segunda-feira, dezembro 18, 2006

Campeão (2)

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Repetindo o post (e o nome do mesmo), mas não o título:

Campeão do Mundo!


Que coisa o futebol.

Um texto que eu fiz um tempo atrás, motivado por uma vitória dramática (mas não tão emocionante quanto essa) sobre o Boca Juniors, na Copa Sul-Americana. Hoje, a vitória é muito maior (não no placar, o mesmo 1x0, mas em importância), o título é muito mais grandioso, mas o sentimento que estava por trás (e para sempre estará, em todos os jogos do Inter ou talvez do Brasil) é o mesmo.

" Sempre é difícil para alguém que ama futebol entender o porquê de certas pessoas não gostarem de futebol. Também deve ser difícil - para os que não gostam – entender o porquê de tamanha paixão por uma coisa tão , digamos, prosaica .Mas digo que deve ser difícil, porque não sei; sou dos mais apaixonados amantes do futebol, dos que não entendem - mas respeitam, ao menos – como alguém pode não gostar de futebol. Paixão, amor, gosto, cada um tem o seu. Mas impossível não deixar um recado para os que não gostam: vocês não sabem o que estão perdendo!

O futebol, em sua magia que desperta as mais variadas formas de um único sentimento chamado paixão, não é o esporte mais popular do mundo por acaso. É especial, uma junção de pessoas desconhecidas entre si mas que, nesse mundo à parte feito por gente de coração forte, se torna unida umbilicalmente, tão suscetíveis a sentimentos fortes que quando são tocados em seu íntimo por um gol, explodem, gritam, pulam, saem de si em instantes que o tempo para e só volta a andar quando todo esse êxtase é diluído em doses homeopáticas de realidade extra-campo, de uma vida real que o futebol insiste em não querer fazer parte para poder, assim, fazer o que bem entender com a sua vida."


Que coisa o Futebol.

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segunda-feira, dezembro 11, 2006

Prefácios (2)

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O segundo da coleção.


"O que desejamos é trazer para um mundo fundamentalmente descontínuo toda a continuidade que ele pode sustentar"


De Até o dia em que o cão morreu, do gaúcho (de criação e coração) Daniel Galera .



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sábado, dezembro 02, 2006

Prefácios (1)

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Aqui começa (?) uma Coleção de Prefácios que acho bastante interessante.

O primeiro é de uma singeleza incrível, bem ao gosto do escritor uruguaio Eduardo Galeano:

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" As páginas deste livro são dedicadas àqueles meninos que uma vez, há anos, cruzaram comigo em Calella da Costa. Acabavam de jogar uma pelada, e cantavam:

Ganamos, perdimos,
igual nos divertimos"


Do livro Futebol ao sol e à sombra, do Eduardo Galeano.

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segunda-feira, novembro 20, 2006

Recortes

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Fotos de viagens recentes.
Imagens vistas através de uma longínqua janela que abriu-se e fechou rapidamente, captando tudo que conseguia.
Recentemente foi aberta de novo. Já não sabe onde está, se lá ou aqui, mas não vai fechar enquanto não souber.
Não tem pressa alguma; enquanto passa o tempo, deixa as imagens repousarem, tranquilas em sua indecisão.
Quando escolherem seu lugar, é só fechar, abrir de novo e esperar.



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quarta-feira, novembro 08, 2006

Influência

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Bueno, depois de muito tempo, aqui está o Subbacultcha em resquícios de se manter ativo, mesmo que quinzenalmente ou mensalmente ou seja lá qual outro mente em que a atualização venha acontecer. Se bem que não é atualização, é um post simplesmente, porque se ele nunca esteve desatualizado, porque teria que ser atualizado? O que é escrito aqui não tem mesmo prazo de validade - pelo menos para os outros´que não o que escreve aqui.

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Dia desses resolvi pensar alguns minutos sobre alguma coisa que a muito tempo pensava sem saber: as influências de todas as coisas sobre todas as nossas ações. Seja a leitura de um livro que modifica o texto na hora de escrever ou a audição de uma música que modifica o humor em determinado momento, chega a impressionar como nos colocamos em mudança quando fazemos qualquer uma dessas e outras ações espontâneas e quase insconscientes. É uma conversa num bar que traz um ângulo diferente sobre um assunto, e desse ângulo sai um pensamento que ganha força na explicação para outra pessoa, agora já na sala de aula, e que se solidifica ao ganhar mais argumentos de alguma leitura, e que, depois de consolidado por inteiro, modifica a percepção de certas coisas, e essa percepção produz outro pensamento, que bate de frente com outro tão forte numa mesa de bar e que, colidindo-se, abre-se mais facilmente para a entrada de outros pontos de vistas que se solidificarão na mente quando forem passados para um outro meio, e que se fecharão - por hora - para logo depois mudar a percepção de certas coisas antes mal vistas ou nem percebidas, e a através dessas coisas agora percebidas mostrarão um outro ponto de vista, para ficar só em argumentos, de um assunto que já se achava fechado, e abrindo-o, toda esse mundo novo descoberto agora correrá para fazer parte e guerrear por esse novo argumento que sairá das cinzas de um outro que se deu por fechado a bastante tempo atrás... E assim segue indefinidamente, sem prazo para acabar (ainda bem) e muito menos aviso prévio de qual dos assuntos já dado por fechado se abrirá para a nova percepção, sedenta de saber o que é aquela coisa tão retrógrada que ele pensava a bem pouco tempo atrás e achava que era um exagero de consciência para a idade (coitada da mente jovem que acha que está a frente do seu tempo)


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Uma questão que parece não ter prazo para ganhar uma resposta, assim como ninguém sabe se haverá alguém para dizer quando a resposta for encontrada, é a de até quando essa influência será o que diz a própria palavra, influência, para toda e qualquer ação e pensamento humano. Na minha ignorância atual, creio que a influência diminui com o passar do tempo, mas nunca cessa; depois de algumas boas doses de experiência, que tanto podem ser adquiridos em dois meses quanto em cinquenta anos, ela se torna uma porta aberta, controlada mas perigosa, pronta para dar o bote quando a guarda baixar e pedir perdão sem desejar. Na verdade, falar em "dar um bote" pode ser encarado como algo pejorativo e maligno, o que está longe de ser a influência da influência; ela é benéfica, auto-indulgente também, mas em doses certas.


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De modo que não há pessoa que não seja influenciada pelas coisas do meio em que vive, e também não há influência que não modifique um nesgo da nossa tão grandiosa percepção das coisas que habitam e fazem esse mundo cada vez mais incompreensível na medida que tentamos entender cada passo da longa caminhada ao fim.


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domingo, outubro 15, 2006

Back Home again

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Bueno, já se passou alguns dias, mas, novamente, de volta a casa. Desta vez, bem mais que nas outras, o baque do recomeço da rotina de viver somente numa mesma casa não foi muito grande, em grande parte devido à aprendizagem que as outras viagens trouxeram. O principal baque agora é outro, e nada tem a ver com viagem, mas sim que provavelmente essa foi a última viagem "de férias".

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Bom, aí vão outras fotos:



O Augusto, recém-acordado, olha Buenos Aires e sente falta do seu ursinho, coitado.






Buenos Aires Calling....








Desembarque






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"Ali jaz um corpo estendido no chão"








Bebendo, esperando a Milanesa com papas fritas - paga no cartão mágico, claro.






Almoço em "família", no hostel da Carla.


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No epicentro de Cordoba.







Cordoba, Quilmes, terraço, noite, três pessoas e muitas discussões probabilísticas.

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segunda-feira, outubro 09, 2006

Buena Onda

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Bueno, Cordoba. Segunda cidade maior da Argentina, junto com Rosário, uma mistura de Porto Alegre (pelo tamanho e tipo de ruas) com Santa Maria (pelo números de estudantes e mulheres bonitas). Cidade muito seca, os parques e o campus da Universidade Nacional de Córdoba (umadas mais velhas e importantes da América Latina) quase sem grama, como um deserto.



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Chegamos aqui de onibus, depois de uma viagem estranha e cansativa de Trem até Santa Fé, na provícia de Entre Rios, no centro da Argentina.









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Aqui, encontramos o Gustavo, nosso colega que faz intercâmbio na universidade daqui. Ele está muito bem instalado, cercado de gente legal e numa cidade pra lá de interessante, quase comparada a Buenos Aires em atrativos noturnos (seja los bares ou las chicas).







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No domingo, vimos o gran clássico do fútbol argentino, Boca x River, em um bardaqui de Cordoba. Bastante interessante, os hermanos cantam a toda hora, nao deixam de incentivar seus clubes. Deu 3x1 pro River, que tem uma torcida ligeiramente menor que a do Boca.








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Buena onda é uma gíria daqui que quer dizer, mais ou menos, "legal", "jóia", "massa".


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sexta-feira, outubro 06, 2006

Suerte

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Bueno, ainda em Buenos Aires, mas de saída. Andamos pela cidade, pelos bares, fazendo parte de várias situacoes surreais. Por exemplo, agora, estamos no hostel de uma colega de Santa Maria almoçando junto de mais outros brasileiros, escutando Los Hermanos e tomando mate.

Ontem, fomos ao show do Los Hermanos aqui em Buenos Aires. De graça ainda, porque a nossa amiga Constanza recém tinha entrevistado a banda para um programa de rádio na qual ela estagia, e conseguiu entrada para nós.

Bueno, nao to conseguindo escrever direito. Hoje vamos para Santa Fé, de trem, e sábado estamos em Córdoba.

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Tigre





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Descanso em Tigre, perto da foz dos rios Paraná e Uruguai.






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No caminho a Tigre, no trem.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Em outro lugar

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Bueno, cá estamos, em Buenos aires. Bem longe do "planejado", mas acontece.
Duas caronas até Livramento, e a direción teve que mudar para o Uruguai, por Montevideo. Algumas cervejas por lá, um onibus e um buquebus (uma balsa que mais parece um iate pequeno) depois, chegamos em Buenos Aires. Agora mais uns dias por aqui, mas a maioria das fotos por aqui vem depois.



* Por ser um teclado castelhano, algumas coisas saem diferentes, sem o cedilha.

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No onibus para Montevideo





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Em Montevideo, no "Pony Pisador"









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Na travessia Colonia - Buenos Aires, dentro do Buquebus, amanhecendo







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Aqui em Buenos Aires encontramos com a Coni, uma amiga nossa que mora por aqui. Na foto ela nos apresenta um meio que beco, daqueles lugares que só quem mora na cidade pode apresentar




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domingo, outubro 01, 2006

Viajar é preciso (2)

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Novamente, de novo, é preciso viajar (desculpa a redundância, mas aqui ela é necesssária). Mochila, plaquinha, físico e acima de tudo espírito preparado, é a hora de on the road again.

Não com a mesma vêemencia das outras vezes, mas vou tentar manter um diário de viagem, sempre na medida das possibilidades de encontrar internet acessível por aí.

Vamos em dois. O destino certo, por enquanto, é passar em Córdoba e Buenos Aires, duas cidades que temos colegas fazendo intercâmbio. O resto não se sabe ao certo, e é bom que seja assim.

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segunda-feira, setembro 18, 2006

Manifesto

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Três jovens da cidade de Santa Maria, RS, num dia sem muitas coisas para se fazer, resolveram caminhar em direção a antiga Gare da estação férrea da mesma cidade. Desde 1996, quando houve a privatização das linhas de trem e a consequente suspensão dos vagões de passageiros, a gare funciona apenas como um espaço de passagem de pessoas entre bairros. Houve tentativas de fazer do local um espaço cultural, mas as tentativas continuam até hoje. O parque ferroviário em que a gare se insere continua lá, desta vez servindo a empresa particular que comprou as linhas da região sul do país.

Pois bem. Neste dia, os três jovens sem afazeres momentâneos, decidiram ir até lá, observar a bela paisagem dos morros ao fundo e, logicamente, observar os movimentos dos trens que ali circulam sem uma periodicidade explicável. Ficaram algum tempo lá, até que resolveram chegar mais perto dos trens, para ver se conseguiam satisfazer sua enorme curiosidade de estar numa destas máquinas de alguns muitos e muitos anos de existência em movimento. Conseguiram dar uma breve volta pelo pátio, e só.

Esse dia acabou sendo considerado, tempos depois, como o marco inicial de uma idéia um tanto saudosista, outro tanto aventuresca: viajar de trem, de carona nos vagões de carga.





Alguns meses depois, já com algumas viagens por cidades da região no currículo, eles resolveram tornar aquela atividade, que beira a ilegalidade, em um passatempo regular. Descobriram que, realmente, o trem só aceita um passageiro legal: o maquinista. O restante das pessoas que se incorporam no trem não podem ali estar, apesar de também não quererem nada além de estar ali.

De algumas breves complicações com a segurança da empresa particular que adminsitra a linha à simpatia dos policiais foi um curto passo. Nada se pode fazer, dizia a polícia, que depois de recolher os jovens, levavam-os para a sua sede, ouviam suas histórias e, no fim, acabavam levando-os para um local onde pudessem continuar sua viagem, de trem.

Os jovens conheceram as dificuldades das viagens, mas quanto mais elas existiam, maior era o interesse deles em conhecê-las. Numa destas, descobriram que as pontes onde os trilhos passam são fechadas em cima por pequenas armações de concreto, espaçadas cerca de meio metro entre uma e outra. O local mais frequente de viagem, em cima dos vagões, ganhava um perigo novo: para passar essas pontes, só deitado - ou então a vida dos jovens poderia acabar ali.

Ao contrário de impedí-los, o perigo os motivou. Queriam saber mais sobre os vagões, para poderem escolher os melhores a se viajar. Acharam algumas informações, mas nada que os desse alguma certeza.

Depois de um tempo, viram que não precisavam descobrir mais nada. Afinal, talvez fosse a incerteza que os motivasse a estarem ali, erm cima de um trem, indo para algum lugar pouco conhecido e, por isso mesmo, muito admirado.

Para organizar seus anseios comuns, resolveram escrever um pequeno manifesto, o Manifesto dos Caroneiros de trem. É um embrião inicial de alguma coisa que não se sabe no que vai dar, ou mesmo se vai dar em alguma coisa. É uma incerteza, mas que já se adequou ao "mundo moderno (me tira logo deste inferno!)*" criando uma comunidade no orkut.

Bom, aí está o manifesto:


Por algum motivo que hoje só parece ser nostalgia de um tempo não vivido, nós gostamos de trem. Deles chegando numa pequena cidade, barulhentos e ao mesmo tempo discretíssimos em sua rotina que não pára nunca; deles apitando tragicamente anunciando sua partida lenta e que parece sempre estar atrasada; deles parados nos trilhos fazendo manobras incompreensíveis aos nossos olhos de fora da companhia que os administra. E desse fascínio por muitos incompreendido e por outros tantos perfeitamente aceitável é que, sem aviso muito prévio, decidimos viajar com eles. O problema é que são trens de carga os que vemos e admiramos, e trens de carga hoje só levam um passageiro, o maquinista.

Por esse pequeno detalhe, nossa viagem, para ser concretizada, tem de ter um embarque às escondidas, e muito provavelmente uma saída da mesma forma, para que não nos vejam e nos acusem de uma coisa ilegal como roubar o conteúdo que os misteriosos vagões carregam consigo. Não é, nunca foi e nunca vai ser essa a nossa intenção.

O que queremos, na verdade, é apenas curtir um vento na cara, viajar por campos ermos sem a barreira natural do asfalto ou das rodas, escutar a sinfonia trepidante dos encaixes de cada pequena parte dos trilhos, descarregarmos uma grande dose de adrenalina em todo o nosso corpo, e, acima de tudo, conhecer o significado pleno de uma palavra que hoje virou utopia de sonhadores ultrapassados: a liberdade.



Longe do rigor de um manifesto normal, esse é apenas uma compilação de anseios comuns, como já foi dito. Por trás dele, talvez, esteja um sentimento de querer compartilhar experiências e sensações, momentos e vivências que farão parte das lembranças de uma época em que se podia, sim, desejar a liberdade como um fim qualquer para alguma coisa.






*: Créditos a música ainda não lançada da banda Autoramas, Mundo Moderno.


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domingo, setembro 10, 2006

Canção

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Um trecho de "Song of myself", ou "Canção de mim mesmo", do grande poeta americano Walt Whitman, um dos inventores do verso livre na poesia. Falava dos Estados Unidos, mas de forma tão universal que é difícil alguém dizer que não é a sua terra que está sendo retratada - ou, então, a si mesmo de quem está se falando.


Eu celebro a mim mesmo, e canto a mim,
E o que assumo, tu assumes,
Pois todo átomo pertencente a mim também pertence a ti.

Vagueio e convido minha alma,
Me curvo e vagueio à vontade e observo uma haste de grama do estio.

Minha língua, todo átomo de meu sangue, formado deste solo, deste ar,
Nascido aqui de pais nascidos aqui de pais daqui, e seus pais também,
Eu, trinta e sete anos, em perfeita saúde inicio,
Esperando não cessar até a morte.

Credos e escolas suspensos,
Recuando um momento satisfeito com o que são, mas nunca esquecido,
Ancoro para o bem ou mal, permito falar sob todo risco,
Natureza sem controle com energia original.




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domingo, agosto 27, 2006

Freedom

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Entre Júlio de Castilhos e São Martinho da Serra, centro-norte do RS, voltando para Santa Maria no alto de um vagão de trem.

Cerca de meia hora depois de estar caminhando por Júlio de Castilhos, sem rumo, e escutar um apito de trem não muito próximo, mas o suficiente para fazer com que as pernas corressem como nunca e descessem um pequeno barranco aos tropeços.

Lá embaixo, com o trem passando em uma velocidade razoável logo a frente, a adrenalina de tentar acompanhar o trem na corrida e subir na escada de um vagão é maior do que qualquer medo, e na segunda tentativa, ela transforma-se até em uma emoção, inexplicável, de se estar a mercê da morte, mas mais perto ainda de se sentir livre como nunca outra vez antes na vida.



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quinta-feira, agosto 17, 2006

Campeão

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Jogo dos mais sofridos de todos, mas, enfim, o Inter é o Campeão da América.



AÊÊÊÊÊEÊÊÊ!



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quinta-feira, agosto 10, 2006

Conto

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Um trabalho de uma das disciplinas da faculdade (que é de Jornalismo) dava o início e o fim de um conto do Moacyr Scliar, e nós fazíamos o meio.

Maneira um pouco diferente daquela velha brincadeira, por sinal muito divertida, de continuar a história. Saía tanta bobagem sem qualquer nexo uma com as outras que parecia competição de quem criava a continuação mais absurda.

Mas como é um trabalho de faculdade, de um professor pra lá de metódico, há um pouco mais de seriedade. Mas só um poquinho.

Aí vai o resultado




MUITOS E MUITOS METROS ACIMA DO BEM E DO MAL



No fim da rua havia um terreno baldio, e no fundo deste, uma casa em ruínas, na qual Lúcia e eu costumávamos brincar. Todos diziam que a casa era mal-assombrada, que fantasmas eram vistos seguidos por ali. Mas Lúcia e eu não tínhamos medo. Não tínhamos medo de nada. Estávamos ambos com dez anos, idade em que as crianças costumam ter medos de fantasmas; mas nós, nós não tínhamos medo de nada – até que

uma tarde, daquelas que parecem não ter diferença para inúmeras outras, saímos da aula mais cedo e fomos para a casa em ruínas, Lúcia e eu. Era começo de inverno, dia cinzento, um dos primeiros dos inúmeros que seguiriam assim até o fim daquele inverno. Como tínhamos tempo, Lúcia sugeriu um outro caminho, que apenas ela conhecia: seguir até o início da malha ferroviária, que ficava há algumas quadras do terreno, e de lá seguir pelos trilhos até os fundos da casa.


Fomos caminhando pelos trilhos, quase correndo, na torcida silenciosa pela presença de um trem – que naquela época costumava passar diversas vezes ao dia, carregado da safra de grãos da serra. Quase não nos damos conta quando avistamos a casa, imponente e misteriosa lá embaixo do elevado onde ficavam os trilhos. Lúcia, sempre na frente, se jogou no primeiro caminho que avistou para descer. Resolvi esperar ela chegar lá embaixo, mas enquanto baixava os joelhos para pegar uma pedra fui surpreendido por um “ai!” vindo de um lugar não muito longe. Que se repetiu:

_ Ai!, ai!, Pedro, desce aqui.

Desci correndo, e por um pulo de puro instinto antes de um tronco caído não engrossei o coro do “ai!”. Lúcia estava no chão, com as mãos segurando o joelho direito, que jorrava um sanguesinho que não me pareceu nada de grave. Ainda assim, com mais cavalheirismo do que hoje em dia, resolvi acudir ela; juntei umas plantas por perto, limpei com elas o sangue, e levantei Lúcia, que certamente me debochando, logo saiu correndo e entrou pela cerca que dava diretamente na casa.


Lúcia e eu entramos na casa pela única parte que tinha teto, como sempre fazíamos. Sentamos numa espécie de banco formado por restos de concreto da cozinha, e de lá conseguíamos olhar, pela janela que não mais existia, os trilhos no alto do elevado. Lado a lado, as cabecinhas voando e se encontrando apenas em pensamento, sentíamos uma estranha sensação de perigo, até medo, e com ela é que silenciamos de repente e passamos a observar a vista através dos restos da janela.

_ Acho que vai passar um trem, disse Lúcia.
_ Ele sempre apita antes, acho. Ouviu algum?

Parei de falar, ou falei e nem escutei o que disse, tamanho o barulho que o trem fez ao apitar, um estrondo tão forte que Lúcia pulou, se aproximando perigosamente do meu colo. Quase saltei junto para evitar a situação, mas não precisou, porque ela própria sentiu o que aquele gesto poderia atrapalhar no futuro e se equilibrou novamente, com ajuda da perna do joelho machucado. O trem ainda apitava quando ouvimos outro estrondo, dessa vez abafado por um barulho que parecia ser de galhos quebrados.


_ Alguma coisa caiu do trem, disse eu.
_ Shhhhh!, acho que foi aqui do lado. Parece que alguém caiu do trem, disse Lúcia.

Terminou de falar e disparou em direção à frente da casa, que parecia ainda mais escura naquele dia cinzento. Coberta em parte por um teto destroçado e em outra pela sombra de uma enorme figueira nascida no pátio, aquele pedaço da casa era o principal motivo pelo qual chamavam o lugar de mal-assombrado. Dizia a lenda que depois que a casa foi abandonada, a figueira começou a se retorcer toda, destruindo o telhado ao mesmo tempo que, como aquelas árvores que se transformam em gente, foi tomando conta de toda a casa, se tornando uma espécie de guardiã dali.

Lúcia, e eu atrás, nos deslocamos para um canto que pareceu protegido, e ali ficamos. O barulho de galhos quebrando deu lugar a um outro, cada vez mais perto, de pegadas pesadas e rápidas circundando a casa, como se procurasse um lugar seguro para ficar. Perguntávamos se eram de homens aqueles passos fortes quando a janela em cima de nós escancarou para dentro, esclarecendo a nossa dúvida: um senhor gordo e aparentando idade avançada entrou e caiu exatamente meio metro da perna direita de Lúcia, que estava esticada. Apavorado como nunca antes, não lembro direito que aconteceu, mas a conseqüência foi que o velho estatelou-se no chão, caindo com o rosto e os braços virados para nós, como se nos abraçasse.

Lúcia soltou um grito tão forte que desmaiou. Verifiquei se o homem estava morto, e foi com um misto de pesar e alívio que retirei a mão do pescoço dele depois de quase um minuto: estava. Observei a cena dos dois deitados quase que abraçados, e num daqueles minutos que duram muito mais do que um minuto, caminhei pelas ruínas da casa serenamente, olhando para cada canto com uma curiosidade que nunca mais tive na vida, tamanho parecia o tempo que eu deixava meus olhos repousarem no concreto demolido. Conheci a sala, dois dos quartos, até o banheiro, que ainda tinha um vaso apto para o serviço. Quando voltei à parte da frente, Lúcia acordava. Um pouco atordoada, ela levantou, olhou novamente para o velho, agora não parecendo mais tão apavorada:

_ Vamos embora daqui, antes que ele levante.
_ Ele está morto, não vai levantar, eu disse.

Corremos do terreno até chegar na rua. Desta vez seguindo o caminho tradicional, só falamos quando chegamos na frente da casa de Lúcia.

_ Ele tinha um rosto estranho, mas não me parecia mal. Pelo menos não do jeito que a gente imagina uma pessoa má, disse Lúcia.
_ Também achei isso. Será que não devemos avisar alguém do corpo?


Lúcia firmemente disse que não, que alguém acharia o corpo e era melhor ninguém saber da nossa passagem por ali. E que a gente deveria esquecer o assunto, para sempre. Apesar do peso na consciência, não quis discordar, ainda mais quando ela me deu um beijo de despedida, o primeiro de inúmeros outros que se seguiriam tempos depois, quando namoraríamos.


No terreno baldio construíram, muitos anos depois, um enorme edifício de apartamentos. Ali fomos morar, Lúcia e eu, quando nos casamos. Temos dois filhos, um casal. Somos muito infelizes. Às vezes Lúcia diz que isso é porque vivemos sobre os ossos do pobre velho. Não acredito. Afinal, são doze andares, e nós moramos na cobertura. Muitos e muitos metros acima do bem e do mal.



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quinta-feira, agosto 03, 2006

Bem e mal

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Depois de ler o Lavoura Arcaica, obra-prima de Raduan Nassar, e ver o filme, obra-prima de Luis Fernando de Carvalho, fui procurar algum artigo sobre o assunto.

Achei um que diz uma coisa interessante:


Em uma obra de arte, pode-se ter "ambigüidade" nos meios, nunca no início, muito menos no fim. Um homem que se propõe a mexer com as palavras deve ter bem claro qual é o seu lado.

Como dizia Nick Cave:

"A maior destruição é feita por aqueles que não conseguem escolher entre o Bem e o Mal".



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quinta-feira, julho 27, 2006

Idéias

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Poderia existir um ranking de níveis de habilidade para escrever e ter idéias, ou melhor, que medisse a capacidade de juntar as duas.

O primeiro nível além do básico de conhecer as regras ortográficas para saber escrever é o ter idéias para expressar. Elas vem confusas, e geralmente são expressas de forma desordenadas, sem muito cuidado na escolha das palavras mais adequadas. Normalmente chamam de "escrita automática", mas um automática por não ter outra opção, já que existe o automática por opção, que é de outro nível, mais avançado.

O segundo nível é quando o vocabulário iguala-se as idéias. Houve alguma leitura para que isso pudesse acontecer, mas ainda há certa dificuldade em escrever coisas descomplicadas. A escrita já não é tão automática, mas ainda não existe a percepção de que esse tipo de escrita é típica do primeiro nível - se houvesse, o estilo seria imediatamente abandonado.

O terceiro nível inicia pelo novo avanço das idéias, que voltam a ficar à frente das palavras. Pensando em inovar, já se procura ler algumas coisas "complexas", narrativas modernistas que fogem do banal e levam as idéias para passear longe. Quando voltam, elas ficam atordoadas, pois não sabem ser expressadas como deveriam. É uma fase rápida: no momento em que as idéias estão presas, não tem outra saída que não ler mais, e aí avança-se um nível.

O quarto nível é marcado pelo novo nivelamento das idéias com as palavras. Surge através de leituras de livros considerados "simples", mas, só agora isso é percebido, a simplicidade é muito mais complexa e difícil de atingir. As idéias conseguem ser domadas, embora com dificuldades. A "escrita automática" é coisa do passado; as "sacadas legais" são cada vez menos frequentes.

O quinto nível eu não sei.

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segunda-feira, julho 24, 2006

No more

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Com o outro blog a pleno vapor esse aqui ficou um pouco esquecido, coitado. Mas é que o o outro é jornalismo, esse é um pouco de tudo, e nesses últimos tempos, só tenho feito jornalismo, não um pouco de tudo.

Como sei que é apenas uma fase, manterei esse com uma atualização periódica, não tanto quanto antes, mas talvez uma vez por semana.


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domingo, julho 16, 2006

Descrição

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Exercício de tentativa de descrever músicas do "The Piper at gates of Dawn", primeiro álbum do Pink Floyd. Ácido puro, o álbum.

Astronomy Domine - Imagine uma nave voando pelo espaço. Devagar, ela se aproxima da terra, e começa a sobrevoá-la rapidamente. Então, o seu comandante aparece numa espécie de sacada, dentro da nave, para fazer seu pronunciamento aos terráqueos. O teor das palavras é de sabedoria, mas o tom parece ser de repúdio a raça humana. Por fim, ninguém entende o que acontece e a nave sai da Terra para continuar sua viagem rumo ao desconhecido.

Lúcifer Sam - Deitado na sala de sua casa na beira da praia, fumando o nono baseado seguido, o cara está sozinho. De repente, vê (ou acha que vê) um gatinho siâmes pular pela sala, lépido e curioso. O cara tenta acompanhá-lo, pegar o tal gatinho no colo, mas não consegue. Por fim, desiste. Dias depois, sonha com o gatinho; mais dias depois, vê novamente ele circulando pela sala; mais dias, mais visões, e ele resolve deixar de compreender que diabos o gatinho tanto faz em sua casa. Trecho da letra:

Lucifer Sam, Siam cat.
Always sitting by your side,
always by your side.
That cat's something I can't explain


The Scarecrow - O filho pequeno pede para seu pai contar uma história. O pai parece estar meio alterado psicologicamente, e em vez de contar uma historinha boba para o filho dormir, resolve contar a história de um espantalho. Começa, o filho fica com medo, mas acaba por cair no sono, cansado. O pai continua, cada vez mais alterado, até se dar conta de que ele era o espantalho da história. Vai para o seu quarto, não consegue dormir.

Letra:
The black and green scarecrow,
as everyone knows,
stood with a bird on his hat
and straw everywhere.
He didn't care....
He stood in a field where barley grows.
His head did no thinking, his arms didn't move,
except when the wind cut up rough
and mice ran around on the ground.
He stood in a field where barley grows.
The black and green scarecrow is sadder than me,
but now he's resigned to his fate
'cause life's not unkind.
He doesn't mind.
He stood in a field where barley grows


Matilda Mother - Um conto medieval escrito por um prisioneiro, considerado mentalmente instável e perturbado, em sua cela no auto da torre, contado para diversos ratos, também presentes na cela.


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sábado, julho 08, 2006

Dia

"Permanecia uma hora inteira mergulhado dentro da banheira, escutando música, até a água ficar fria. E especialmente ali, dentro da água, eu me sentia cansado. Velho, em certo sentido. No sentido de que era tarde demais pra morrer jovem."

Daniel Galera, Até o dia em que o cão morreu

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domingo, julho 02, 2006

Abstração

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Conhecer a si mesmo profundamente permite certas extravagãncias de pensamento, do tipo que se rodeia, rodeia, e se chega a um lugar que, por ainda não ter sido explorado, vibra como nunca quando se sente descoberto.

O caminho para esses lugares é um mistério, daqueles que só se revela quando uma leve pontinha finalmente aparece no fim da estrada - então, não é mais possível voltar, e o mistério deixa de ser um.

Uma das formas de forçar o aparecimento das pontinhas, ou chaves, é guardar a lembrança de como foi possível chegar lá em uma outra vez. Não é difícil, mas requer paciência, não admitindo preguiça nem ansiedade.

Uma música, por exemplo. Primeiramente, ela acalma. Sente-se isso. Desacelerando, outras coisas são vistas, e em cada uma delas um caminho é apresentado. Escolhe-se um, e indo adiante, sem interrupções, chega-se ao lugar ainda não descoberto.

Lá, a permanência não é muito longa. Não se consegue, principalmente por que requer concentração e abstração das coisas urgentes. Mas, quando fica-se mais tempo que o normal, outros caminhos aparecem, também pedindo para serem descobertos.

Se permanece a busca, outros estímulos são apresentados para facilitar a continuidade na estrada. Nesse estágio, a abstração já é quase absoluta - e é assim mesmo que se faz necessário.

Acontece que alguém bate na porta, interrompendo. Não interessa quem seja, a função é a mesma: policiar o pensamento. Extravagâncias não são bem-vindas em qualquer lugar.

