quinta-feira, dezembro 20, 2007

Muita coisa

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Um trecho de "Comédias para ler na Escola", do Luis Fernando Veríssimo, que diz muito sobre muita coisa:

“Esta idéia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de te-la, me arrependi. Mas já estava tida, não adiantava mais. Você, leitor, no entanto, tem uma escolha.”

[..]

"Você, leitor, já deve estar sentindo o que vai acontecer. Pare de ler, leitor. Eu não posso parar de escrever. As idéias não podem ser desperdiçadas, mesmo que nos custem amigos, a vida ou o sono. Imagine se Shakespeare tivesse se horrorizado com suas próprias idéias e deixado de escrevê-las, por puro comedimento. Não que eu queira me comparar a Shakespeare. Shakespeare era bem mais magro. Tenho que exercer este ofício, esta danação. Você, no entanto, não é obrigado a me acompanhar, leitor. Vá passear, vá tomar um sol. Uma das maneiras de controlar a demência solta no mundo é deixar os escritores falando sozinhos, exercendo sozinhos a sua profissão malsã, o seu vício solitário. Você ainda está lendo. Você é pior do que eu, leitor. Você tinha escolha."


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segunda-feira, dezembro 17, 2007

E as famosas notícias do Terra

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Bem que este texto abaixo poderia ser de uma série com um título do tipo " Notícias non sense que adoramos colocar na 1º página do Terra":

"Uma criança de 11 anos sobreviveu depois de ter pulado de um trem em movimento, que andava a 120km/, na Alemanha. Segundo alguns passageiros, antes de pular, a menina perguntou se o trem parava na sua cidade. Eles disseram que não, ela abriu a porta e saltou para fora do trem."

(Quem quiser ler o restante da notícia clique aqui)

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Estou de férias. Aos poucos, voltarei ao trabalho eventual de atualização decente do blog.


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segunda-feira, dezembro 03, 2007

"Whatta hell is blog?"


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Taí uma explicação bem simples do que é um blog. O vídeo faz parte de um série chamada In Plain English, produzida pela CommonCraft, uma empresa de consultoria e criação de Seattle (USA).

Via Gjol

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quarta-feira, novembro 28, 2007

Blog premiado

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O prêmio Vladimir Herzog, um dos principais do jornalismo brasileiro, em sua edição 2007 elegeu como vencedor da categoria internet o blog PEbodycount.


Inspirados no Iraqbodycount, que mantém uma base de dados independente sobre o número de fatalidades da guerra no Iraque, um grupo de jornalistas do Recife-PE criou o blog, que é atualizado diariamente com reportagens, histórias enviadas pelos internautas, estatísticas criminais, artigos, sobre o dia-a-dia da violência em Pernambuco.

Vale a visita.

via Intermezzo


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Quinze dias sem postar aqui. Final de semestre complica pra quem não se organiza...


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quarta-feira, novembro 14, 2007

moradia

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Dando um tempo aos blogs/jornalismo, vista da sacada do apartamento onde atualmente moro, em Canasvieiras-Florianópolis. Ao fundo, a famosa Ilha do Francês, tão bonita quanto misteriosa.




Vista da sacada do mesmo apartamento, só que para o outro lado. Foto tirada por meu colega de apartamento, Taschetto.



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quinta-feira, novembro 08, 2007

Pelo direito dos blogueiros

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O blog do Gjol postou uma nota já faz quase quinze dias sobre um "movimento" na França intitulado "No Press".

A idéia central da coisa é a de

"estender aos blogueiros certos direitos reservados a profissionais da mídia e criar um "carnet de blog", similar a um "carnet de presse", ou seja uma "carteira de blogueiro", que contemplaria seu portador(a) com direitos inerentes à profissão jornalística."

O NP criou uma logomarca (a que abre esse post) e quem se solidariza com a idéia está sendo convidado a colocá-la em seu blog.

Foi também criado um site para o grupo expor suas idéias, que tem como lema "Pour aller lá où la presse non va pas" - Para ir lá onde a imprensa não vai".

Alguma das propostas:

_ Livre acesso a certos lugares, notadamente culturais, para garantir uma liberdade de expressão completa e não truncada.

_ A possibilidade de realizar reportagens (mesmo fotográficas) livremente, da mesma maneira que os jornalistas.

_ E por que não a dedução de certos impostos incidentes sobre serviços oferecidos na Internet, ligados à manutenção de blogs?


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Alguns comentários rapidamente vieram à tona na blogosfera. O Pointblog, da França, ironizou:

"Parece uma pegadinha de Primeiro de Abril (...) um site anônimo que propõe dotar os blogueiros de uma "carte de blog". Eu não sei se os blogueiros que poderão solicitar a "carte" são os blogueiros publicitários, os eleitos pelos blogueiros, os homens políticos blogueiros, ou os blogueiros jornalistas, a menos que isso diga respeito também aos blogs de Histórias em Quadrinhos, ou talvez aos blogs sobre Culinária, aos advogados blogueiros, ou àqueles vivendo de salário desemprego, sem nos esquecermos dos blogueiros músicos amadores, das viúvas blogueiras e dos blogueros amasiados?"

O Periodismo Ciudadano, espanhol, tratou de relatar somente, eximindo-se de dar opinião:

"(...) La polémica sobre la función de los bloggers como periodistas sigue viva. Y lo seguirá mientras el periodismo ciudadano tenga defensores pero también detractores."

Outro blog brasileiro, como o Falando na Lata, noticiou o caso, dando ao fim do post uma cutucadinha na coisa para ver no que vai dar:

"Bom, espero que não passe de uma brincadeira, mas é interessante pensar nestas questões, vai que o assunto fique sério…"

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Desconsiderando a bagunça epistemológica que uma atitude polêmica dessas provoca, ela mostra que os blogueiros estão se organizando na busca de alguma coisa que pode vir a ser interessante. Ou um jornalismo amador - como disse certa vez Lasica quando queria se referir ao que os blogueiros estavam fazendo - ou novo tipo de coisa que não será mais jornalismo.

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sexta-feira, outubro 26, 2007

Dicas informais para aspirantes a blogueiros

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Rosana Herrmann, jornalista com passagens pelas principais emissoras de televisão do Brasil, atualmente redatora do Pânico na TV e uma das primeiras blogueiras do Brasil, ganhadora do prêmio melhor Blog Jornalístico 2006 do Portal Imprensa, postou em seu blog, o Querido Leitor, uma lista de dicas informais para um blog ser bem-sucedido.

São coisas simples, mas acho interessante postar aqui algumas impressões sobre o assunto de gente que não está ligado a Academia, assim como fiz no post sobre o Ricardo Noblat.

Olhem aí abaixo as dicas:

Um blog pode ser individual ou coletivo. Pode ser autônomo ou pode estar ligado a um grupo. Pode ser de humor, de política, de moda, tanto faz. Para o leitor o blog é só um endereço na barra do browser,o conteúdo que ele expõe e seus leitores, ou seja, a cabeça (o dono, a marca ), tronco (conteudo, layout) e membros (participantes e frequentadores).

A cabeça tem que ser clara. Você tem que saber o nome do blog, o endereço de cor, tem que acessá-lo sem problemas. Deve estar hospedado em algum lugar que não caia, não saia do ar, tenha divulgação. E a sua cabeça tem que ser clara. Você tem que ter uma linha, um estilo, um jeito seu. Sua cabeça é também a cabeça do blog.

O tronco tem que ser consumível. Layout minimamente palatável, posts visíveis e compreensíveis, textos interessantes, conteúdo exclusivo. A freqüencia de publicação, a velocidade, são características do tronco.

E os membros, os seres humanos que fazem e frequentam o blog.

Esses componentes geram os valores de um blog, subjetivos e objetivos.
Os subjetivos são: autoridade, credibilidade e prestigio.
Os objetivos são os números. Posição no ranking, número de visitantes e outras medidas.

Há blogs que vivem de sua autoridade e por isso tem um valor. Autoridade é quando o blog/blogueiro é especializado e entende do tema. Tem gente que entende muito de uma determinada área e vira referência. Tem gente que não entende muito mas finge que entende e com ajuda da mídia também vira autoridade perante os que sabem menos (embora sejam desprezados pelos que sabem mais). Se você entende muito de alguma coisa, mecânica, política, culinária, macramé, faça um blog sobre o assunto, estude, aprofunde-se e vire uma autoridade. Nem que seja para ser como os blogueiros-celebridades, que só entendem de si mesmo. Tudo bem, porque tem mercado pra consumir. É um tema.

A credibilidade pode vir junto ou não com a autoridade. A credibilidade vem mais da pessoa, do blogueiro. De sua conduta, carreira, coerência. Ninguém é unânime, mas ter credibilidade dá valor a um blog. Seja verdadeiro, sincero, correto e seu blog terá valor.


O prestígio depende de relacionamento. Tem gente que já nasce com sobrenome de prestígio, relações familiares de prestígio, riquezas prestigiadas. Há blogueiros que não são autoridades em um assunto, não tem tanta credibilidade assim, não estão bem posicionados no ranking mas tem muito prestígio junto a pessoas que mandam na mídia. Ganham dinheiro, divulgação, prêmios. Mas não é pra quem quer e sim pra quem pode. Prestígio pode ser herdado ou conquistado. Pode vir dos colégios onde você estudou, das famílias que frequentou, dos empregos. Mas sempre vem com relacionamentos. Blogueiro isolado tem muito mais dificuldade pra conquistar prestígio.


Os valores objetivos são quase sempre numéricos. Posição no ranking technorati, número de visitas, poder de exposição na mídia, além dos subjetivos. Em geral, os blogs mais visitados são os que fazem humor, não tem comentários abertos, usam pseudônimos, gongam pessoas com nicks, etc. Ou são blogs de tecnologia, que oferecem serviços gratuitos, dão dicas para construção de blogs, oferecem templates e resolvem os problemas.


Basicamente os leitores querem 3 coisas: orientação, informação, diversão.
Quem oferece um, dois ou três dos quesitos, com autoridade e credibilidade acaba tendo blogs de valor, inclusive, valor de mercado.

Se você está pensando em investir no seu blog, pondere tudo isso. Não é preciso concordar. Discuta, pense, reflita, construa outras teses. Mas sempre há um caminho para tudo. Tem publico para tudo. Seu blog pode não virar o maior sucesso do mundo mas vai encontrar seu espaço.

Uma recomendação faz-se necessária: não encha o saco dos outros avisando o tempo todo que seu blog existe, que você colocou outro post, etc. É chato. É 'pushy'. Um shopping center é um shopping center, não é um selling center. A pessoa é que vai comprar, não é o vendedor que fica vendendo. Você faz compras como quem navega. Você procura, vê, entra, sai, até escolher e comprar. Vendedor na porta puxando a pessoa pra dentro é de quinta. Ficar mandando avisos sobre seu blog também.

De resto, é só o óbvio mesmo. Mantenha o blog limpo, conheça seus leitores, seus concorrentes, seus seguidores, seus ídolos. Olhe para cima, para baixo, para os lados. O espaço é virtual mas é volumétrico, tem de tudo em todo lugar, em volta de você.

Observe o mundo e descreva-o. Fale de si e dos outros. Viaje do micro ao macro. Voe, liberte-se, confesse-se quando quiser. Caia e levante publicamente, mas tomando o cuidado de não arrastar ninguém com suas quedas.

Mesmo que eu não tenha prestigio, nem autoridade para determinar como você deve ou não fazer blog, tenho uma parcela de credibilidade, porque faço o mesmo blog há anos, cuido dele e me relaciono com você. E, confesso, que diante de outros blogs de nomes sacados, já fiquei quase envergonhada do jeito mamãezinha do título do meu 'querido leitor'. Mas eu gosto. Porque é verdadeiro. Não tem blog sem leitor. O leitor é que faz o blog ser o que é. Portanto, o leitor é essencial. E o querido, bem, se a gente não gosta de quem gosta e prestigia a gente, vai gostar de quem?


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domingo, outubro 21, 2007

Geradores de textos falsos

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Em minha dieta matinal de leitura de blogs de jornalismo digital - todos via Google Reader - achei um post bastante interessante sobre algo que não tem relação com o jornalismo digital: os geradores de textos virtuais.

São inúmeros os existentes na web, de geradores de novelas de Manoel Carlos à livros de Jorge Amado - aqui, uma cena da novela manoelcarliana que "escrevi", "Helena, a lobotomizada".

Dêem um a olhada no post do blog/site do professor Alex Primo, do programa de pós-graduação em Comunicação e Informação da UFRGS, o post interessante sobre algo que não tem relação com o jornalismo digital que citei no início.

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quinta-feira, outubro 18, 2007

Noblat em Floripa

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Ricardo Noblat esteve por Florianópolis hoje à noite, num evento organizado pela Assembléia Legislativa de Santa Catarina. Mais de 400 pessoas presentes no auditório, em sua grande maioria estudantes de jornalismo.
Discurso "do mercado", como se diz por aí, mais do mesmo, bastante simplista e, por algumas vezes, incoerente.

Mas a palestra teve bons momentos.
Um deles, quando Noblat apontou as "Características do jornalismo em blogs".

_ Linguagem renovada (ele disse "sem regras ")

_ Jornal, rádio, Tv;

_ Do ponto de vista do cidadão comum;

_ Simplicidade;

_ Velocidade;

_ Fato, análise e opinião ("o público não é burro, sabe distinguir cada um dos aspectos nos posts)

_ Trabalho solidário ("No Brasil ainda não temos redes de blogueiros bem desenvolvidas como na Europa e nos Estados Unidos");

_ Interatividade;

_ Espaço democrático

_ Prestação de serviço;

_ Capacidade de mobilização;

_ Jornalismo de Griff ("griff no sentido de ser pessoal, de ter um nome por trás do trabalho");

É sempre bom ter uma visão sobre o assunto por quem está somente no mercado, independente do simplismo - e reducionismo - extremado da visão.
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segunda-feira, outubro 08, 2007

Desculpa, Graci

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Antes de qualquer coisa, venho publicamente pedir desculpa a nobre atriz Graciane Pires, integrante do Grupo Vagabundos do Infinito, liderado pelo professor Paulo Márcio e ligado à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Em minha inocência, achei que conseguiria escrever uma resenha decente sobre o monólogo que ela dirigiu, produziu e atuou, o "Temos todas a mesma história", dos dramaturgos italianos Dario Fo - Prêmio Nobel de Literatura em 1997 - e Franca Rime, parceira de Fo.

Não consegui.

Não porque a peça não tenha qualidades, muito pelo contrário: tem diversas, a começar pelo texto, que, contando uma história pra lá de simples, consegue tratar com uma profundidade sutil - que é bem percebida por quem gosta de se apegar aos detalhes - temas caros a toda sociedade, como a submissão feminina nas relações sociais, o casamento e a maternidade. A continuar pela disposição do cenário, que tem uma espécie de biombo com papel manteiga - que permite fazer sombras na parte de trás - no meio do palco, importantíssimo para a primeira imagem que é vista da peça; e pela duração do monólogo, não mais do que 40 minutos, período perfeito para se contar a história de Temos todas a mesma história, caso raro de uso não excessivo do tempo no teatro.

Foi com uma tristeza imensa que percebi que não conseguiria escrever uma crítica decente da peça porque, simplesmente, não sei julgar se o movimento do corpo de uma atriz está limpo, correto; não sei notar se o quadril está realmente encaixado - embora tenha percebido que a Graci caminhava/corria sempre altiva, como se tivesse um fiozinho em cima dela a puxando para cima, como uma marionete; não sei julgar se ela fez bom uso dos recursos cênicos, ainda que, para mim, o cenário tinha o necessário para a história ser bem contada. Bom, por falar em história, chegamos ao ponto chave do motivo que não consegui fazer uma resenha de fundamento sobre o monólogo.

Eu simplesmente não sei julgar se a atriz está bem no palco, se ela errou muito, se acertou mais ainda. Porque, para mim, se ela contou a sua história de forma com que eu conseguisse entrar dentro e, ao chegar lá, captasse por minha conta cada sacada que ela deixava implícita nos detalhes, cada senha que ela me mandava como um convite para a reflexão sobre a nossa vida, cada piada que ela fazia exarcebando uma situação ou, simplesmente, escondendo a realidade de uma condição que, se não é degradante, é esquisita de se acontecer em pleno século XXI; se ela me fez entrar para o mundo que foi criado no palco, e de lá eu retirasse os significados e sentidos que eu desejasse, com a supervisão e a direção de em que ponto eu poderia refletir mais ou em que ponto eu deveria rir do absurdo da situação; se ela me levou com a mão para um passeio sobre a nossa condição humana, parando nos pontos críticos e dando o histórico do porquê de tal situação ser assim através de uma piada, que me fez rir daquela forma que é a mais gostosa e que eu só encontro paralelo no desenho dos Simpsons, onde o engraçado se dá menos pelo inusitado e mais pela luz inusitada focada em uma situação banal; se ela me fez refletir gargalhando internamente na escuridão de uma platéia eminentemente de gente do teatro, concentrada mais em procurar defeitos nos koshis e na organicidade dos movimentos do que em adentrar em uma história que, diante de seus olhos, está sendo muito bem contada e pedindo para ser pensada junto; se ela fez tudo isso e alguém, no hall do teatro ao fim da peça, vem me dizer que os "movimentos dela foram muito duros, tensos demais", eu só posso dizer que não tenho como fazer uma resenha do teu monólogo, Graci, porque eu não entendo absolutamente nada de teatro e de como uma história pode ser bem contada, independente se é um conto, um romance, um filme, uma música, ou uma peça teatral.

É constatando essa fraqueza que finalizo dizendo que não tenho como fazer uma resenha de Temos todas a mesma história. Tenho, sim, como recomendá-la para quem quiser ver uma história sendo bem contada no palco, produzida na Santa Maria da Boca do Monte por uma natural de São Luiz Gonzaga, no norte do RS.

Isso eu posso fazer, embora agora me venha que acabo de fazer a recomendação com algum atraso, já que a peça foi encenada cerca de 3 meses atrás.

Sou muito enrolado mesmo. Desculpa, Graci.


Sinopse:

A peça "Temos todas a mesma história" discute de forma cômica a submissão feminina nas relações sociais e sentimentais, abordando assuntos como aborto, casamento e maternidade. No monólogo, a personagem encontra-se em situações limites que vão conduzindo-a aos mais engraçados acontecimentos, contando e vivendo sua experiências. As situações por ela vividas são retiradas da vida real, e talvez muitos de nós também já tenhamos nos deparado com alguma delas em nosso cotidiano.


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sexta-feira, setembro 28, 2007

Pare..Olhe..Escute





Para completar a circulação do vídeo, registro de algumas "aventuras" de trem por aí.

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terça-feira, setembro 11, 2007

Carta Aberta

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Desde o princípio do Subbcultcha, no já longíquo março de 2005, eu tentei deixar bem claro que o blog não era "pessoal", no sentido de que ele não iria ser um diário do que eu fazia ou deixava de fazer, ou, então, que ele não iria se focar na minha pessoa.

Pois bem, 2 anos e 6 meses depois, eu assumo: a partir de agora, ele será pessoal sim.

Ainda assim, não será bem um diário contando bastidores da minha vida, nem será tão focado na minha pessoa como talvez fosse melhor. Pelo menos não por enquanto.

Estou morando em Florianópolis, faço Mestrado em Jornalismo na UFSC. Como desde que comecei a fazer o projeto da minha monografia de conclusão de curso, em meados do ano passado, pesquiso sobre weblogs e jornalismo digital, enfim usarei este espaço para postar algumas coisas à respeito do assunto.

Não sou muito chegado aos meandros do chamado "mundinho acadêmico" e dos seus limites extremamentes restritos de ver o mundo e a vida, então o Subbcultcha continuará tendo textos sobre qualquer coisa, como até então vinha acontecendo nada periodicamente.
Na medida do possível, continuará sendo o espaço onde farei meus diários de viagens. E também será o espaço para meus exercícios literários e algumas reportagens experimentais esparsas, bem como o que mais eu quiser escrever.

O único critério é um mínimo de qualidade, que será definido por mim mesmo com base em princípios não-declarados exclusivamente pessoais e referentes ao meu gosto pessoal, ora pois.

Enfim, era isso.


Atenciosamente,
Leonardo Foletto
p.S: A formalidade é só pra brincar com o formato de carta mesmo. Não é pra assustar não :)

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sexta-feira, julho 20, 2007

Galera & novidadeiras

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Começo esse post citando, de novo, o Daniel Galera, escritor gaúcho - hoje, brasileiro, para fazer justiça - que, não sei por qual motivo específico, eu me identifico a cada dia mais.

Desde que li o "Até o dia em que o cão morreu", ainda por curiosidade de ver um cara da mesma idade que eu escrevendo algo de fundamento, sinto uma estranha semelhança naquilo que ele escreve, como se fosse aquilo que eu queria dizer mas não tive capacidade - ou coragem para tentar.

"O que chamamos de inspiração tem muito a ver com conseguir estranhar a vida por um instante - não mais reconhecê-la e, apavorado, ter de lidar com isso. Escrevo porque a literatura é minha maneira de expressar esse estranhamento. Eu poderia guardá-lo, mas não consigo. O estranhamento alheio pode ser pertinente ou impertinente. Meu desafio é tornar o meu o mais pertinente possível para o leitor - e isso, meus caros, é um processo violento que recusa qualquer idealização"

Por diversas vezes nos últimos tempos tenho sentido esse estranhamento dito pelo Galera. Fico apavorado também. Só que a literatura não é minha maneira de expressar esse estranhamento - pelo menos não por enquanto. Sinto que um dia ela será a melhor forma , e esse dia parece estar cada vez mais perto. Talvez chegue por daqui a pouco, quando poderei me fixar em algum lugar que me permita tomar a coragem necessária para fazer isso.



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quinta-feira, junho 28, 2007

ritmo lento

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Mais uma vez, o ritmo de postagem aqui no blog é lento. Devido a uma séria de fatores bem justificáveis, a propósito.

Como sempre, em breve ele será atualizado constantemente.

Enquanto isso, aí vai uma tentativa de tradução de uma resenha que fiz para o disco "Astral Weeks", do Van Morrison.

Veja bem: uma tentativa, um exercício que, ao menos, me fez ver mais de perto que o trabalho de tradução de textos tem muito de reescrever o texto, principalmente nos adjetivos, que, talvez, são os que mais sofrem por serem mais ligados a determinados contextos culturais.



Van Morrison, Astral Weeks

Van Morrison was 23 years in 1968, year of Astral Weeks released. He was on this solo career (after the finish of his blues/rock band, Then) and also was composed one of your hits, “Brow Eyed Girl”, a year before, with more 12 songs that released in the first album solo, “Blowin‘ your mind”. But Van it was confused, probably because of the first thing that a man stay depressed: problems with lovely’s woman. And was this confused who inspired Van released the 8 songs of “Astral Weeks” in just 3 days.


Maybe more than a simple record, “Astral” is like a therapy, a travel to open’s hurts of someone. It seem Van, in front of a mirror that show all of your pains, is crying for to find a exit; how he don’t receive answers, he decides comes in own mirror. There, Van stays surprised: there aren’t cure for your hurts nor explains for your doubts, even he cries until your death. The report of this melancholic travel in your own mirror, and the redemption for recognize your pain, are the 8 songs of “Astral Weeks”.


Like a few singers in the music, Van Morrison doesn’t shout, or cry, in “Astral Weeks”: he “howl”, left yours feelings leads his voice in the “Astral Weeks” songs.

Your voice, like the greatest singers in blues and R&B, leads each song of record, and the guitar, bass, saxophone, keyboards, flute and others instruments just open doors for the Van’s incredible voice comes and invades some different hearts and lands - when, for any times, Van goes for the first and destroys all of things that he see, leaving for the instrumental part a ungrateful job of say that those powerful things is only a song


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quarta-feira, maio 30, 2007

Borges

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"
Ser imortal é insignificante; com exceção do homem, todos as criaturas o são, pois ignoram a morte; o divino, o terrível, o imcompreensível é saber-se imortal

"


Jorge Luis Borges, O Aleph, pág. 11



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segunda-feira, maio 21, 2007

Instantâneas (2)

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Não há nada que descreva fielmente, embora algumas tentativas circundam, passando perto o suficiente para se ter um esboço daquilo do que se está querendo descrever.

Um exemplo de tentativa:

"Começa com uma certa tremedeira nas pernas, principalmente nas extremidades envolvidas. O sangue parece circular cada vez mais devagar, como se a cada segundo enfrentasse mais obstáculos que o impedisse de correr normalmente pelo corpo - em compensação, nos dedos ele vai ganhando velocidade e destruindo qualquer barreira que o impeça de se mover freneticamente, como se alguém tivesse posto uma substância que os turbinasse e os fizesse funcionar de maneira inversamente proporcional a velocidade com que o sangue circula nas pernas, que a essa altura já não são mais sentidas, levadas do tempo-espaço por alguma estranha sensação de prazer que beira ao incontrolável e tangencia a dor por milésimos de segundo que logo são substituídos por horas de satisfação condensadas em algumas poucas agudíssimas sensações de prazer, que começam a se repetir em cada vez menos tempo e a cada repetição mais intenso é o prazer, a ponto de transformar a dor, que agora é maior, em uma sensação que não é mais dor nem coisa alguma se não aquilo que não se sabe e nunca se saberá o que é - então, é quando volta o sangue a romper os obstáculos e circular livremente pelas pernas, oxigenando-as com o que turbinava os movimentos dos dedos, tornava os lábios subitamente ressecados, paralisava as mãos por poucos segundos, criava viagens ilusórias na mente antes desconectada da realidade e que, agora, finalmente, trazem à tona as lembranças recentes do que acabou de acontecer."


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domingo, maio 06, 2007

Recortes (2)

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Alguns recortes de Florianópolis...

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Bosque do Campus da UFSC



Café no centro



Prainha particular perto de Naufragados


Vista da trilha para Naufragados



Naufragados


Canasvieiras



Manhã em Canasvieiras


Fim de tarde ou início de manhã?



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segunda-feira, abril 23, 2007

Paraná (2)

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Confesso, exagerei no tom ao falar de Curitiba e do Paraná no último post. Não que a impressão que tive do local não fosse aquela mesma, mas talvez tenha pegado pesado demais na hora de escolher as palavras para expressar essa impressão.
Outro ponto importante é que falei das diferenças que, comparando com outros locais (implicitamente o Rio Grande do Sul, reconheço), tornavam o Paraná um estado "insosso". Mas, ficando nessas mesmas diferenças, existem várias delas que tornam o Paraná - especificamente Curitiba - um lugar muito bom de se viver, de "primeiro mundo", como eles mesmos dizem.

Curitiba é organizada de uma forma que Porto Alegre nunca vai ser, por exemplo. Não se vê lixo nas ruas, mesmo o chamado "centrão" é bastante limpo - grande parte disso se deve aos laranjinhas", os garis responsáveis pela limpeza da cidade, espalhados aos montes em cada praça e rua do centro da cidade. Aquele aspecto de sujeira que encontramos em Porto Alegre, principalmente nos arredores do Mercado Público, não existe em Curitiba: por ser difícil de se encontrar lixo nas ruas, anda-se pelo centro respirando um ar mais puro, menos impregnado de sujeiras e poluições diversas.


Trem passando bem perto do centro de Curitiba

Os parques de Curitiba são especialmente belos, bem cuidados e, por consequência, bem frequentados - não há tantos daquele tipo de bagaceiro tão comum no RS, os que só pelo fato de estarem no mundo acham que tem o direito de tirar tudo que podem de alguém que, para eles, não poderia ter nascido em uma situação diferente da deles. Parques como o Jardim Botânico são fechados à noite, o que ajuda a manter eles bem cuidados e agradáveis de se visitar, fazer exercícios ou o que mais se tiver vontade de fazer. Para ficar no exemplo do Jardim Botânico, são tantos metros quadrados de um gramado verde bem cuidado, árvores com sombras bastante agradáveis, que, pelo que comentam, não é difícil casais darem uma escapadinha da atribulada rotina do centro da cidade e darem uma passada lá para namorar e fazer algumas coisas a mais...

Outro exemplo de bom funcionamento é o sistema de ônibus, conhecido como o melhor da América Latina - o que não é exagero, como quase todos os outros títulos que os curitibanos atribuem a sua cidade. São tantas linhas, tipos de ônibus diferentes, interligações, que não há como não se admirar como toda aquela logística intrincada funciona bem, com ônibus saindo e chegando no horário. Tudo direitinho, correto.

Como se vê, essa é a principal impressão que tive de lá: uma cidade corretíssima, onde tudo funciona muito bem - ou parece que funciona muito bem, porque para afirmar de certeza só morando mais tempo lá.


Mate no Jardim Botânico

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segunda-feira, abril 16, 2007

Paraná

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Engraçado como aqui em Curitiba os jornais, a televisão e mesmo as propagandas promovem quase que desesperadamente um "orgulho" paranaense, por vezes até procurando relações improváveis que possam ajudar na criação de uma cultura local. Isso acontece, creio eu, porque aqui no Paraná não exista nenhuma cultura que minimamente possa ser chamada de autêntica; tudo parece ser importado de outros locais, até mesmo as pessoas. Ao menos em Curitiba, impressiona o ufanismo dos seus habitantes; tudo aqui é maior, melhor, mais organizado, como se glorificar a cidade fosse a única forma de dizer que eles existem, que aqui também é um lugar onde se produz uma cultura "autêntica", original.
No fundo, isso tudo é uma forma de disfarçar o coitadismo que eles inevitavelmente sofrem por importar tantas coisas e criar tão poucas...

O principal jornal daqui, a Gazeta do Povo, serve como exemplo. Numa notícia sobre a UFPR (Universidade Federal do Paraná), que informava sobre novos cursos que serão abertos nela, o título da matéria era o seguinte:

"3º maior do país, UFPR vai abrir mais cursos noturnos"

Um exagero o trecho até a vírgula , não?
Como se o fato de a UFPR ser a terceira maior do país fosse mais importante que a informação em si, que é a abertura de novos cursos noturnos.

