Rebecca de Mornay em a A mao que balanca o Berco b) a loira do Bebe de Rosemary, do Roman Polanski. Aqnum hostel que è mais um retiro, ou uma casa na montanha de filmes de terror.
Nao sei o que farei amanha. Buenos Aires, ficar por aqui, ou entao ir para Mendoza, depopis San Juan, tentar uma carona com um caminhoneiro conhecido... Nao sei.
Estou em Bariloche, depois de passar um dia em Viedma, 980 km ao sul de Buenos Aires, e pegar o trem para cá, distante uns 900 km também de Viedma. Dá para se imaginar um triângulo retângulo virado de lado; em uma está B Aires, outra Viedma, e na ponta, virado para a esquerda, está San Carlos de Bariloche.
Em uma cidade turística como Bariloche - janeiro é epoca de Vacaciones por aqui, o que contribui para o aumento do número de pessoas por aqui - tudo é mais caro.
Depois de quase nao ter dormido durante dois dias ( um na viagem para Viedma e outro na tentativa, nao muito produtiva, de dormir na rodoviária de Viedma, já que todos os hotéis mais em conta na cidade, inexplicavelmente, estavam cheios), resolvi que iria dormir em algo decente; achei um hostel a 15 km do centro de Bariloche, encrustado no meio da montanha de 1400 m de altitude e com acesso só em jipes 4x4 de tao ruim que é a estrada. O preco era o mesmo dos hostels do centro, entao valia a pena tirar um dia para descansar e curtir o visual - magnífico - e o silêncio, muito silêncio, quase inacreditável de tao quieto era o lugar.
O local lembra também aquelas casas onde, em filmes de terror e suspense, um grupo vai para o local, completamente isolado de tudo, e lá acontecem várias mortes, restando um que desvenda o enigma e o filme termina. Ajuda a lembrar esses filmes o fato de o dono ser um tanto quanto estranho, calado e com cara de psicopata, e de suas duas filhas que cuidam do hostels serem outro tanto estranhas, loiras, as vezes simpáticas as vezes rude, parecidas com a) Rebecca de Mornay em a A mao que balanca o Berco b) a loira do Bebe de Rosemary, do Roman Polanski. Aqnum hostel que è mais um retiro, ou uma casa na montanha de filmes de terror.
Nao sei o que farei amanha. Buenos Aires, ficar por aqui, ou entao ir para Mendoza, depopis San Juan, tentar uma carona com um caminhoneiro conhecido... Nao sei.
sexta-feira, janeiro 13, 2006
Fotos (Buenos Aires)
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Agora, algumas fotos de Buenos Aires.
Ao fundo, La Bombonera, estàdio do Boca Juniors.
Puerto Madero, um antigo porto abanadonado, hoje regiao dos restaurantes e bares chiques de Buenos Aires. Ao fundo a "Ponte de la Mujer".
Casa Rosada.
Eu em baixo do Obelisco da Av 9 de Julio, um dos sìmbolos de Buenos Aires.
Estou indo para Bariloche. Tentarei pegar o trem em Viedma, ao sul, no Domingo, às 18h. Amanha estarei por lá, Viedma e Carmen de Patagones, que sao cidades vizinhas sepaeradas apenas pelo Rio Negro, a uns 900 km ao sul de Buenos Aires. Lá em Bariloche tratarei de escrever mais.
Agora, algumas fotos de Buenos Aires.
Ao fundo, La Bombonera, estàdio do Boca Juniors.
Puerto Madero, um antigo porto abanadonado, hoje regiao dos restaurantes e bares chiques de Buenos Aires. Ao fundo a "Ponte de la Mujer".
Casa Rosada.
Eu em baixo do Obelisco da Av 9 de Julio, um dos sìmbolos de Buenos Aires.
Estou indo para Bariloche. Tentarei pegar o trem em Viedma, ao sul, no Domingo, às 18h. Amanha estarei por lá, Viedma e Carmen de Patagones, que sao cidades vizinhas sepaeradas apenas pelo Rio Negro, a uns 900 km ao sul de Buenos Aires. Lá em Bariloche tratarei de escrever mais.
Fotos (até Buenos Aires)
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Como prometido, as fotos. Primeiro as fotos até Buenos Aires.
Esperando o trem, na estacao de Libres, na companhia do meu fiel radinho de pilha.