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terça-feira, junho 27, 2006

Imagina

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"Mais que faculdade, eu diria quer imaginação é virtude. Na origem de todo ato cruel, não há uma pobreza de imaginação que impede a menor corridinha simpática, a mudança, sequer momentânea, para a situação do próximo? O egoísmo provém de idêntico defeito. Com visão clara de nossa futilidade, poríamos tanto empenho em nos promover e em nos homenagear?"


Adolfo Bioy Casares


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sábado, junho 24, 2006

Sonhos (1)

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Da noite de quarta para quinta-feira, dia 3 de fevereiro de 2005, no meu quarto, em Santa Maria:


" Estava em um sala no estilo Harry Potter, no colégio onde estudei no Ensino Médio. Havia chegado atrasado, e me sentei no canto esquerdo, como sempre fazia. A aula era de matemática, e o professor era um argentino típico, com mullets grandes no melhor estilo Chitãozinho & Xororó. Era jovem, ensinava algo sobre conjuntos numéricos. Como estava sem o polígrafo, resolvi pedir um para ele, e para isso, tentei soltar algumas palavras em espanhol, mas o que saiu foi um portunhol enfadonho. O professor, que estava escrevendo no quadro negro, se virou para a sala, olhou para mim, mas não falou nada. Chamei de novo, ele me olhou novamente, mas pareceu não entender, por mais que eu estivesse falando alto. Irritado, resolvi copiar o que ele passava, e para isso retirei uma folha do fim do caderno, logo antes das riscadas que serviam para testar as tintas das canetas, normalmente Bics.

Ele passava um problema, que pediu para a classe resolver. Sentou em sua classe, enquanto eu levantei e fui em sua direção pedir o polígrafo. Ele novamente não entendeu o que eu dizia, ou fez que não entendeu, porque agora, ao menos, me deu umas folhas brancas, limpas. Fui me sentar.

Enquanto toda a classe resolvia o problema, o professor castelhano ligou um aparelho de som, que sabe se lá de onde surgiu, e colocou um CD que tocava uma única música, agitada, uma mistura de tecno com rock. Na terceira vez que escutava a música, e sem conseguir resolver o problema, comecei a batucar na classe, acompanhando o ritmo da bateria, que parecia cada vez mais rápida. Quando ele me viu, desligou o som. Segundos depois, surgiu o diretor do colégio com uma toga das de formatura de faculdade na cabeça.

A classe, que já estava quieta, calou-se ainda mais, e o barulho das botas gigantes do diretor foi escutado por todos como um prenúncio de que algo ia desabar em cima da sala. Em frente aos alunos, exatamente no meio da sala, ele começou a discursar solene, como em uma formatura, contando as dificuldades que o colégio estava vivendo, e que a melhor coisa que nós, alunos, deveríamos fazer para acabar com a crise era estudar, e bastante. Repetiu diversas vezes: Estudar, estudar, estudar. Na última repetição, virou-se para o professor castelhano, falou algo incompreensível, e saiu da sala.

Quando a porta já tinha fechado, ouviu-se no corredor um barulho de espada - ou um florete - sendo tirada de uma bainha, e no momento que os alunos se viraram para ver, o castelhano apareceu junto ao diretor, e os dois começaram um duelo de espadas. Como nos filmes de capa e espada, a disputa era equilibrada e barulhenta, com as espadas se batendo e soltando faíscas; mais habilidoso, e ainda com o chapéu na cabeça, o diretor parecia estar ganhando a disputa.

Saíram do corredor, entraram em uma outra sala. O castelhano foi atirado às classes vazias, mas logo se levantou e, num belo golpe de direita, derrubou o diretor, que caiu no corredor, ferido e sangrando. Quase delirando, ele começou a dizer coisas incompreensíveis sobre o seu filho, que estava na Inglaterra estudando fazia 3 meses.

A turma espiava pela janela da sala, e alguns dos meus colegas no fundo da classe começaram a fazer apostas: 4 por 1 no castelhano, dizia um mais gordo, 2 por 2 (?) no diretor, dizia o agitador sentado ao meu lado. Nenhum dos presentes na sala tinha expressão facial; o rosto era como uma borracha branca, sem boca, nariz, olhos, só cabelo.

Neste momento, eu resolvi entrar na luta, mas acordei
".

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sexta-feira, junho 23, 2006

Sonhos

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Inspirado no Kerouac, vou escrever aqui alguns sonhos que tive.
Antes disso, e para começar "solene" , uma parte do prefácio do "Livro dos sonhos", do Kerouac.



" O fato de sonharmos todas as noites é um vínculo que liga toda a humanidade, numa união, digamos, tácita, que também comprova a natureza trasncendental do Universo, coisa em que os comunistas não acreditam, pois consideram os sonhos "irrealidades", e não visões que efetivamente tiveram.
Por isso dedico este livro de sonhos às rosas do porvir."



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segunda-feira, junho 19, 2006

Macca

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Paul Mc Cartney é uma figura interessante. A grande maioria dos fãs mais fervorosos dos Beatles escolhe ele como o beatle mais odiado, já que era o mais "comercial" da banda, aquele que melhor sabia aparecer para a mídia e para os fãs. O que ocorria é que, muitas vezes, para estes fãs Paul exagerava; sempre o bom moço, o brincalhão, o diplomata, o que nunca parecia sair da linha. E é sabido que para o rock'roll, sair da linha é necessário.

Só que, apesar de toda essa postura correta e até chata por vezes, estava o principal músico da banda, a mente criadora. Se John Lennon era o espírito, Ringo era o ritmo e George o talentoso solitário, Paul era aquele que criava, o marco zero do processo de composição - que logo depois ganhava os contornos de cada um. Talvez fosse ele a figura mais importante da banda, sem a qual não haveria o estalo inicial extraordinário que fez os Beatles serem os Beatles, ainda hoje a banda a ser batida no mundo da música.

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Tudo isso para dizer que o novo CD do Macca, Chaos and creation in the Backyard, é de uma beleza estarrecedora e , de certa maneira, surpreendente. Algo como um líquido milagroso que não parecia mais possível ser extraído,de tanto que foi usado, da velha fonte McCartney.
Passados quase 40(!) anos do fim dos Beatles, a grande voz continua lá, límpida e potente. A maturidade, vilã de muitos da idade de Paul, melhorou ainda mais o excelente músico que ele sempre foi (toca todos os instrumentos no álbum), e trouxe de bônus uma habilidade preciosa de escrever ainda mais letras simples e profundas, que em um utópico Manual para Fazer a Música Perfeita (escrito por ele, claro) deveria ser a primeira e indispensável lição.
O mais incrível de tudo é que Paul, no auge dos seus 64 anos, assim como no tempo dos Beatles, ainda seja aquele cara que mais consegue chegar próximo da dita "música perfeita" produzida.
Um dos poucos neste mundo que falar "Esse cara é foda" nunca vai ser suficiente.

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sexta-feira, junho 16, 2006

Nação

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Uma citação do cronista brasileiro Paulo Mendes Campos, lida recentemente em uma crônica, que resume todo o pensamento e quiçá o comportamento do brasileiro:

Adio, logo existo

Chega a ser impressionante como essa frase serve como máxima, mesmo que não percebida, para todas as situações, da mais banal a mais complicada.
O último instante é O instante.
Nada antes, nem durante; tudo só na pequena faixa, imaginária, que separa o durante do depois.
Parece que o Brasil é uma nação de Bartlebys, do famoso livro homônimo do Herman Mellvile, que para tudo que fosse ordem proferia a famosa frase

"Prefiro não fazer".

O "adio, logo existo" é um irmão mais rebelde do "prefiro não fazer", que leva tudo até as últimas consequências e só se dá por satisfeito quando sua teimosia não consegue burlar a rigidez das leis que dizem quando não mais é possível adiar.

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terça-feira, junho 13, 2006

Abjurar

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Estranha sensação essa de necessitar caminhar pelas ruas da cidade, de preferência as mais movimentadas, sem qualquer rumo definido, e a cada esquina do caminho que não se sabe parar para pensar "onde ir" sem nem mesmo saber porque não seguiu o caminho que lhe parecia o mais conveniente, e quando chegar na praça lembrar que há um lugar, sim, que sempre pode abrigar os que não tem rumo, mas no caminho para esse lugar lembrar que existem outras coisas esquecidas para fazer, e a pausa para resolver esses pequenos relapsos de memória ser muito mais rápida e fácil do que talvez se imaginasse, e que também nesses lugares outros encargos, nem tão importantes, são lembrados e logo esquecidos, pois o intuito da caminhada era não ter rumo nem nada certo, não?
Finalmente se chega ao lugar dos que não tem rumo, com alguns poucos que lá se encontram fazendo exatamente a mesma coisa que se estava quando se saiu de casa: abjurar-se da rotina diariamente repetida.

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sexta-feira, junho 09, 2006

Futebol

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Foto tirada em Montevideo, numa tarde de sábado, num jogo de escolinhas locais por algum bairro da orla de Pocitos. Pais em volta do campo gritando e incentivando os seus filhos, os reservas bem sentados no trecho da grama que servia de banco, mães e irmãos dos jogadores mirins na torcida - um pouco mais calados que os pais, mas ainda assim soltando alguns gritos de incentivo e reprovação - e todos estes, menos os jogadores, os técnicos e os reservas, tomando o seu mate quente.

quarta-feira, junho 07, 2006

Trans

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" Era a visão de uma vida extrapolando a introspecção dos exercícios solitários, uma aventura pela qual vinha se preparando havia tantos anos, enfim uma direção concreta para toda aquela expectativa sem objetivo que o acompanhava desde um ponto indefinido da infância, um desdobramento para o desejo de agredir e ser agredido pelo mundo".

Daniel Galera, Mãos de Cavalo, pág. 122, cap. A festa de quinze da Isabela

Trecho que descreve muito bem essa sensação que parece existir em todo mundo que está entre os 18 aos 20 e poucos anos.


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segunda-feira, junho 05, 2006

Infância

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Engraçado como a infância, vista com os viciados e talvez experientes olhos da vida adulta, parece ser um momento crucial da formação do caráter de uma pessoa, do seu "estilo" e modo de pensar dalí pra frente. Há uma impressão de que tudo que não é vivido de maneira que "é pra ser" - no mais estrito e primeiro significado da palavra normal- vai acarretar em graves consequências na maneira de agir e no modo de pensar do já formado adulto, e que um simples trauma vivido na infância vai reverberar em alguma consequência grave no futuro da vida adulta, seja em algum tipo de comportamento anti-social ou social demais, mas acima de tudo um distúrbio, algo que não era pra acontecer.

O enfrentamento do problema anos depois de ele ter sido criado parece que se torna necessário para afagar as feridas abertas na infância, talvez até indispensável no sentido de "curar" aquilo que não devia de acontecer. Isso quando há o que ser curado, pois pode acontecer do trauma ter forçado a busca por uma alternativa de comportamento, e esse novo tipo superar aquilo o dito normal que o trauma tratou de fazer não funcionar, e neste caso, talvez, não dá porque se confrontar a situação vivida na infância.