O caso acima não é isolado; em praticamente todo os jornais daqui, assim como nos telejornais , há um exagero em exaltar as qualidades do estado, numa, pra mim, nítida necessidade de auto-afirmação, de mostrar que aqui não só se produz cópias do que de melhor foi feito em outros lugares mas que, também, há coisas originais.

Esse coitadismo disfarçado de ufanismo exagerado é ainda mais perceptível nas pessoas que moram em Curitiba. Todos parecem ter características copiadas de pessoas de outros lugares, como se o paranaense legítimo fosse uma soma de paulistas, catarinenses, gaúchos, cariocas, etc. Acabam, em sua maioria, sendo pessoas insossas, "normais" ao extremo. Em algumas andadas por aqui, não vi nenhuma loucura, ou mesmo aqueles malucos clássicos, bêbados, enfim, pessoas fazendo coisas que não se imagina, que te surpreendem. Claro, aqui existem lugares e pessoas interessantes, mas tudo parece ser normalzinho demais, perfeitinho demais, sem aquele tipo de erro que tornam as coisas mais interessantes.

Talvez seja pouco tempo para uma avaliação mais profunda, ou, então, essa minha primeira impressão (que não é bem primeira, porque já vim para o Paraná outras vezes e sempre tive essa sensação) pode ser derrubada em breve.
Mas não acredito muito nisso não...


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sexta-feira, abril 06, 2007

Singelo

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Do praticamente finado blog do Marcelo Camelo, vocal e guitarra do Los Hermanos:


eu sou só um você
que você não quis
e querer é coisa tão pequena
que só não sou você por um triz


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terça-feira, abril 03, 2007

Love

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Do mestre Julio Cortázar em Rayuela, cap. 93:

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Pero el amor, esa palabra... Moralista Horacio, temeroso de pasiones sin una razón de aguas hondas, desconcertado y arisco en la ciudad donde el amor se llama con todos los nombres de todas las calles, de todas las casas, de todos los pisos, de todas las habitaciones, de todas las camas, de todos los sueños, de todos los olvidos o los recuerdos. Amor mío, no te quiero por vos ni por mí ni por los dos juntos, no te quiero porque la sangre me llame a quererte, te quiero porque no sos mía, porque estás del otro lado, ahí donde me invitás a saltar y no puedo dar el salto, porque en lo más profundo de la posesión no estás en mí, no te alcanzo, no paso de tu cuerpo, de tu risa, hay horas en que me atormenta que me ames (cómo te gusta usar el verbo amar, con qué cursilería lo vas dejando caer sobre los platos y las sábanas y los autobuses), me atormenta tu amor que no me sirve de puente porque un puente no se sostiene de un solo lado, jamás Wright ni Le Corbusier van a hacer un puente sostenido de un solo lado, y no me mires con esos ojos de pájaro, para vos la operación del amor es tan sencilla, te curarás antes que yo y eso que me querés como yo no te quiero. Claro que te curarás, porque vivís en la salud, después de mí será cualquier otro, eso se cambia como los corpiños. Tan triste oyendo al cínico Horacio que quiere un amor pasaporte, amor pasamontañas, amor llave, amor revólver, amor que le dé los mil ojos de Argos, la ubicuidad, el silencio desde donde la música es posible, la raíz desde donde se podría empezar a tejer una lengua. Y es tonto porque todo eso duerme un poco en vos, no habría más que sumergirte en un vaso de agua como una flor japonesa y poco a poco empezarían a brotar los pétalos coloreados, se hincharían las formas combadas, crecería la hermosura. Dadora de infinito, yo no sé tomar, perdoname. Me estás alcanzando una manzana y yo he dejado los dientes en la mesa de luz. Stop, ya está bien así. También puedo ser grosero, fájate. Pero fijate bien, porque no es gratuito.

¿Por qué stop? Por miedo de empezar las fabricaciones, son tan fáciles. Sacás una idea de ahí, un sentimiento del otro estante, los atás con ayuda de palabras, perras negras, y resulta que te quiero. Total parcial: te quiero. Total general: te amo. Así viven muchos amigos míos, sin hablar de un tío y dos primos, convencidos del amor-que-sienten-por-sus-esposas. De la palabra a los actos, che; en general sin verba no hay res. Lo que mucha gente llama amar consiste en elegir a una mujer y casarse con ella. La eligen, te lo juro, los he visto. Como si se pudiese elegir en el amor, como si no fuera un rayo que te parte los huesos y te deja estaqueado en la mitad del patio. Vos dirás que la eligen porque-la-aman, yo creo que es al verse. A Beatriz no se la elige, a Julieta no se la elige. Vos no elegís la lluvia que te va a calar hasta los huesos cuando salís de un concierto. Pero estoy solo en mi pieza, caigo en artilugios de escriba, las perras negras se vengan cómo pueden, me mordisquean desde abajo de la mesa.

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segunda-feira, abril 02, 2007

Aniversário

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Passou o mês de março e eu me esqueci de falar sobre o dois ano do blog. Não que tenha muito o que falar, afinal, é apenas um blog. Mas, como no aniversário de um ano, é notável observar que através dele eu acabo percebendo que certas idéias minhas estão amadurecendo, dando lugar a outras com maior tempo de maturação - inevitável ou não, é assim que costuma acontecer, a cada ano, com muitos que percorrem o curto trecho dos vinte aos trinta anos como se, quando chegassem lá, tivessem que forçosamente parar de amadurecer, porque a partir de então pode correr-se o risco de antecipar todos os males que alguns anos mais tardes virão (e não serão tão males se virem na hora certa).

Aquela coisa jogada, fruto de uma grande curiosidade em tentar entender certas coisas e, através da fala/escrita, desenvolvê-las sem que elas ainda estejam consolidadas para mim, cedeu lugar aos poucos para uns, digamos, 'exercícios de pensamento', práticas que ter por objetivo a reflexão pura e simples, mais do que uma tentativa muitas vezes frustrada de entendimento de algo que ainda não se está preparado para entender.