Este é o trem parando, e o pessoal saindo para buscar uma água.
Estou tirando a foto de onde fiquei a grande parte do tempo da viagem de trem. As pessoas da frente estao no vagao da clase Turista, a que fui. Como pode se ver, as concicoes nao sao lá muito boas...
O hostel Sol
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Como prometido, as fotos. Primeiro as fotos até Buenos Aires.
Esperando o trem, na estacao de Libres, na companhia do meu fiel radinho de pilha.
Este é o trem parando, e o pessoal saindo para buscar uma água.
Estou tirando a foto de onde fiquei a grande parte do tempo da viagem de trem. As pessoas da frente estao no vagao da clase Turista, a que fui. Como pode se ver, as concicoes nao sao lá muito boas...
O hostel Sol
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quinta-feira, janeiro 12, 2006
Em Buenos Aires (2)
Nao é tao fácil falar espanhol como se pensa. O espanhol daqui é mais difícil de compreender do que o do Uruguai, mais "enrolado" - seja lá o que signifique isso. O velho portunhol ,em muitos casos, nao é o suficiente, sendo preciso que vários gestos auxiliem no diálogo que tenta se estabelecer. Os argentinos,parece que percebendo que estou falando errado o idioma deles, sempre repetem aquilo que quero dizer com a pronúncia certa, afirmando que eu quero dizer tal coisa mas que do jeito que eles estao me falando é que é o correto. No início,achei que fosse até arrogancia da parte deles, mas depois vi que nao,é apenas o jeito deles de estabelecer uma conversa.
No Hostel
O hostel é, como uma propaganda diria, o lar dos viajantes.O dono,um castelhano baixinho e bem humorado, está sempre pronto a servir, a esclarecer dúvidas. A sua equipe: um gurizao que sempre atende a campainha ( há uma escada para subir para os quartos,a cozinha,os banheiros) num sobe e desce constante e cansativo; um cabeludo músico hippie tardio ,e uma loira muito bonita,que parece ser namorada do cabeludo, toda rockstar, roupa apertada,all-star de botinha, camiseta branca de banda.
Estava sentado tomando mate no amplo salao do lugar quando presenciei a seguinte situacao: um casal frances discutia entre si ( em frances) quando a mulher pergunta para o baixinho dono do hostel,em ingles, onde se encontrava uma coisa (que nao escutei o que era); o baixinho nao sabia; entao, ele perguntou, em espanhol, a uma brasileira o que significava aquela coisa; a brasileira nao sabia; perguntou, em portugues, para o seu namorado o que significava aquela coisa que o baixinho perguntou; finalmente,o brasileiro soube a resposta, falou em portugues para a namorada,que falou em espanhol para o baixinho,que falou em ingles para a francesa,que falou em frances para o seu marido.
Essa situacao ilustra bem a "Babel" que é isso aqui. Dos que estao se hospedando agora, tem : brasileiro, peruano, australiano, frances, holandes,noruegues e israelense. Para esse povo todo se entender,além de gestos,o ingles facilita. No meu quarto,com 5 beliches, há dois brasileiros de Curitiba, metaleiros e parceiros de trago e saídas, o israelense que fala 3 idiomas e já foi piloto de tanque do exército,e um peruano mais calado.
Uma constatacao que tive por aqui é que nao sei falar espanhol nem ingles,só enrolo nos dois. Com o israelense,a comunicacao é num "spanglish" bem precário, mas os dois curitibanos falam muito bem em ingles e traduzem algumas coisas para ele do que eu falo. O israelense é muito gente boa, levou nós para um pub com o sugestivo nome de "the Killkenny",onde tomamos umas cervejas e conhecemos o comportamento das chicas argentinas .Notamos que elas até gostam de estrangeiros,mas se fazem bastante - o que, aliás, é bem normal - e também tem uma coisa: a linguagem dos relacionamentos, da paquera, por mais especificidades que cada lugar tenha, no fundo é toda igual,pois os olhares , quando se se cruzam uma vez, duas, e voltam a se cruzar meio que parecendo sem querer, nao precisam de traducao.
Chove quase todo dia aqui, o que nao impede muita coisa, mas atrapalha um pouco.
No Hostel
O hostel é, como uma propaganda diria, o lar dos viajantes.O dono,um castelhano baixinho e bem humorado, está sempre pronto a servir, a esclarecer dúvidas. A sua equipe: um gurizao que sempre atende a campainha ( há uma escada para subir para os quartos,a cozinha,os banheiros) num sobe e desce constante e cansativo; um cabeludo músico hippie tardio ,e uma loira muito bonita,que parece ser namorada do cabeludo, toda rockstar, roupa apertada,all-star de botinha, camiseta branca de banda.
Estava sentado tomando mate no amplo salao do lugar quando presenciei a seguinte situacao: um casal frances discutia entre si ( em frances) quando a mulher pergunta para o baixinho dono do hostel,em ingles, onde se encontrava uma coisa (que nao escutei o que era); o baixinho nao sabia; entao, ele perguntou, em espanhol, a uma brasileira o que significava aquela coisa; a brasileira nao sabia; perguntou, em portugues, para o seu namorado o que significava aquela coisa que o baixinho perguntou; finalmente,o brasileiro soube a resposta, falou em portugues para a namorada,que falou em espanhol para o baixinho,que falou em ingles para a francesa,que falou em frances para o seu marido.
Essa situacao ilustra bem a "Babel" que é isso aqui. Dos que estao se hospedando agora, tem : brasileiro, peruano, australiano, frances, holandes,noruegues e israelense. Para esse povo todo se entender,além de gestos,o ingles facilita. No meu quarto,com 5 beliches, há dois brasileiros de Curitiba, metaleiros e parceiros de trago e saídas, o israelense que fala 3 idiomas e já foi piloto de tanque do exército,e um peruano mais calado.
Uma constatacao que tive por aqui é que nao sei falar espanhol nem ingles,só enrolo nos dois. Com o israelense,a comunicacao é num "spanglish" bem precário, mas os dois curitibanos falam muito bem em ingles e traduzem algumas coisas para ele do que eu falo. O israelense é muito gente boa, levou nós para um pub com o sugestivo nome de "the Killkenny",onde tomamos umas cervejas e conhecemos o comportamento das chicas argentinas .Notamos que elas até gostam de estrangeiros,mas se fazem bastante - o que, aliás, é bem normal - e também tem uma coisa: a linguagem dos relacionamentos, da paquera, por mais especificidades que cada lugar tenha, no fundo é toda igual,pois os olhares , quando se se cruzam uma vez, duas, e voltam a se cruzar meio que parecendo sem querer, nao precisam de traducao.
Chove quase todo dia aqui, o que nao impede muita coisa, mas atrapalha um pouco.
quarta-feira, janeiro 11, 2006
Em Buenos Aires (1)
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Ainda um pouco cansado, resolvi conhecer a cidade.O hostel é muito bem localizado, ao lado da grande Av. 9 de julho, a do famoso Obelisco, com sete pistas cheias de argentinos apressados que adoram usar a buzina - notadamente os taxistas,que a usam ao menor sinal de algo que possa ameacá-los.
Seguindo a avenida, cheguei ao centro - igual ao de qualquer cidade grande, muito concreto , McDonalds a cada esquina, filas de pessoas atravessando a rua, músicos tocando nas calcadas das esquinas, pessoas apressadas esbarrando nas sem pressa( e nos viajantes,como eu ) , executivos de terno falando ao celular, zombidos vindos de todos os lados, ruas sujas e pedintes nas entradas dos grandes e velhos prédios etc,etc. Só aqui nao há ambulantes, mas há dancarinos de Tango no calcadao (Calle Florida)
Depois fui passar pelos pontos turísticos,tirei aquelas fotos que todo mundo tira de Buenos Aires ( na frente da Casa Rosada,da Plaza de Mayo). Queria conhecer as famosas Galerías Pacífico, achando que fosse galerias mesmo, daquelas antigas com chao gasto de tantas historias, de teto altíssimo de vidro,com passagens secretas para um outro mundo obscuro, misterioso,com velhos argentinos fumando e conversando sobre o Boca, as Malvinas( "Las Malvinas soy argentinas" diz a primeira placa que vi quando entrei na Argentina),a situacao do país...... mas galerias por aqui é Shopping, e Shoppping sao todos praticamente identicos. Pelo menos nesse tinha o Centro Cultural Borges, mas as exposicoes, inclusive de Chagall, eram todas pagas( e caras), nada feito.
Após andadas e mais andadas( de All-Star),voltei ao hostel. Encontrei uns brasileiros,paulistas estudantes de Letras da USP, que pegaram o mesmo trem para vir pra cá, só que o de uma semana antes e em Posadas. Tentaram ir na classe Turista, mas ,para sorte deles, nao tinha mais bilhete, foram de Primeira Classe. E ainda assim reclamaram bastante.
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Ainda um pouco cansado, resolvi conhecer a cidade.O hostel é muito bem localizado, ao lado da grande Av. 9 de julho, a do famoso Obelisco, com sete pistas cheias de argentinos apressados que adoram usar a buzina - notadamente os taxistas,que a usam ao menor sinal de algo que possa ameacá-los.
Seguindo a avenida, cheguei ao centro - igual ao de qualquer cidade grande, muito concreto , McDonalds a cada esquina, filas de pessoas atravessando a rua, músicos tocando nas calcadas das esquinas, pessoas apressadas esbarrando nas sem pressa( e nos viajantes,como eu ) , executivos de terno falando ao celular, zombidos vindos de todos os lados, ruas sujas e pedintes nas entradas dos grandes e velhos prédios etc,etc. Só aqui nao há ambulantes, mas há dancarinos de Tango no calcadao (Calle Florida)
Depois fui passar pelos pontos turísticos,tirei aquelas fotos que todo mundo tira de Buenos Aires ( na frente da Casa Rosada,da Plaza de Mayo). Queria conhecer as famosas Galerías Pacífico, achando que fosse galerias mesmo, daquelas antigas com chao gasto de tantas historias, de teto altíssimo de vidro,com passagens secretas para um outro mundo obscuro, misterioso,com velhos argentinos fumando e conversando sobre o Boca, as Malvinas( "Las Malvinas soy argentinas" diz a primeira placa que vi quando entrei na Argentina),a situacao do país...... mas galerias por aqui é Shopping, e Shoppping sao todos praticamente identicos. Pelo menos nesse tinha o Centro Cultural Borges, mas as exposicoes, inclusive de Chagall, eram todas pagas( e caras), nada feito.
Após andadas e mais andadas( de All-Star),voltei ao hostel. Encontrei uns brasileiros,paulistas estudantes de Letras da USP, que pegaram o mesmo trem para vir pra cá, só que o de uma semana antes e em Posadas. Tentaram ir na classe Turista, mas ,para sorte deles, nao tinha mais bilhete, foram de Primeira Classe. E ainda assim reclamaram bastante.
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terça-feira, janeiro 10, 2006
Viagem até Buenos Aires
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Finalmente. Depois de quase dois dias de viagem. Mas vamos do comeco ( nao sei como sei usar acento nem cedilha nesse teclado em espanhol).
Saindo do calor "senegalesco" de Santa Maria, consegui uma carona depois do meio dia com um dos poucos caminhoneiros que passava no Domingo. Como ele ia para Santiago, me deixou no trevo de Sao Vicente. Chegando em Sao Vicente me dei conta de uma coisa: a bilheteria do trem em Libres parecia, nao tinha certeza, que fechava as 20:00. Na dúvida e na correria de nao conseguir pegar o trem, resolvi entrar no primeiro onibus que tinha para Uruguaiana, que por sorte era dalí a meia hora, 14:15.
No onibus, sem sono, fui conversar com uma paulista que estava no banco de trás, indo também para Uruguaiana. Ela havia saído sábado de Sao José do Rio Preto para fazer a matrícula em Veterinária segunda ,na PUC de Uruguaiana. Estava há um dia e pouco dentro do onibus e , incrível, conseguia manter o bom humor. "To achando tudo lindo" , era o que ela nao se cansava de repetir, com aquele sotaque bem típico do interiorrrr de Sao Paulo.
Em Sao Francisco de Assis, troca-se o onibus, trecho de estrada de chao até Manoel Viana. Onibus sem ar, num calor de 40 graus. Só com todas as janelas abertas para amenizar a sensacao desagradável, beirando a insuportavel. Depois de Manoel Viana, ganhamos a companhia na conversa de uma argentina estudante de direito na UFSM, muy gente boa, que me antecipou alguns "cuidados" a ter com as las chicas argentinas.
Chegamos em Libres pelas 19:00. Rachei um táxi de Libres (bem mais barato) com um castelhano que estava no Onibus, passei na alfandega e cheguei na estacao de trem pelas 20:00 e pouco. Para minha surpresa, eles só vendiam bilhetes meia hora antes do trem passar, sem qualquer garantia de lugar para sentar. Como o trem estava previsto para passar as 3 da madrugada, resolvi dar umas voltas por Libres, cidade extremamente pobre e com certeza um péssimo "cartao de visitas" da Argentina - a própria castelhana do onibus já havia dito também.
Atrasado, pelas 4 e pouco, chega o trem.
O trem social da Argentina
Há alguns dias atrás tinha visto uma reportagem sobre um trem dessa linha Posadas-B.Aires que descarrilou, antes de Libres. Na reportagem, ainda se falava do trem como o "trem social" da Argentina, por proporcionar uma viagem tao longa por tao baixo custo. Mas eu deveria ter descofiado mais dessa prometida "barbada" ( 26 pesos até Buenos Aires, sendo que de onibus custa mais do que o dobro disso).
Entrei no trem e comecei a procurar algum lugar no vagao de nome "Turista", o de tarifa mais barata, e vi cenas brabas, dignas de filme. O trem apreceia aqueles trens de refugiados, ou ainda aqueles que levam as pessoas para o campo de concentracao, entulhados de gente. Pessoas atiradas no chao, durmindo sentadas, no caminho, na pia dos lavabos, quase impossibilitando a passagem sem algum pisao . No lugar onde ficam os bancos, famílias com filhos pequenos, de colo, atiradas,6 pessoas em bancos de 4 lugares.
Sem lugar para sentar, me posicionei na entrada do trem, ao lado de um jovem pai e sua "hermosa" filha adolescentede de 13 anos.Até consegui trocar umas palavras com la chica,mas era muito difícil entender o espanhol dela, falado muito rápido e com um sotaque estranho .Detalhe: a porta de entrada passou a viagem inteira aberta, sem qualquer seguranca.Ao menos era uma boa vista e um refresco para o calor que fazia.
10:00, 9 pessoas se acotevelavam na entrada do trem, onde eu estava, em um espaco para umas 3 pessoas. Na pia, duas criancas dormiam,com sua mae logo abaixo,no chao,cuidando do filho de colo . Nos corredores, pessoas se acomodavam, e para piorar a situacao, estava muito quente, o trem andava devagar,o vento refrescante de antes se tornara agora um bafo,e o trem ainda parava uma hora sem qualquer motivo.Ninguém dava qualquer explicacao, nem mesmo conferiam os bilhetes, e o engracado é que ninguém reclamava, todos conformados, pois a viagem era assim mesmo,repetiam aqueles que viajavam com mais frequencia.
Eu, depois de umas 9 horas de pé naquela situacao nada boa, resolvi sentar, e logo que sentei já peguei no sono, sentado mesmo, com as pernas encolhidas para nao bater no velho senhor que estava na minha frente suando, mas com um sorriso no rosto. Dormi por alguns poucos minutos,20 eu acho, levantei, peguei um ar na porta de entrada do trem. E assim se seguiu a rotina até Buenos Aires, com mais gente entrando em cada estacao, alguns poucos saindo. No meio daquelas paisagens bucólicas do interior argentino - sempre plano, reta - tentava esquecer a situacao que estava e me concentrar em algo que pudesse ao menos amenizar o sofrimento que o calor,a fadiga,a fome provocavam.Uma situacao quase sub-humana de super lotacao.
Peguei um taxi até o hostel, tomei um banho e fui dormir, precisando mais do que nunca de uma boa cama.
E agora de manha chove em Buenos Aires enquanto escrevo, descansado, finalmente.
Ps: as fotos vem depois, apesar de serem poucas.
Finalmente. Depois de quase dois dias de viagem. Mas vamos do comeco ( nao sei como sei usar acento nem cedilha nesse teclado em espanhol).
Saindo do calor "senegalesco" de Santa Maria, consegui uma carona depois do meio dia com um dos poucos caminhoneiros que passava no Domingo. Como ele ia para Santiago, me deixou no trevo de Sao Vicente. Chegando em Sao Vicente me dei conta de uma coisa: a bilheteria do trem em Libres parecia, nao tinha certeza, que fechava as 20:00. Na dúvida e na correria de nao conseguir pegar o trem, resolvi entrar no primeiro onibus que tinha para Uruguaiana, que por sorte era dalí a meia hora, 14:15.
No onibus, sem sono, fui conversar com uma paulista que estava no banco de trás, indo também para Uruguaiana. Ela havia saído sábado de Sao José do Rio Preto para fazer a matrícula em Veterinária segunda ,na PUC de Uruguaiana. Estava há um dia e pouco dentro do onibus e , incrível, conseguia manter o bom humor. "To achando tudo lindo" , era o que ela nao se cansava de repetir, com aquele sotaque bem típico do interiorrrr de Sao Paulo.
Em Sao Francisco de Assis, troca-se o onibus, trecho de estrada de chao até Manoel Viana. Onibus sem ar, num calor de 40 graus. Só com todas as janelas abertas para amenizar a sensacao desagradável, beirando a insuportavel. Depois de Manoel Viana, ganhamos a companhia na conversa de uma argentina estudante de direito na UFSM, muy gente boa, que me antecipou alguns "cuidados" a ter com as las chicas argentinas.
Chegamos em Libres pelas 19:00. Rachei um táxi de Libres (bem mais barato) com um castelhano que estava no Onibus, passei na alfandega e cheguei na estacao de trem pelas 20:00 e pouco. Para minha surpresa, eles só vendiam bilhetes meia hora antes do trem passar, sem qualquer garantia de lugar para sentar. Como o trem estava previsto para passar as 3 da madrugada, resolvi dar umas voltas por Libres, cidade extremamente pobre e com certeza um péssimo "cartao de visitas" da Argentina - a própria castelhana do onibus já havia dito também.
Atrasado, pelas 4 e pouco, chega o trem.
O trem social da Argentina
Há alguns dias atrás tinha visto uma reportagem sobre um trem dessa linha Posadas-B.Aires que descarrilou, antes de Libres. Na reportagem, ainda se falava do trem como o "trem social" da Argentina, por proporcionar uma viagem tao longa por tao baixo custo. Mas eu deveria ter descofiado mais dessa prometida "barbada" ( 26 pesos até Buenos Aires, sendo que de onibus custa mais do que o dobro disso).
Entrei no trem e comecei a procurar algum lugar no vagao de nome "Turista", o de tarifa mais barata, e vi cenas brabas, dignas de filme. O trem apreceia aqueles trens de refugiados, ou ainda aqueles que levam as pessoas para o campo de concentracao, entulhados de gente. Pessoas atiradas no chao, durmindo sentadas, no caminho, na pia dos lavabos, quase impossibilitando a passagem sem algum pisao . No lugar onde ficam os bancos, famílias com filhos pequenos, de colo, atiradas,6 pessoas em bancos de 4 lugares.
Sem lugar para sentar, me posicionei na entrada do trem, ao lado de um jovem pai e sua "hermosa" filha adolescentede de 13 anos.Até consegui trocar umas palavras com la chica,mas era muito difícil entender o espanhol dela, falado muito rápido e com um sotaque estranho .Detalhe: a porta de entrada passou a viagem inteira aberta, sem qualquer seguranca.Ao menos era uma boa vista e um refresco para o calor que fazia.
10:00, 9 pessoas se acotevelavam na entrada do trem, onde eu estava, em um espaco para umas 3 pessoas. Na pia, duas criancas dormiam,com sua mae logo abaixo,no chao,cuidando do filho de colo . Nos corredores, pessoas se acomodavam, e para piorar a situacao, estava muito quente, o trem andava devagar,o vento refrescante de antes se tornara agora um bafo,e o trem ainda parava uma hora sem qualquer motivo.Ninguém dava qualquer explicacao, nem mesmo conferiam os bilhetes, e o engracado é que ninguém reclamava, todos conformados, pois a viagem era assim mesmo,repetiam aqueles que viajavam com mais frequencia.
Eu, depois de umas 9 horas de pé naquela situacao nada boa, resolvi sentar, e logo que sentei já peguei no sono, sentado mesmo, com as pernas encolhidas para nao bater no velho senhor que estava na minha frente suando, mas com um sorriso no rosto. Dormi por alguns poucos minutos,20 eu acho, levantei, peguei um ar na porta de entrada do trem. E assim se seguiu a rotina até Buenos Aires, com mais gente entrando em cada estacao, alguns poucos saindo. No meio daquelas paisagens bucólicas do interior argentino - sempre plano, reta - tentava esquecer a situacao que estava e me concentrar em algo que pudesse ao menos amenizar o sofrimento que o calor,a fadiga,a fome provocavam.Uma situacao quase sub-humana de super lotacao.
Peguei um taxi até o hostel, tomei um banho e fui dormir, precisando mais do que nunca de uma boa cama.
E agora de manha chove em Buenos Aires enquanto escrevo, descansado, finalmente.
Ps: as fotos vem depois, apesar de serem poucas.
sábado, janeiro 07, 2006
Viajar é preciso
Novamente, viajar é preciso.
Vou sair amanhã querendo chegar em Uruguaiana , de carona, até o início da noite, e então pegar o trem em Paso de Los Libres com destino a Buenos Aires. Se tudo der certo, segunda à noite estarei lá com os portenhos, procurando um hostel. Depois, não sei o que virá; ou fico um tempo lá ou saio viajar pela Argentina de trem, que é mais barato e mais bonito. Como imprevistos são frequentes nessas viagens, é capaz de segunda feira eu ainda estar recém em Uruguaiana. Tomare que não.
Pretendo fazer igual a outra viagem, em Outubro, quando mantive um "diário de bordo" aqui. Só dessa vez farei de tudo para atualizá-lo diariamente, ou no mínimo a cada dois dias, e dessa vez com direito a mais fotos.
Então tá.
Vou sair amanhã querendo chegar em Uruguaiana , de carona, até o início da noite, e então pegar o trem em Paso de Los Libres com destino a Buenos Aires. Se tudo der certo, segunda à noite estarei lá com os portenhos, procurando um hostel. Depois, não sei o que virá; ou fico um tempo lá ou saio viajar pela Argentina de trem, que é mais barato e mais bonito. Como imprevistos são frequentes nessas viagens, é capaz de segunda feira eu ainda estar recém em Uruguaiana. Tomare que não.
Pretendo fazer igual a outra viagem, em Outubro, quando mantive um "diário de bordo" aqui. Só dessa vez farei de tudo para atualizá-lo diariamente, ou no mínimo a cada dois dias, e dessa vez com direito a mais fotos.
Então tá.
quinta-feira, janeiro 05, 2006
1º parágrafo do 1º capítulo
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Primeiro parágrafo do Primeiro capítulo
Os olhos para cima captam a transparência de uma gotícula que cai de uma pequena folha, acompanham-na em todo o seu trajeto até a chegada na madeira escura, clareando-a com a cor do céu que resplandece como quando o olhar percebe, por algumas frestas através da árvore, os raios de sol que teimam em não desaparecer, mesmo conscientes de sua inoperância diante do que a gotícula parece anunciar como inevitável; outra transparência minúscula parece tornar a madeira mais esbranquiçada, e outra, e mais outra, e agora são tantas que a cor original perde seu tom e cede sua existência a uma cor mais viva, clara, e com ela parece que também os olhos que captaram as gotículas cedem sua prioridade para o verde do chão, o cinza das pedrinhas que guiam os pés agora apressados em direção ao branco do concreto pintado que, juntamente com o marrom escuro das extremidades, formam o abrigo que afugenta os olhos da distância que parece ser infinita, oferecendo um descanso muito mais próximo, escuro, mas que logo se acende para adquirir um amarelo fosco que ilumina a chegada dos pés já mais calmos, serenos de sua firme acomodação próxima ao concreto quente e seco; o olhar não se contenta facilmente com a proximidade e liberta-se para o infinito, agora mais escuro, e lá fica quando inúmeras gotas transparentes surgem e dão o colorido que perdurará até o final do dia, e que só sairá satisfeito quando os raios de sol agora não mais teimarem em desaparecer e surjam orgulhosos, pois são as gotículas que tiveram de ceder seu espaço, oferecer uma trégua – breve, diga-se – para que os pés hoje mais calmos do homem voltem ao lugar de antes, terminar o trabalho que nem bem tinha começado: escrever uma carta.