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O melhor de tudo é que as crianças, quando tais, nunca sabem dessa importância de estarem vivendo um período cruciais em suas vidas, pois se soubessem, e as vezes há alguns pais que o sabem por elas, tudo seria uma grande e monótona vida mecanizada, daquelas que logo quando se nasce já se tem certeza da data que se vai morrer.


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sexta-feira, junho 02, 2006

F

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I'm free to do what I want any old time
I'm free to do what I want any old time
So love me, hold me, love me, hold me
I'm free any old time to get what I want



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segunda-feira, maio 29, 2006

Jogo

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Jogo de pensar:



Analise a frase abaixo e destriche ela em um maior número possíveis de imagens, de preferência apenas mentais:


Saudade não serve de porém para um não já esquecido.




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sábado, maio 27, 2006

Aos poucos

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Aos poucos,
bem aos poucos
se volta.
Semana que vem mais
A partir de quarta feira
ô bosta.


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sábado, maio 20, 2006

Kidding

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Na hora de acordar, preferiu continuar onde estava, imóvel, paralisado com a sensação de que não deveria se levantar por hipótese alguma, e que não deveria sentir-se culpado por não querer se mexer, já que é assim mesmo que acontece depois de ter sentido tanta benevolência pela cama.

Mas tudo é devidamente explicado por uma berrante sensação que um berbere beócio trouxe consigo quando usou o benjoim para curar a insônia que uma caída no betume causou.

Depois, estranhamente, nem com eletroencefalograma foi percebido onde tinha sido afetado, muito menos com a elegia que fez sobre a sensação e que ficou guardada do lado da cama, dentro da gaveta do bidê, com manchas de vela dificultando a leitura.
Ele estava tão elanguescido que a letra do papel onde estava escrito a elegia parecia ter sido feito por uma pessoa que havia passado antes por um eletrizador magnético.




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quinta-feira, maio 18, 2006

Coleção(1)

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Coleção de metáforas

O "Cortazarianas Beatniks" está de férias, mas o "Coleção" o substituirá até a sua volta, podendo também os dois continuarem concomitantes depois, o que, parece, é o mais provável de acontecer.


Do "Mãos de Cavalo", livro do Daniel Galera, extraído precisamente da fala da Adri enquanto seu marido, o cirurgião escalador, faz abdominais do lado da cama e ela, deitada, lê o livro Terroristas do Milênio, de J.G. Ballard - livro esse que eu só fiquei sabendo olhando o "Mãos de Cavalo" e , na penúltima página, lendo a seção intitulada "Gratidão e Crédito":

"Minha vida é como uma dança de cadeiras, só que ao contrário. Cada vez que pára a música botam mais cadeiras".



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Volta

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Com tudo voltando ao "normal", é a hora certa do blog também voltar.


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segunda-feira, maio 15, 2006

Ainda

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Com a devida carga horária definida para, pelo menos, até daqui a uns três meses, o planejamento (que nesse caso é preciso e benéfico) vai possibilitar a volta da postagem mais regular. Aquela história: quanto mais tempo ocupado, mais tempo útil e disponível para escrever.

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sexta-feira, maio 12, 2006

fim?

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O blog tá devendo mesmo.
Só devaneios passageiros são colocados.
Mas enfim
Alguma coisa mudará, cedo. Ou então será o fim.

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Quem

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Ô duvida cruel de a cada dia querer ter a certeza de que todo dia se dormirá com a certeza do dever cumprido (de ser amado).

Quem não se cansa de joguinhos de extravasar?

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sexta-feira, maio 05, 2006

Putrefação

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Putrefação de idéias

Experimente:
Fique uma semana sem ler uma ficção, ver um filme, escutar uma música (que tenha uma letra decente), conversar por mais de hora com alguém, fazer uma dita "loucura" ,etc, e tente escrever sobre alguma coisa que não seja a bobagem do dia-a-dia.

Provável:
Que a cabeça fique tão extasiada de ter de pensar somente no trivial, nada mais que a mediocridade necessária para a sobrevivência automática, que as idéias originais, vinda do "clipping" da realidade observada, vão começar a apodrecer até enfraquecerem por completo, e, como não-destino final, elas não mais existirão.

Consequência:
O trivial vai virar a regra e a máxima de sempre. A originalidade, que já não é lá muito original antes de alguns muitos anos vividos, vai ficar trancada sem chave em alguma porta do cérebro.

Finalmente:
A putrefação cerebral será completa, e voltaremos ao patamar zero, aquele que é feito a partir da média de todas as pessoas: a mediocridade.

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sexta-feira, abril 28, 2006

Blog devendo

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O blog está devendo.
(nem que seja para mim mesmo)

Há muito tempo que não sai nada que venha de bastante tempo de reflexão, seja ela consciente ou daquelas que não se percebe, mas que há tempos está ali dentro, pronta para sair, esperando uma fagulha para se alastrar.

Como o trabalho costuma ocupar tempo demais, os momentos livres de afazeres são aplicados na "recuperação" da mente cansada através de conversas, caminhadas pela noite e outras cosas não explicitadas aqui, mas compreensíveis por todos. E quando se trabalha justamente com a mesma tarefa que é a matéria prima do que aqui é mostrado - escrever, em grau menor de reflexão mas não de horas trabalhadas - fica mais difícil ocupar o tempo restante com a escrita. É preciso uma desintoxicação, um olhar para o horizonte, uma reabastecida nas experiências em busca de um clareamento na mente, necessário para a organização das idéias em forma de textos.

Por esse motivo, algumas coisas aqui estão sendo publicadas vem de outras pessoas, pois, logicamente, é mais fácil achar uma reflexão ou um texto interessante do que escrever um ou pensar numa. Mas nem por isso haverá de se ter menos critério na hora da escolha; demanda menos tempo, é um trabalho menos árduo, mas ainda assim não fácil.

Enquanto não se estiver acostumado com o trabalho e a organização das idéias de forma coerente e publicável, a linha se manterá. Quando aparecer momentos livres seguidos, que permitam a desintoxicação e a posterior reflexão de forma rápida e eficiente, o blog voltará a atividade "normal" (se é que dá para se chamar assim).

Eventualmente, quando o trabalho for de fácil adaptação para aqui ser publicado, assim será feito, e assim já foi feito algumas vezes.

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quarta-feira, abril 26, 2006

Vivência

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"Sempre se diz que por trás de todo romance há uma seqüência de vida ou realidade do autor, por mais pálida ou tênue e intermitente que seja, ou ainda que esteja transfigurada. Diz-se isso como se se desconfiasse da imaginação e da inventiva, também como se o leitor ou os críticos necessitassem de um gancho para não serem vítimas de uma estranha vertigem, a vertigem do absolutamente inventado ou sem experiência nem fundamento, e não quisessem sentir o horror ao que parece existir enquanto lemos - às vezes respira, sussurra e até persuade - mas que nunca foi, ou o extremo ridículo de levar a sério o que é apenas uma fantasia, luta-se contra a consciência dissimulada de que ler romances é coisa pueril, ou pelo menos imprópria à vida adulta que sempre vai aumentando."

Javier Marías, Negro Dorso do Tempo.

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sábado, abril 22, 2006

Causo de amor

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Nos antigamentes, dom Verídico semeou casas e gentes em volta do botequim El Resorte, para que o botequim não se sentisse sozinho. Este causo aconteceu, dizem por aí, no povoado por ele nascido.
E dizem por aí que ali havia um tesouro, escondido, na casa de um velhinho todo mequetrefi.

Uma vez por mês, o velhinho, que estava nas últimas, se levantava da cama e ia receber a pensão. Aproveitando a ausência, alguns ladrões, vindos de Montevideo, invadiram a casa.
Os ladrões buscaram e buscaram o tesouro em cada canto. A única coisa que encontraram foi um baú de madeira, coberto de trapos, num canto do porão. O tremendo cadeado que o defendia resistiu, invicto, ao ataque das gazuas.
E assim, levaram o baú. Quando finalmente conseguiram abrí-lo, já longe dali, descobriram que o baú estava cheio de cartas. Eram as cartas de amor que o velhinho tinha recebido ao longo de sua vida.
Os ladrões iam queimar as cartas. Discutiram. Finalmete, decidiram devolvê-las. Uma por uma. Uma por semana.

Desde então, ao meio dia de cada segunda-feira, o velhinho se sentava no alto da colina. E lá esperava que aparecesse o carteiro no caminho. Mal via o cavalo, gordo de alforjes, entre as árvores, o velhinho desandava a correr. O carteiro, que já sabia, trazia sua carta nas mãos.
E até São Pedro escutava as batidas daquele coração enlouquecido de alegria por receber palavras de mulher.



- O livro dos abraços, Eduardo Galeano -

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quinta-feira, abril 20, 2006

De arrepiar

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Tarde da noite, ou melhor, cedo da madrugada. Chove, é feriado. Quase todos os lugares que normalmente abrem estão fechados. Mas o sono não vem. A conversa é por MSN, impessoal e suspeita. Tensão sexual via internet não é tão grande quanto pessoalmente, mas ainda assim passível de ações quase desesperadas da parte mais fraca. A outra parte, mais sabedora do que realmente quer, está melancolicamente feliz, e não sabe porquê. Mas nem quer saber. Acaba de escutar uma música estranha, lenta, puxada por um belo vocal grave mas em falsete no refrão:


_ De arrepiar. Tens que escutar
_ Hmn, não quero me arrepiar por causa de música
_ Hmnn
_ Mas manda aí, fiquei curioso
_ Perae
_ Vai demorar, tu poderia me antecipar o motivo do arrepio?
_ Me arrepio com música boa
_ Só por isso?
_ Agora que vi a letra, me arrepiei de novo
_ Hmn, tá com frio?
_ Não, é a música mesmo
_ Hmn, to curioso
_ Escuta primeiro, depois olha a letra
_ Ok

...

_ Deu
_ Legal
_ Legal??
_ Muito legal. De arrepiar mesmo, que coisa
_ Aquele inicinho...
_ Aham. Mas o refrão também
_ Pegou a letra?
_ Ainda não
_ Pega

...

_ Putz
_ Quê?
_ Muito bom. Me arrepiei de novo
_ Só de ler?
_ Aham
_ Não tá com frio?
_ Não
_ ...
_ Dava pra resumir a vida nela
_ Na música?
_ É. Tem uns versos ali...
_ Quais?

Here we are in our car driving down the street
We’re looking for a place to stop have a bite to eat
We hunger for a bit of faith to replace the fear
We water like a dead bouquet does no good does it dear


_ É, realmente
_ Eu resumiria minha vida à isso.

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segunda-feira, abril 17, 2006

Cortázar, poetas

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Os poetas, por exemplo, estão felizes da vida com os seus poemas, embora se considere elegante supor o contrário. Os poetas sabem muito bem que só a obra pode realizá-los e gostam de saboreá-la. Não acredite nessa história de poemas escritos com lágrimas. São lágrimas recriadas, como a dos atores; as verdadeiras, a base de cloreto de sódio, choramos para nós mesmos.

Lembra do que disse Santo Agostinho quando morreu um amigo: " Eu não chorava por ele, mas por mim, que o perdi."
É por isso que as elegias são escritas muito depois, recriando a dor e sendo feliz ao mesmo tempo.


O Exame final, pág. 128.

sexta-feira, abril 14, 2006

Jornalísticos (2)

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Cap 3: A virada

Consolidado, o tal novo rock viu, em menos de um ano, a sua segunda geração nascer. Em 2002, novamente nas ilhas Britânicas, quatro ingleses, conhecedores de clássicos do rock e do punk como The Kinks, The Clash e Gang of Four, atualizaram a música destas bandas para o novo século com o nome de The Libertines e, desta vez, sem nem mesmo terem lançado um EP, foram alçados ao centro da mídia inglesa. As músicas já pulavam para a internet antes de serem colocadas no mercado, o pessoal baixava, lotava os shows e a propaganda mais eficiente de todas, a boca a boca, se encarregava do resto. O sucesso prematuro se consolidaria com o lançamento do primeiro álbum, Up the Bracket, em 2002, e se propagaria a nível mundial com o segundo, auto-intitulado Libertines, de 2004, fazendo com que eles viessem para o Brasil sem terem nenhum álbum lançado no país (só depois dos shows é que foi lançado por aqui). Mas nem precisava, afinal, havia a Internet, e baixar música e gravar em um CD virgem não era mais novidade.


Cap 4: Já é goleada

Neste ano, que nem no meio está, já tem mais um furacão vindo da Inglaterra, via peer-to-peer (a forma mais comum de baixar música pela Internet): o Artic Monkeys. Formado por garotos ingleses na casa dos dezenove anos, a banda é como uma atualização para 2006 da sonoridade do Strokes e do Libertines, com letras que falam diretamente das situações vividas pela gurizada inglesa e que, apesar de toda diferença de estilo de vida para o chamado Terceiro mundo, também faz se identificar quem mora por aqui. O primeiro CD da banda, gravado a um custo irrisório, vendeu espantosos 363 735 mil cópias em uma só semana, atingindo o primeiro lugar na parada inglesa. A primeira música a fazer sucesso da banda, “I Bet you look good in the dance floor”, é, até agora, a música do ano na Inglaterra. Com uma letra divertida que fala, segundo o próprio vocalista, “de milhares de garotas que já me puseram na situação de olharem para mim num clube ou bar, eu ficar interessado, mas depois dizerem que eu imaginei que elas estavam olhando”, e sua batida rápida, que faz soar velho o Strokes e outros cânones da primeira e segunda geração, a música se expandiu – novamente, graças a Internet - de tal forma que já é até tocada em alguns lugares da noite de Santa Maria.

Cap 5: A próxima partida?

Como a efemeridade é a tônica dessa nova geração, não se duvida de na semana que vem já surja outra banda para roubar o trono do Artic Monkeys de, como diz os Titãs, “melhor banda dos últimos tempos da última semana”,


Os Jogadores
Primeira geração: The Strokes, White Stripes, The Vines, The Hives, Interpol
Segunda Geração: Libertines, Franz Ferdinand, The Killers, Bloc Party,Kings of Leon
Terceira Geração: Artic Monkeys, Clap your Hands Say Yeah, Guillemots, Black Mountain



Jornal A Razão, 13 de abril de 2006.
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quinta-feira, abril 13, 2006

Jornalísticos (1)

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O qüinquagésimo terceiro renascimento do rock (Parte 1)

Uma breve historia do rock do novo século, ressurgido, propagado e já consolidado através da Internet

Introdução

O ano é 98, mas poderia ser também 99. As paradas obrigatórias para quem gostava de música eram as rádios e a MTV. Expressões como “gravar CD” ou “baixar música” nem com legenda se compreendia. A palavra Internet, para grande parte da população, pertencia àqueles assuntos que já se ouvira falar, mas não se sabia onde, nem como e nem porquê. O rock no Brasil era Raimundos e sua “Mulher de fases”; no mundo, era os velhos U2, Rolling Stones (que vieram ao Brasil em 98) e os novos, e já em certa decadência, Oasis e Blur. E só. Quem mandava e desmandava nossos ouvidos nas paradas eram as famosas “boys & girls bands”, coisas como Backstreet Boys, N”Sync, Britney Spears (nos tempos de “menina virgem”) e Cristina Aguilera. Essencialmente, grupos de músicas fabricadas,em que raramente se distinguia um instrumento no emaranhado de combinações eletrônicas que uma produção de luxo sabia fazer para realçar a voz afinada, mas modorrenta, que despejava letras melosas estufadas dos mais variados clichês românticos.

Cap 1: Saindo de atrás

Então, como um antídoto contra a pasmaceira musical dominante, a Internet começa a se popularizar. No início de 2000, surge o Napster, o primeiro programa popular de troca gratuita de músicas pela rede. O rock, que nesse período de trevas sobrevivia anônimo pelas garagens mundo afora, tinha descoberto sua válvula de escape. Não mais se precisava escrever bobagens, ser bonito e ter sorte para atrair um produtor que se encarregasse de fazer todas as músicas: bastava tocar uma guitarra, um baixo, uma bateria, juntar gente que também tocava um desses instrumentos, escrever letras sobre o que estava sentindo, colocar a música na Internet e torcer para que outros, com o mesmo sentimento para extravasar, escutassem, gostassem e também saíssem para colocar as suas músicas.

Cap 2: Empata a partida

Em 2001, surge o The Strokes. Banda de Nova York, que emulava diversas influências de décadas passadas na música e no visual, foi fazer sucesso primeiro na Inglaterra, no início do ano, através de um empresário que ouviu seu primeiro compacto, com 3 músicas – nem CD eles tinham gravado – e despejou para a molecada britânica no limite da saturação com as “ boys & girls bands”. Logo, o fenômeno se alastrou, virou capa de revistas, moda e, sobretudo, hype. Na cola do Napster outros programas vieram, fazendo com que muita gente, antes mesmo de ter em mãos o EP dos Strokes, já tivessem “baixado” (a expressão começava a ser conhecida) todas as músicas. Paralelo ao surgimento da banda, outras foram aparecendo, algumas foram descobertas - como o White Stripes, que já tinha feito dois álbuns, sem muita repercussão, quando lançou “White Blood Cells”, em 2001, do quase-hit “Fell in love with the girl” – e o qüinquagésimo terceiro renascimento do rock’roll foi propagado. Com o público já desperto para a novidade, foi fácil para os quase homônimos The Hives, da Suécia, e o The Vines, da Austrália, aparecerem – e, tão efêmero quanto surgiram - desaparecerem.

Como principal característica dessa nova geração do rock, dá para se citar a devoção de sua música a das décadas de 60,70 e 80 – sobretudo na parte das guitarras. As músicas parecem sempre “lembrar” alguma banda antiga, só que agora acrescentado de um elemento novo, que tanto pode ser as letras mais sinceras sobre a realidade de cada músico, ou a mistura de tantas influências distintas que acabam por criar um algo “novo”, original.


Jornal A Razâo, 13 de Abril de 2006
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domingo, abril 09, 2006

Derrota

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Sobre o sentimento de derrota:



Deitado em um cama num quarto escuro, sem conseguir ler e entertido com o olhar sobre o teto, que não parece dizer nada mas entender tudo, você não consegue parar de pensar no motivo que o barulho das ruas, hoje, é tão forte.


Pensa em atenuações, tanto para si próprio, quanto para dizer aos outros como resposta de uma batalha perdida que, absolutamente, você nada pode fazer para reverter se não torcer que as melhores soluções, vista por você mas também por grande parte das pessoas que compartilham do mesmo sentimento, caiam na cabeça de quem realmente pode resolver a situação: o técnico.


Elas não caem, mas por acidente a vitória está perto, e, mesmo desejando que a derrota até venha como forma de que sirva de lição para que os erros insistemente cometidos não se repitam mais, é como uma facada no peito a confirmação desse pensamento: a derrota é amarga, por mais que se deseje ela.


Fato confirmado. E é difícil para você aguentar, por mais que tantas vezes , até indiretamente, o resultado que agora é fato foi imaginado, como uma forma de se antecipar na procura de respostas convicentes para dizer a você e aos outros que a derrota não tenha a importância que ela realmente tem.


Remediar não funciona, mas é quase impossível não partir para esta solução em casos assim, de derrota ampla e incontestável. Por mais que se precise sofrer, a ilusão de que não se precisa é mais forte.

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quinta-feira, abril 06, 2006

Diálogo (2)

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De um amigo para o outro, sentados em um bar, depois de 7 cervejas e alguns cigarros, continuação da conversa "entendo o meu problema e porquê sofro, mas não consigo evitar":


_ Olhava eu, cara, aquele clipe novo do Strokes, Heart in a Cage, sabe?, gostava da música, e num dos raros casos, achei que o clipe ilustra muito bem o que eu imaginava da música, da letra, inclusive. O vocalista rastejava no chão cantando
Well I don't feel better,
When I'm fucking around,
And I don't write better,
When I'm stuck in the ground,
e um dos guitarristas tocava em cima de um prédio de uma grande cidade, lembrando os anjos no clássico "Wings of Desire" do Wim Wenders. Tudo em preto e branco, como se a angústia de dizer aquilo fosse algo parecido a estar em mundo preto e branco repleto de portas coloridas escondidas e prontas para te levar a outras idéias que não a do sofrimento por estar dizendo aquilo de modo tão apaixonado, e que certamente é decorrente do amor,
Então a música, que é do famoso time do assopra-apaga, rápida com partes lentas ou vice-versa, abaixa o volume, guitarra devagar, bateria marcando o tempo rápidamente, e a voz entra dizendo
Oh the heart beats in its cage
e repetindo, e repetindo
como que chamando a uma dessas portas, desesperadamente venha me buscar e pare de se esconder que eu não aguento mais sofrer, independente de quão esse sofrimento seja verdadeiro, mas a imagem do vocalista cantando caído no chão no meio de uma multidão em um centro movimentado me convence de que ele não mente, e então ele canta
I'm sorry you were thinking; I would steal your fire
Enfim, ele encontra uma dessas portas, mas ela parece que veio tarde, quando não mais o amor conseguiria se esconder impunemente por aí sem enfrentar o que realmente o colocou naquela situação de caído no chão cantando coisas de quem se está apaixonado...


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terça-feira, abril 04, 2006

Casa das palavras

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A casa das palavras

Na casa das palavras, sonhou Helena Villagra, chegavam os poetas. As palavras, guardadas em velhos frascos de cristal, esperavam pelos poetas e se ofereciam, loucas de vontade de ser escolhidas; elas rogavam aos poetas que as olhassem, as cheirassem, as tocassem, as provassem. os poetas abriam os frascos, provavam palavras com o dedo e tnão lambiam os lábios ou fechavam a cara. Os poetas andavam em busca de palavras que não conheciam, e também buscavam as palavras que conehciam e tinham perdido.

Na casa das palavras havia uma mesa das cores. Em grandes travessas as cores eram oferecidas e cada poeta se servia da cor que estava precisando: amarelo-limão ou amarelo-sol, azul do mar ou de fumaça, vermelho-lacre, vermelho-sangue, vermelho-vinho...



Eduardo Galeano,O livro dos Abraços.

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quarta-feira, março 29, 2006

Reflexões de Herman (3)

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Leonardo,
Aqui estás, uma reflexão sobre o inconsciente. Assunto espinhoso e que , provavelmente, renderá alguns outros posts e , se nos encontrarmos novamente, muitas discussões regadas a Quilmes e cigarro.



Sob o domínio do inconsciente *


Dia desses, em andanças pela noite portenha com alguns amigos, uma questão, até de certa forma inédita, surgiu para mim. Meu amigo, juntamente com outro conhecido, contava sobre sua viagem pelos campos e rios nos arredores de Buenos Aires. Sem qualquer planejamento, com muitas vezes não tendo a mínima idéia de onde estavam e para onde iam, eles foram envolvidos numa teia complexa de situações absolutamente inverossímeis se fossem criadas. Depois de muito discutir, meu amigo acabou soltando: " Nunca fiz planejamento, mas na hora sempre sabia o que fazer".
Para mim, foi a chave que me fez entender muitas de suas atitudes "malucas", diferentes. Ele foi guiado pelo seu inconsciente, que de tão treinado (não se sabe como, se soubéssemos todos treinaríamos ) sabe o que fazer em situações aparentemente cada vez mais complicadas que se apresentam para ele resolver e, de preferência, rapidamente.

Se ele não faz mil e um planejamentos sobre o que encontrará naquele rio, por exemplo, e quais as ações determinadas para cada tipo de situação adversa que ele se deparar, muito mais facilmente ele saberá sair delas. Como? não há resposta pulando para ser escolhida, mas uma escondidinha serve melhor que todas as outras: o inconsciente. Simplesmente não estando com todas as prováveis soluções definidas na cabeça, ele saberá como resolver quando aparecer alguma que não esteja prevista. E sempre há situações imprevistas em viagens desse tipo.

Alguém que vá "preparado", não saberá, ou demorará mais, para agir em uma situação completamente inesperada. Culpa do inconsciente, que não é confiável (pelo menos a pessoa não sabe que é) a ponto de não se utilizar de planejamantos para facilitar a compreensão.

Alguns poderão achar que apostar no inconsciente é uma "aposta no escuro". Pode ser, mas talvez achem isso porque não há como explicar o inconsciente, o saber agir em situações adversas sem nunca tê-las vivido. Um provável indício de que se está preparado para situações não-planejadas é a vivência constante de situações ditas "inexplicáveis"; digamos que essas situações fazem parte do "treinamento" do inconsciente, pois sempre pedem respostas rápidas quando nunca pensamos em qualquer uma resposta para situações que também nunca pensamos que possamos viver. São nessas situações que treinamos as ações inexplicáveis, e o prazer de ter enfrentado, e resolvido bem, esse tipo de situação é algo que só abre mais e mais portas para uma complexa, se algum dia possível, compreensão completa sobre si mesmo.

A inconcosciência pode se equiparar a outra palavra que, aparentemente, também não tem explicação lógica: sorte. Quando acreditamos no inconsciente, e esse meu amigo comprovou na pele isso, parece que sempre temos "sorte": perdemos o fogo, o que fazer? achamos outra forma de fazer o fogo, por "sorte". Estamos sem comida? caminhamos e encontramos, por "sorte", uma pequena fazenda que nos oferece um belo assado de ovelha. Uma tentativa de explicação de situações assim seria que o nosso inconsciente, como luz que nos guia nos escuros caminhos desconhecidos, acha sempre soluções para qualquer adversidade, e, por falta de outra palavra melhor, essa solução é atribuída a "sorte" - que nada mais é do que um refúgio para qualquer coisa que não se explica racionalmente.

Por tudo isso, levar a incosciência aos lugares mais longíquos, onde nem um rastro de situação já vivida tenha chegado, faz parte de um longo caminho que todos trilham, mas alguns nunca param para pensar nisso, para chegar ao completo conhecimento de si mesmo, que trará um enorme conhecimento do mundo consigo. A questão é que se estamos preparados para obter essa conhecimento, se a busca por ele não nos enlouquecerá no caminho, ou se, quando finalmente chegarmos lá, descobrir que todas as adversidades foram em vão e que o final encontrado não passa de uma ilusão de que nos conhecemos melhor...

* Traduzido do castelhano

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Diálogo (1)

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De um quase apaixonado diante da irmã de sua quase-alguma coisa-que pode-vir-a-ser-algo-interessante:



"
_ Sabe por qual motivo eu continuo com a tua irmã? Porque eu não entendo ela. Não consigo compreender suas atitudes e não-atitudes, sua passividade diante de certas coisas que quase que obrigam a uma atutide, qualquer que seja. E o fato de não entendê-la me faz querer ficar mais com ela, não me entregar diante do primeiro mistério que ela coloca a mim, consciente ou mesmo inconsciente do ato. Não há um prazo definido para compreendê-la; o lado ruim disso é que o fato de eu querer decifrá-la pode ser interpretado como uma desculpa para ficar mais ao seu lado, e o lado bom, se é que ele realmente é bom, é de não desistir na primeira tentativa, da primeira negativa - consciente ou não - a um convite singelo para ter sua presença junto da minha. A dúvida é que a ânsia de querer entendê-la pode acarretar em certa obsessão, e a derrota final decorrente disso pode vir a ser maior pelo empenho, inocentemente despejado, em querer tê-la o mais próximo possível..."


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segunda-feira, março 27, 2006

Divagando e brincando...

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Divagando e brincando de fingir


Complicado, certos termos e esquemas relativos tomados como principais que não deveriam ser. Fingir é necessário, se a sinceridade afronta.
Fingir, mentir, tem um quê de contadores de histórias, ficcionistas que de tanto desgate oriundos da mente fértil para criar esquecem de escrever a sua própria história de vida e precisam inventá-la, mas pela necessidade de ser uma história real eles não conseguem torná-la interessante, ao menos que contem e envernizem na hora de contar a história médíocre que criaram para si... mas o diabos é que há alguns bons séculos é assim, a necessidade de fingir se torna uma dor, por vezes, insuportável de ter de inventar um personagem que não existe, aparentemente, mas que precisa ser despertado para que a dor da sinceridade não se torne ainda pior que a do fingir, que, se fosse em um mundo perfeito, seria tão forte que ninguém poderia aguentar, prevalecendo a realidade em detrimento da falsidade de se transformar em outros para agradar, ou não sofrer (comos e o sofrimento não fosse necessário...), ou os dois...


Engraçado, mas fingir pode ser, ao mesmo tempo, uma abreviação ou uma antecipação do sofrer. Finjo, invento, para não precisar passar pelo processo natural das coisas, que não é feito de muitas mentiras, não. Finjo, crio, para poder me antecipar e saber duma vez o que me espera na encruzilhada da opção...Da mesma forma, da mesma origem e opostos.
Ainda se provará que fingir é, nada mais nada menos, que dizer a verdade que não se conhece nem se sabe que existe - por isso o fingimento. Se soubesse, seria o fim da ficção.

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Finjo que digo a verdade para poder fingir e não dizer que não consigo fingir.

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quinta-feira, março 23, 2006

Histórias da vida real (2)

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Carroceiro perde carroça e cavalo

Na madrugada de sábado para domingo, Enio Raskof se deslocava pela rua Lavras do Sul quando, na esquina com a rua Radialista Oswaldo Nobre, foi surpreendido por dois homens carregando duas facas. Temendo o pior, Enio tenou fugir, mas foi alcançado pelos homens, que o atingiram com facadas no rosto, causando um corte no supercilho direito. Após o confronto, os dois homens foram atrás da carroça de Enio, que se encontrava, no momento, na Avenida Ulysses Guimarães, no Alto da Boa vista. Chegando lá, levaram embora a carroça, o cavalo e tudo que tinha dentro, inclusive uma carteira com R$ 80,00.


Jornal A Razão, 20 de Março.

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terça-feira, março 21, 2006

Histórias da vida real (1)

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Cerveja quente causa agressão

Na noite de sábado, Alexandre Batista da Silva andava pela rua Santa Bárbara, próximo à escola Ludovino Fanton, na Vila Caturrita, logo depois de ter saído de um trabalho realizado em uma festa de 15 anos. Carregando um copo de cerveja, ele ofereceu um gole à Rodrigo Paim, que também passava pela rua na mesma hora. Este aceitou a gentileza, e bebeu, num grande gole, quase todo o copo. Mas a cerveja estava quente, e Rodrigo nâo gostou. Discutiram exaltados e, depois de alguns minutos, este último tirou o facão do lado da calça e agrediu Alexandre na cabeça, provocando um corte na face. Aturdido, Alexandre tratou de fugir.

Jornal A Razâo, 20 de Março de 2006.

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quinta-feira, março 16, 2006

Pausa para o rock'roll

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Crema no Macondo, 10 de março.

Rock'roll will never die!

Nâo tem palco. O lugar onde a banda fica é um canto no fundo do bar, demarcado por um tapete. Só se sabe que vai começar o show porque a música ambiente cessa. Baixo, guitarra e bateria entram devagar, em um volume parecido, e eis que surge o teclado, o mais alto de todos, que já toma a frente na condução da melodia e prepara para a entrada da voz, que surge de início meio tímida, mas aos poucos ganha confiança para a explosão no refrão: "You really got me!". The Kinks. Anos 60. Não, 2006, passado da uma da manhã de uma sexta-feira, dia 10 de março.

Great balls of fire, jerry Lee Lewis. Anos 50. O clássico passo de dança dos primeiros anos de rock'roll, bastante visto em bailes de formatura, é lembrado pelo público que, a essa altura,já tomou cerveja o suficiente para esquecer que o espaço disponível impede qualquer passod e dança mais ousado.
O teclado, dessa vez, entra primeiro e conduz a harmoniosa versão de "Let's spend the night together", dos Rolling Stones. Anos 60 novamente. Logo à frente do "palco", amigos e namoradas da banda, aos poucos, relaxam e curtem a música, esquecendo por algum tempo a inevitável preocupação de se procurar erros no show.

Like a rolling Stone, Brown Sugar, anos 60, e eis que os 2000 dão as caras. Franz Ferdinand, Take me out. Essa toca bastante no bar, todos conhecem, e houve-se até vozes repetindo o som da guitarra no refrão.

Neil Young, Hey hey my my. O verso "rock'roll will never die" ecoa pelo local, tanto nos ouvidos quanto nos pensamentos de todos ali, sabidos de que aqeula velha história que o rock morreu não passa disso mesmo: uma eterna velha história.

