.
Finalmente. Depois de quase dois dias de viagem. Mas vamos do comeco ( nao sei como sei usar acento nem cedilha nesse teclado em espanhol).
Saindo do calor "senegalesco" de Santa Maria, consegui uma carona depois do meio dia com um dos poucos caminhoneiros que passava no Domingo. Como ele ia para Santiago, me deixou no trevo de Sao Vicente. Chegando em Sao Vicente me dei conta de uma coisa: a bilheteria do trem em Libres parecia, nao tinha certeza, que fechava as 20:00. Na dúvida e na correria de nao conseguir pegar o trem, resolvi entrar no primeiro onibus que tinha para Uruguaiana, que por sorte era dalí a meia hora, 14:15.
No onibus, sem sono, fui conversar com uma paulista que estava no banco de trás, indo também para Uruguaiana. Ela havia saído sábado de Sao José do Rio Preto para fazer a matrícula em Veterinária segunda ,na PUC de Uruguaiana. Estava há um dia e pouco dentro do onibus e , incrível, conseguia manter o bom humor. "To achando tudo lindo" , era o que ela nao se cansava de repetir, com aquele sotaque bem típico do interiorrrr de Sao Paulo.
Em Sao Francisco de Assis, troca-se o onibus, trecho de estrada de chao até Manoel Viana. Onibus sem ar, num calor de 40 graus. Só com todas as janelas abertas para amenizar a sensacao desagradável, beirando a insuportavel. Depois de Manoel Viana, ganhamos a companhia na conversa de uma argentina estudante de direito na UFSM, muy gente boa, que me antecipou alguns "cuidados" a ter com as las chicas argentinas.
Chegamos em Libres pelas 19:00. Rachei um táxi de Libres (bem mais barato) com um castelhano que estava no Onibus, passei na alfandega e cheguei na estacao de trem pelas 20:00 e pouco. Para minha surpresa, eles só vendiam bilhetes meia hora antes do trem passar, sem qualquer garantia de lugar para sentar. Como o trem estava previsto para passar as 3 da madrugada, resolvi dar umas voltas por Libres, cidade extremamente pobre e com certeza um péssimo "cartao de visitas" da Argentina - a própria castelhana do onibus já havia dito também.
Atrasado, pelas 4 e pouco, chega o trem.
O trem social da Argentina
Há alguns dias atrás tinha visto uma reportagem sobre um trem dessa linha Posadas-B.Aires que descarrilou, antes de Libres. Na reportagem, ainda se falava do trem como o "trem social" da Argentina, por proporcionar uma viagem tao longa por tao baixo custo. Mas eu deveria ter descofiado mais dessa prometida "barbada" ( 26 pesos até Buenos Aires, sendo que de onibus custa mais do que o dobro disso).
Entrei no trem e comecei a procurar algum lugar no vagao de nome "Turista", o de tarifa mais barata, e vi cenas brabas, dignas de filme. O trem apreceia aqueles trens de refugiados, ou ainda aqueles que levam as pessoas para o campo de concentracao, entulhados de gente. Pessoas atiradas no chao, durmindo sentadas, no caminho, na pia dos lavabos, quase impossibilitando a passagem sem algum pisao . No lugar onde ficam os bancos, famílias com filhos pequenos, de colo, atiradas,6 pessoas em bancos de 4 lugares.
Sem lugar para sentar, me posicionei na entrada do trem, ao lado de um jovem pai e sua "hermosa" filha adolescentede de 13 anos.Até consegui trocar umas palavras com la chica,mas era muito difícil entender o espanhol dela, falado muito rápido e com um sotaque estranho .Detalhe: a porta de entrada passou a viagem inteira aberta, sem qualquer seguranca.Ao menos era uma boa vista e um refresco para o calor que fazia.
10:00, 9 pessoas se acotevelavam na entrada do trem, onde eu estava, em um espaco para umas 3 pessoas. Na pia, duas criancas dormiam,com sua mae logo abaixo,no chao,cuidando do filho de colo . Nos corredores, pessoas se acomodavam, e para piorar a situacao, estava muito quente, o trem andava devagar,o vento refrescante de antes se tornara agora um bafo,e o trem ainda parava uma hora sem qualquer motivo.Ninguém dava qualquer explicacao, nem mesmo conferiam os bilhetes, e o engracado é que ninguém reclamava, todos conformados, pois a viagem era assim mesmo,repetiam aqueles que viajavam com mais frequencia.
Eu, depois de umas 9 horas de pé naquela situacao nada boa, resolvi sentar, e logo que sentei já peguei no sono, sentado mesmo, com as pernas encolhidas para nao bater no velho senhor que estava na minha frente suando, mas com um sorriso no rosto. Dormi por alguns poucos minutos,20 eu acho, levantei, peguei um ar na porta de entrada do trem. E assim se seguiu a rotina até Buenos Aires, com mais gente entrando em cada estacao, alguns poucos saindo. No meio daquelas paisagens bucólicas do interior argentino - sempre plano, reta - tentava esquecer a situacao que estava e me concentrar em algo que pudesse ao menos amenizar o sofrimento que o calor,a fadiga,a fome provocavam.Uma situacao quase sub-humana de super lotacao.
Peguei um taxi até o hostel, tomei um banho e fui dormir, precisando mais do que nunca de uma boa cama.
E agora de manha chove em Buenos Aires enquanto escrevo, descansado, finalmente.
Ps: as fotos vem depois, apesar de serem poucas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário