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Primeiro parágrafo do Primeiro capítulo
Os olhos para cima captam a transparência de uma gotícula que cai de uma pequena folha, acompanham-na em todo o seu trajeto até a chegada na madeira escura, clareando-a com a cor do céu que resplandece como quando o olhar percebe, por algumas frestas através da árvore, os raios de sol que teimam em não desaparecer, mesmo conscientes de sua inoperância diante do que a gotícula parece anunciar como inevitável; outra transparência minúscula parece tornar a madeira mais esbranquiçada, e outra, e mais outra, e agora são tantas que a cor original perde seu tom e cede sua existência a uma cor mais viva, clara, e com ela parece que também os olhos que captaram as gotículas cedem sua prioridade para o verde do chão, o cinza das pedrinhas que guiam os pés agora apressados em direção ao branco do concreto pintado que, juntamente com o marrom escuro das extremidades, formam o abrigo que afugenta os olhos da distância que parece ser infinita, oferecendo um descanso muito mais próximo, escuro, mas que logo se acende para adquirir um amarelo fosco que ilumina a chegada dos pés já mais calmos, serenos de sua firme acomodação próxima ao concreto quente e seco; o olhar não se contenta facilmente com a proximidade e liberta-se para o infinito, agora mais escuro, e lá fica quando inúmeras gotas transparentes surgem e dão o colorido que perdurará até o final do dia, e que só sairá satisfeito quando os raios de sol agora não mais teimarem em desaparecer e surjam orgulhosos, pois são as gotículas que tiveram de ceder seu espaço, oferecer uma trégua – breve, diga-se – para que os pés hoje mais calmos do homem voltem ao lugar de antes, terminar o trabalho que nem bem tinha começado: escrever uma carta.
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