A Razão, 16 de Março.
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segunda-feira, março 13, 2006

Hibernação duvidosa (3) : dúvida

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Enquanto durar o período da hibernação duvidosa, haverá espaço para a experimentação por aqui. Por enquanto, seguindo a linha de ontem, mais um capítulo do "Big Brother Mind".

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É, duvidoso, dúvida, palavra cheia de perguntas e nenhuma resposta, carregada de angústia e de esperança, de sofrimento e de pavor com o que poderá vir a esclarecer as perguntas e transformar a palavra, dúvida, em...
outra pior talvez, certeza, certeza de não ter mais dúvidas ou de ser algo tão já definido...obtuso e sem qualquer dúvida para esclarecer, interromper o processo duvidoso que pode levar a certeza.

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Mas a dúvida, o pavor da dúvida é pior que o da certeza, porque esse é genuíno e até tradicional, mas o outro não, é limitante, desgastante, e imitador daquilo que se conhece por auto estima travestida , na real, de "i'm loser baby, e por mais que esconda, não consigo".

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Am... dúvida que me procura para um chamado, ou melhor, uma chamada e uma espera, duvidosa, de um retorno, que se não vêm provoca a dúvida, o que aconteceu?, e se vêm também aparece num duvidoso pacote de esperança embrulhado numa alegria de ser correspondido em qualquer intenção que possa ter um simples sinal de fraqueza que, muitas vezes, é o que ocasiona uma chamada, fraqueza de não ter certeza, ou de ter uma dúvida sem qualquer perspectiva de certeza, que, afinal, é mais angustiante que uma certeza bem definida. Ou não?

domingo, março 12, 2006

Hibernação duvidosa (2): Me and the devil

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O post mais rápido depois de outro.

Agitação extrema, inquietude de fazer tantas coisas ao mesmo tempo que...
Nem uma frase se completa, pois na metade dela já se pensa em outra coisa.
Calma, calma.
Tomar uma água, quem sabe?
jogar futebol (no PC), que agita mais ainda?
- Pelo menos se chegará num estágio tão grande de "agitume" que não há como não se acalmar -

Hmnn, hmnn
Hmn,

Me and the devil,
was walkin' side by side
Meeeee and the devilll,
was walkin' side by side


Espirro. Certa vez, alguém escreveu que os dois maiores prazeres para o homem era espirrar e gozar ao mesmo tempo. O cara que disse isso, ou melhor, o cara que estava num conto que outro escreveu, demorou algumas décadas para realizar a façanha. Mas conseguiu, e morreu depois, pois não há lembrança que rompe o ciclo repetitivo de filmes que passam na cabeça, e que não deixam vir à tona o que, realmente, aconteceu com o cara.

" Me and the devil,
was walkin'n side by side"

Hibernação duvidosa (1)

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O blog está em estado de hibernação, em busca de uma alternativa ao formato atual, de mero "publicador" eventual não-periódico de textos construídos e revisados na hora. O que pode acontecer é o formato mudar, ser mais rígido com relação à dias de atualização, ou então, após muitas tentativas de achar um formato diferente, ficar na mesma.

Early this mornin'

when you knocked upon my door
Early this mornin', ooh
when you knocked upon my door
And I said, "Hello, Satan,"
I believe it's time to go."


Robert Johnson - Me and the devil
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terça-feira, março 07, 2006

Ode à madrugada

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Passa das 3 e 59 da madrugada, e o cansaço recém cutucou o sono,
que estava dormindo há horas,
nocauteado por aquela água tão ativa, que ainda foi misturada com uma dose de tensão sexual não resolvida e um pó solúvel que dizia no rótulo "eloquência gratuita"

inconformismo
com a inoperância do cansaço,
a lenitude do medroso emebebido pelo vazio envergonhado de sua condição,
tão solitária,
!que vergonha de estar assim!
apavorado, teve de cutucar o sono,
que,
mesmo depois de todas aquelas doses,
voltou a penetrar como antes, ou como nunca,
como eterno perdedor que é, se fez invisível, não deu resposta, não foi percebido e resolveu, depois de muito lutar, perder mais uma vez, como sempre,
se entregar ao desconhecido, sempre comandante,
alter-ego do cansaço,
da derrota, da vitória
e do sono.



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segunda-feira, março 06, 2006

Um ano

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Completou um ano o blog.
Estudo alguma mudançcas, que , provavelmente, virão em breve.

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quinta-feira, março 02, 2006

Reflexões de Herman (2)

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Um texto mais curtinho dessa vez, minhas aulas começaram e estou bastante ocupado. Bon Apetit,

Herman Oliveira.


Ella usó mi cabeza como un revolver, e incendió mi conciencia con sus demonios

Soda Stereo


Dá para se fazer inúmeras leituras dessa frase (a primeira), e em cima dela criar inúmeras situações, metáforas e causos. Lembra frases do Cortázar, que , às vezes, cria imagens tão poderosas e complexas que, quando não se consegue imaginar o que ele quis dizer com uma frase, ele joga mais uma tão poderosa quanto a outra, criando uma espécie de confusão e curiosidade extrema que poucas vezes é saciada decentemente; o normal é desistir, ou achar que sabe o que é aquilo para poder partir para a outra. Numa comparação barata, é como se fosse explicar um conteúdo inédito - um novo tipo de equação, por exemplo - com todas as variáveis conhecidas, mas que ainda assim não se consegue juntar todas as partes e se fazer compreender o todo. As palavras são as partes iniciais, que possibilitam a criação das metáforas, que são a segunda parte, mas que podem ter fases infinitas, só que nem o compreendido na primeira fase vai poder ser útil para a compreensão do todo, a metáfora completa. Mesmo assim, a curiosidade de saber aqulo, de tentar acompanhar a imagem criada é tanta que se cria uma espécie de "atalho" ao pensar que tal coisa é aquilo ali que não se sabe, apenas para seguir adiante na intricada teia de metáforas que se pode criar a seguir. Chega uma hora que extrapolou tanto o conhecido que se desiste e se passa para outra. Mas, como um treinamento, não se pode desistir, pois o resultado, quando encontrado, é recompensador e inspirador.

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quarta-feira, março 01, 2006

Quase

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Quase um ano de blog.
Dia 4 de março completa.
Vamos ver quanto tempo mais vai durar.
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sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Sobre ética

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O Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, um dos mais confiáveis do país, diz que ética é "o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”. Ética jornalística, portanto, seria algo como “o estudo dos juízos de apreciação que se refere à conduta do jornalista”, se for possível algum tipo de definição. Geralmente, para diferenciar ética de moral, se utiliza algumas sentenças do tipo “ética é universal, moral é cultural”, ou “ética é teoria, moral é prática”.

Por ser cultural, a moral é pessoal, varia, enquanto a ética não, é intransponível. Etimologicamente falando, ética vem do grego "ethos", e moral vem do latim "morale", que tem o mesmo significado: Conduta, ou relativo aos costumes. Como os radicais trazem um conceito simplista, bastante relativo, melhor mesmo é diferenciar ética e moral do que igualá-los. Acontece que, como toda profissão que tenha um código de ética, e acredito que todas tenham, a ética da profissão exige uma adequação da moral de cada um que é impossível de se obter. Uma pessoa que se embriague de sua moral não vai respeitar a ética, pois se considera acima. E assim cometerá erros crassos, não aprenderá com eles e continuará repetindo ad infinitum até que, ingrato mundo, ela obtenha vitória seguindo sua moral e não a ética, tão solene e generalista. Pra que ética então, se ela é frágil a ponto de deixar o ser humano a desrespeitá-la?

A ética pode ser frágil, mas não é conivente, não aceita desaforos; apesar de que não pune desvios da maneira que devia por que isso faz parte de sua natureza plural. E o fato dela ser frágil não significa que ela não tenha de existir, por que, se não há ética, há o caos, a falta de juízos de apreciação e de qualificação entre o bem e o mal torna tudo suscetível e regido pela moral, senhora perversa e individualista que acabaria por espalhar o caos em todas as partes. Mas, não sendo apocalíptico, a ética profissional, como uma subdivisão da ética Ética, é apenas um conjunto de regras a serem seguidas fortemente influenciadas pela moral. E a moral de cada um, por mais desobediente e segura de si que seja, funciona, em relação à ética, como aquela velha história da utopia: não é porque não consigo adequar minha moral a ética que deixarei de tentar, assim como não é por ser uma utopia que deixarei de tentar fazer com que se torne verdade, assim como, entrando mais no jornalismo, não é porque a objetividade seja inatingível que não tentarei atingi-la.

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terça-feira, fevereiro 21, 2006

Manuscrito achado

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Parece querer diminuir e não encontrar seu lugar
De tão pequeno, livre e sonhador, não pensa mais em existir.
Donde estás, donde estás,
Não obtém resposta e teme a pergunta
Olha, enxerga, de longe, mas onde é mesmo que se esconde ?

Irritado, quer fugir, voar e planar
e encontrar aquele sinal, fraquinho,
quase embriagado de tanto esperar,

zombeteiro de tão fraco que está
aproxima e tenta provocar,
mas desiste quando ele lhe faz lembrar
que nunca soube, donde estás?

agora ele quer se entregar
e insiste em se esconder,
desaparecer de tanto lutar
evaporar, cair sem se machucar

"Não é tão fácil assim",
alguém aparece para falar
"não reconhece tua condição
ou de tão pequena já sumiu?"

Abalado ele volta atrás
ou não sabe, además,
pra que te esconde se não sabe onde?






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sábado, fevereiro 18, 2006

Cenas Buenairenses (4): Palermo

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"Pega essa rua aí da frente, a Jorge Luis Borges, e anda umas quadras que tu chega na Plaza Cortázar."






Fiz o que um simpático velhinho me disse pra fazer.


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Pega a rua Jorge Luis Borges que vai dar na Plaza Cortázar. Só Buenos Aires mesmo.
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( os velhos portenhos ,e argentinos em geral, são sempre simpáticos e parecem exalar sabedoria de vida. São as pontinhas de fio que resistiram ao tempo e trazem consigo o glamour de outras eras. Ainda bem que Buenos Aires está cheio deles)

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Palermo é um bairro residencial-boêmio; das boates, dos pubs, das lojas chiques, dos grandes prédios de apartamentos da classe média-alta e alta da cidade, das ruas arborizadas e tranquilas frequentadas por gente bonita e bem vestida, dos cafés onde os "intelectuais" gostam de se reunir ( esses mesmos cafés que, peculiaridade local, tem menus com todas as coisas em dois preços: um até as 22 e outro após), do convívio - mais explícito que outros locais da cidade - de tradição e modernidade. É um bairro um pouco afastado do centro, há cerca de uma hora de caminhada . Ao sul, o bairro conta com inúmeros parques (incluso o Jardim Botânico e o Zoológico) antes de chegar no Aeroporto Jorge Newbery e , logo após, o Rio da Prata.



Um café pelas voltas da Plazoleta Cortázar


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