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Primeiro parágrafo do Primeiro capítulo
Os olhos para cima captam a transparência de uma gotícula que cai de uma pequena folha, acompanham-na em todo o seu trajeto até a chegada na madeira escura, clareando-a com a cor do céu que resplandece como quando o olhar percebe, por algumas frestas através da árvore, os raios de sol que teimam em não desaparecer, mesmo conscientes de sua inoperância diante do que a gotícula parece anunciar como inevitável; outra transparência minúscula parece tornar a madeira mais esbranquiçada, e outra, e mais outra, e agora são tantas que a cor original perde seu tom e cede sua existência a uma cor mais viva, clara, e com ela parece que também os olhos que captaram as gotículas cedem sua prioridade para o verde do chão, o cinza das pedrinhas que guiam os pés agora apressados em direção ao branco do concreto pintado que, juntamente com o marrom escuro das extremidades, formam o abrigo que afugenta os olhos da distância que parece ser infinita, oferecendo um descanso muito mais próximo, escuro, mas que logo se acende para adquirir um amarelo fosco que ilumina a chegada dos pés já mais calmos, serenos de sua firme acomodação próxima ao concreto quente e seco; o olhar não se contenta facilmente com a proximidade e liberta-se para o infinito, agora mais escuro, e lá fica quando inúmeras gotas transparentes surgem e dão o colorido que perdurará até o final do dia, e que só sairá satisfeito quando os raios de sol agora não mais teimarem em desaparecer e surjam orgulhosos, pois são as gotículas que tiveram de ceder seu espaço, oferecer uma trégua – breve, diga-se – para que os pés hoje mais calmos do homem voltem ao lugar de antes, terminar o trabalho que nem bem tinha começado: escrever uma carta.
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terça-feira, janeiro 03, 2006
Onde encontrar a sabedoria?
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Diz uma escritura antiga, citada por Kerouac em Viajante Solitário: " A sabedoria só pode ser obtida sob o ponto de vista da solidão".
Não é difícil acreditar nisso; comunidade de sábios não existe, só o indivíduo pode meditar convenientemente, diz Harold Bloom, o grande crítico literário da atualidade. A meditação que , hipoteticamente, traz a sabedoria, sempre é solitária, por mais que o motivo dela possa vir a ser uma conversa com o outro - geralmente é assim mesmo que acontece.
Mas por mais que se ensine regras, se sugira caminhos para encontrá-la, a sabedoria não está em lugares pré-definidos, obtusos, pois a sugestão , vinda de outros, pode ter tido efeito para quem sugeriu mas não para quem ouviu a sugestão, pois, como foi dito, a sabedoria é particular, solitária, é uma porta que somente cada um descobre num caminho que até pode vir a ser o mesmo de muitos. Sugestões, no caso de onde encontrar a sabedoria, podem servir como atalhos, mas não sabemos se são até percorrer todo o atalho e achar a porta destinada a cada um.
Michel de Montaigne diz que o sábio é aquele que aprende a morrer, e aprender a morrer é ignorar a morte e vivê-la quando ela acontecer. Mas como não sabemos quando vamos morrer... talvez seja melhor se despreocupar com essa perspectiva.
A sabedoria provoca uma consciência que quase sempre traz o pessimismo.
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Diz uma escritura antiga, citada por Kerouac em Viajante Solitário: " A sabedoria só pode ser obtida sob o ponto de vista da solidão".
Não é difícil acreditar nisso; comunidade de sábios não existe, só o indivíduo pode meditar convenientemente, diz Harold Bloom, o grande crítico literário da atualidade. A meditação que , hipoteticamente, traz a sabedoria, sempre é solitária, por mais que o motivo dela possa vir a ser uma conversa com o outro - geralmente é assim mesmo que acontece.
Mas por mais que se ensine regras, se sugira caminhos para encontrá-la, a sabedoria não está em lugares pré-definidos, obtusos, pois a sugestão , vinda de outros, pode ter tido efeito para quem sugeriu mas não para quem ouviu a sugestão, pois, como foi dito, a sabedoria é particular, solitária, é uma porta que somente cada um descobre num caminho que até pode vir a ser o mesmo de muitos. Sugestões, no caso de onde encontrar a sabedoria, podem servir como atalhos, mas não sabemos se são até percorrer todo o atalho e achar a porta destinada a cada um.
Michel de Montaigne diz que o sábio é aquele que aprende a morrer, e aprender a morrer é ignorar a morte e vivê-la quando ela acontecer. Mas como não sabemos quando vamos morrer... talvez seja melhor se despreocupar com essa perspectiva.
A sabedoria provoca uma consciência que quase sempre traz o pessimismo.
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