Não que aqui está um 'filósofo' tentando buscar explicações para todos os males do mundo; é simplesmente alguém que quer se conhecer melhor e usa o que aqui é escrito para monitorar o próprio amadurecimento das idéias.

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domingo, março 25, 2007

Instantâneas (1)

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De vinil


Domingo de manhã. Não chove lá fora mas ameaça. Céu cinza claro, que tão bem combina com a preguiça do domingo. Abre-se a cortina do quarto; aos poucos a claridade também vai revelando a poeira deixada no chão avermelhado da noite anterior, regada à luzes confusas de abajur, amarelas como não há outro amarelo.
Amarelo. Cinza. Vermelho.
Silêncio na rua, iluminada em preto e branco pelo sol cinza de perto do meio dia. Alguns movimentos na rua tentam ser coloridos, mas se entregam quando vêem a fumaça, de um cinza mais escuro, saindo de algumas já acesas churrasqueiras.
Caminha-se tranquilamente até o banheiro, necessidades matinais. Caretas no espelho, à procura de espinha e das lembranças da noite anterior. Cozinha ainda escura, acende-se a luz p&b e o café é preparado.
O destino agora é o quartinho mais escuro ainda. O depósito, dos objetos inúteis da casa e das coisas que pararam no tempo, está dessarumado, almofadas ocupam o único sofá. Dá para sentar igual, assim como esticar as pernas e colocá-las na cadeira em frente da escrivaninha. Gole no café quente traz de volta a lembrança do dia anterior, quando o mesmo café era companheiro da idéia de deixar a manhã de domingo para se escutar música, somente. O aparelho ao lado do sofá acende a luzinha amarela, primeira imagem colorida do dia. Volta-se a atenção para ele. Caixa ligada começa a emitir um som gorduroso, a começar pelo baixo grandão e a terminar pela voz nitidamente gravada ao vivo, há uns 36, 37 anos atrás, mais precisamente.
O olhar para a parede cheia de medalhas, uma mão segurando a xícara de café, o ouvido quase grudado na caixa de som, o domingo se torna o mesmo de umas décadas atrás, quando, ainda como um projeto de nascimento na cabeça de uma jovem mulher, ele reinvindava um domingo como esses, musical e p&b, saído diretamente de um disco de vinil.


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terça-feira, março 20, 2007

Cortazarianas Beatniks (5)

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Com o meu outro blog em férias forçadas pelas diversas ocasiões pra lá de extasiantes ocorridas nos últimos dias, esse aqui pode vir a ser atualizado mais frequente, sem mais posts pedindo desculpas a si mesmo.

Retomo aqui uma velha seção nomeada "Cortazarianas Beatniks". O nome dela já diz tudo de suas influências, embora não especifique muito bem quais suas verdadeiras intenções. Creio que seja como um treino, um exercício de criação de metáforas.

Esse trecho abaixo é retirado de um possível conto meu, nomeado Passeio:

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É então que junta sua cabeça com o joelho e encosta ambos na mesma única pedra presente, para desta forma sentir a estranha trepidação que o percorre por dentro, indo do último fio de cabelo encharcado ao dedo do pé aquecido dentro do tênis que reúne todas as forças possíveis para se juntar ao restante do corpo e encostar-se à pedra, que agora parece estar quente com uma secreção brotada dele, e é através desse líquido que a pedra vai revelando, na mesma velocidade com que vai sendo molhada, os diversos destinos que parecem se agrupar em pequeninos pontos que agora preenchem toda a vasta superfície da pedra e que a transformam em uma poça d’água que ele acaba de pisar, revelando, como num espelho quebrado, as diversas facetas grotescas das escoriações que estão no seu corpo como lâminas enfileiradas numa suposta formação de um conjunto marcial apontando para os mesmos destinos que antes se revelaram na superfície da pedra, infinitos, desconexos, mas formatados e direcionados à algum lugar já conhecido (...)
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segunda-feira, março 12, 2007

Correria

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Correria de final de curso, início da vida pós-moleza de estudar, comer, durmir e outras cositas mais sem se preocupar em se sustentar.
Aqueles períodos em que o "inconsciente" pede para ser escutado e a correria das obrigações para amanhã, estritamente necessárias para ontem, torna isso impossível. Mas vai ter uma hora, talvez a hora certa, que a "resposta" do insconsciente, a tanto tempo trabalhada e praticamente pronta, sairá ao natural, e vai trazer o caminho a ser seguido.
Talvez o melhor caminho, talvez o por mais tempo desejado, talvez o tão difícil que até se tenha esquecido, talvez o mais fácil e burocrático: ainda não tive tempo para escutá-lo e saber o que ele me apresenta.
Mas semana que vem farei isso.

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terça-feira, fevereiro 27, 2007

Na pior

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"Oh, mal contundente, a condição da pobreza"
Chaucer



Término de faculdade, começam a se fazer planos breves para os meses que virão, escolher qual dos inúmeros caminhos que se apresentam nesta época será o inicialmente traçado.

Numa dessas muitas caminhadas sem rumo que servem de válvula de escape para a cabeça planejar alguma coisa, entrei numa livraria daqui – a Cesma – e fui dar uma vasculhada nos livros, procurando idéias que pudessem me fazer escolher um dentre esses caminhos.

De cara, na prateleira dos livros de jornalismo, achei um de capa amarela, do George Orwell. O título me chamou atenção: “Na pior em Londres e Paris - a vida de miséria e vagabundagem de um jovem escritor no fim dos anos 1920”.

Eu, que sempre quis viajar sem rumo durante o maior tempo que conseguisse agüentar sem ter uma casa fixa, tinha como um dos caminhos pós-formatura justamente esse, de viajar e passar trabalho, porque não vai ter outra época tão propícia a isso quanto esta, dos vinte e poucos anos sem nada de muito fixo com que se prender em determinado local.

Comprei o livro, com a expectativa dele me trazer algum tipo de inspiração para viajar, uma redenção na experiência de “estar na pior” em lugares tão distintos e interessantes quanto Londres e Paris.

Bom, terminado de ler a primeira parte, que trata dos anos que Orwell viveu na miséria mesmo em Paris, dá para se dizer que ele realmente trouxe uma inspiração, mas não bem uma sensação de redenção de “estar na pior”.

Orwell conta tão em detalhes das situações de pobreza que passou – os dias sem comer nada e os dias comendo pão seco, as semanas sem tomar banho, os trabalhos escravos nos porcos hotéis e restaurantes franceses – que é difícil querer passar por situações exatamente iguais aos que ele passou.

Parecidas, quem sabe, mas não bem por ser algo “redentor”, que trará uma nova “perspectiva” de vida, de valorizar certas coisas banais como ter o que comer e onde morar, e sim por um grande interesse meu em querer viver papéis diferentes em lugares diferentes, independente de quanto eles podem ser extenuantes – ainda que dentro de um limite do “tolerável”, o que Orwell, por vezes, até passou da conta, trabalhando 17 horas por dia, por exemplo.

Tenho um desejo, que não é nada secreto, de fazer muitas e variadas coisas: ser marinheiro na Noruega, estivador no Chile, pescador no Havaí, garçom em Paris, colhedor de frutas no interior da França, dentre outras coisas tão semelhantes e diferentes. Viver situações inusitadas - os momentos “modestamente excepcionais” que fala o Cortázar – em lugares inusitados, com pessoas inusitadas; E, se para tais momentos, precise passar trabalho, não há problema: passa-se trabalho.


Não há um objetivo definido em querer viver desta maneira; talvez, seja exatamente a falta de um objetivo fixo e bem delimitado para toda uma vida que sirva de motivação para se querer ter esse tipo de vivência, múltipla e notadamente instável.


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sábado, fevereiro 24, 2007

Normal

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Monografia entregue, férias até segunda ordem.
Então, o Subbacultcha volta ao seu "normal".
Em breve, ele irá se preparar para algumas mudanças....


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sexta-feira, janeiro 19, 2007

Devagar

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O Subbacultcha tá devagar, mas é por hora. Até início de março estou envolvido com a monografia, então as postagens serão esparsas.
Mas, pensando um pouco, o blog sempre foi imprevisível: tinha vezes que ele era atualizado diariamente, outras semanalmente, algumas poucas até mensalmente. É assim mesmo. Ele vai completar quase dois anos, talvez aqui seja o melhor lugar em que a minha "evolução" no aspecto texto seja melhor percebida. Quem sabe ele continue sendo esse lugar por um bom tempo...

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sexta-feira, janeiro 12, 2007

Prefácios (3)

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Daniel Pellizzari e o seu "O livro das cousas que acontecem", lançado pela Livros do Mal, temporariamente finada editora do Daniel Galera e do Pelizzari.
O livro é de contos, e quase todos tem um prefaciozinho. Escolhi o prefácio do livro inteiro, os de alguns contos, e o posfácio. Aí vão alguns deles, na ordem:



"Tudo são buracos, dizia um velho professor de vernáculo, hoje num deles - e eu sigo-lhe a lição à risca, muito melhor que ir ao cinema ou ao teatro, aqui não há camuflagens, as coisas simplesmente acontecem"


Campos de Carvalho, Vaca de Nariz sutil



"So i wasn't dreaming, after all, she said to herself, unless - unless we're all part of the same dream"

- Lewis Carrol, Through the Looking-glass.

No conto "Agosto".



"Agora estou doente: nós vamos ser felizes. Enfim estou doente"

- Georges Bataiile, O azul do céu


No conto "História de amor#62".



"Se o ranho não tivesse feito de mim um homem, eu teria me tornado um ranhoso em vez de um homem"


- M. Aguêiev, Romance com cocaína


No conto "O próprio sêmen".


"E ademais, tudo bem considerado, é verdade que em tudo isso há alguma coisa. Por mais que se diga, aventuras como esta acontecem neste mundo, sendo raras, mas acontecem."

Nikolai Gógol, O Nariz

Pósfácio.

Como se vê, todos eles tem uma sequência lógica, ou, talvez, que ajudem a contar uma história.


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sábado, janeiro 06, 2007

teste

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Caralho, inventaram um programa que atualiza o blog sem estar conectado a internet. Não sei se acho legal ou fico com medo do que amanhã poderá vir...
Mas, por hora, é só um teste mesmo.

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quinta-feira, janeiro 04, 2007

New year's life

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2007, e logo não restará mais faculdade para fazer, tempo livre para se cansar de pensar em coisas aparentemente importantes, quarto para cansar de ficar, rua para caminhar sem preocupação, trem para olhar sentado junto a um cigarro, etc, etc,

Quem sabe apareçam ruas apinhadas de gente para não-caminhar, luzes para confundir a vista cansada do final do dia, infinito no horizonte para não enxergar, pessoas novas para consertar feridas e, acima de tudo, pouco tempo para pensar em coisas aparentemente inúteis e muito tempo para fazer coisas aparentemente importantes.

Questão de aparência, ou de ponto de vista, um desafio a mais para uma vida aparentemente tão vazia de verdadeiros desafios - daqueles de te levar ao inferno profundo e te fazer voltar tão chamuscado que para sempre as chamas te acompanharão, seja lá onde elas se fixem no teu corpo - que o primeiro que apareçe com a imponência que o nome traz, Desafio, com letra maiúscula para não deixar dúvida de sua potência, provoca apenas umas nuvens no horizonte que nunca foi claro, mas sempre pareceu ser.

Ou seja, se até hoje as complicações foram poucas e criadas para exatamente tentar suprir a falta delas, agora estas ainda não se apresentam como todos as descrevem porque, ainda, não tiveram a importância de sua falta reconhecida para finalmente aparecerem e propor o Desafio.

Será inevitável a inconsciente busca, preparação e posterior solução dos desafios criados por nós? Ou será que é possível, como agora me parece (e acabo de entregar que por hora realmente é) ter um controle mínimo, por mais caótico e intencionalmente sem um aprofundamento maior que seja, da frequência com que eles apareçem, como uma chamada escolar, para então bolar planos e mais planos sem sentido para se tirar o máximo de cada uma das ocorrências que, agora mapeadas, podem signficar mais do que realmente seriam se não tivessem sidos descobertas?

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