domingo, junho 26, 2005

Parte do texto de Luiz Gonzaga Beluzzo sobre essa coisa toda que nós estamos vivendo no Governo Lula.
Aliás, é a primeira vez que acompanho diretamente uma crise política, que tenho uma certa consciência do que está acontecendo.

"Pensar siginifca transpor", diz o filósofo Ernest Bloch. E explica: "Transpor de tal maneira que aquilo que está aí não seja ocultado nem omitido. Nem na sua necessidade, nem mesmo no movimento para superá-la.Nem nas causas da necessidade, nem mesmo no princípio da virada que nela está amadurecendo. O futuro contém o temido e o esperado. Numa sociedade em declínio, que não consegue achar uma saída para a decadência, o medo se antepõe a crise e se contrapõe a esperança."

quarta-feira, junho 22, 2005

Na correria dos últimos tempos, me esqueci do blog. Pela segunda vez.
É algo complicado manter um blog atualizado tendo a preguiça de marcadora implacável, com mais disposição que o Dunga na copa de 94 e com mais classe e esperteza que o Gamarra na zaga do Paraguai.

Abaixo vai o roteiro do documentário de rádio que eu fiz para a minha ultima disciplina de rádio. É sobre o Bob Dylan, pra encerrar a minha "fase" Bob Dylan, começada por esse documentário, continuada pelo livro dele Crônicas e botada pra dormir depois de uma overdose de escuta da "coletânea" que fiz com as músicas dele.Tenho fases para escutar música, ora gostando de uma banda, ora fascinado por outra, ora por outra, mas o curioso (ou não) é que essas fases sempre se repetem. Já tive umas 10 fases do Pearl Jam, que foi a primeira banda que eu Gostei mesmo, com G maiúsculo, e até hoje, talvez por ser a pioneira, é a que eu mais tenho carinho, que sempre cito quando se pergunta que banda tu gosta, ou mias curte. Coisas assim.


Rádio Universidade Documenta (Bob Dylan)

Em 1961, Enquanto o americano John Kennedy assumia como presidente nos Estados Unidos e comprava briga com Cuba e os socialistas

Enquanto o russo Yuri Gagarin fazia o primeiro vôo espacial tripulado e despertava os Estados Unidos para a corrida espacial

Enquanto o artista pop por excelência Andy Warhol criava a sua famosa obra usando as latas de sopa Campbell como tema

Enquanto os Beatles ensaiavam ser uma banda famosa com algumas pequenas excursões pela Europa

Enquanto tudo isso e mais um monte de coisas aconteciam pelo mundo, Robert Allen Zimmerman chegava em Nova York ,vindo do interior dos Estados Unidos, destinado a inventar um dos maiores artistas do século 20 - Bob Dylan.

Primeiro poeta da música pop, Dylan transitou pelos mais variados estilos musicais – folk, rock, country, blues, pop - sem nunca perder o lirismo e a qualidade de suas letras. Ora faz críticas contundentes e ácidas a sociedade e seus governantes, ora baladas doces e cruéis sobre o amor. No fim, o objeto de suas letras sempre foi o mesmo: o homem e o seu tempo.

Dylan chegou em Nova York disposto a, inicialmente, participar da cena folk existente, mesmo que o violão e voz tradicional do estilo fosse considerado uma “porcaria”, lançada por selos pequenos e ainda sem prestígio no país.

Depois de gravar um álbum predominante cover, em 1962, no ano seguinte Bob Dylan lança o primeiro disco com músicas próprias. The Freewheelin Bob Dylan já trazia algumas músicas que se tornariam clássicos atemporais da música pop contemporânea, como “Masters of War”, “ A hard rain’s A-gonna Fall” e “Blowin’in the Wind”.

Em seu livro Crônicas, Volume Um, uma espécie de auto biografia lançada este ano pela editora Planeta, Dylan diz : “o que eu tocava na época era canções folk com letras fortes e atrevidas, e você não precisa de pesquisas de opinião para saber que elas não combinavam com nada das rádios. As canções folk transcendiam a cultura imediata” .

Estabilizado em Nova York, Dylan gravou nove álbuns de 1963 à 1970, sendo que destes nove pelo menos quatro podem ser considerados como dos mais importantes da história do rock e da música pop . São eles: Bringing It All Back Home, de 1965, com músicas como Maggie’s Farm e Mr. Tambourine Man.

Também de 1965, Highway 61 Revisited, da clássica Like a Rolling Stone, uma das músicas mais famosas de Dylan, baseada em um conto seu que fala sobre uma garota que perde todo seu dinheiro e passa a viver vadiando pelas ruas, sentindo na pele o que outrora sempre desprezou.

Blonde on Blonde, de 1966, tem um clima circense , e conta com uma das mais belas baladas de Dylan: Just Like a Woman

John Wesley Harding, de 1968 , tem All along the Watchtower, música regravada e popularizada por Jimi Hendrix. A letra fala de um apocalipse iminente contado de trás para frente

Na primeira metade dos anos 70, Dylan foi muito cobrado pela críticos. Eles diziam que o músico tinha “decaído” em suas composições, que estava apenas se repetindo.

Como Dylan nunca se preocupou com as críticas, em 1973 gravou Knockin”on Heaven’s Door para o filme de faroeste Pat garret e Billy the Kid ,do diretor Sam Peckinpah. A música foi um dos maiores sucessos do músico, regravada inúmeras vezes. O brasileiro Zé Ramalho fez a sua versão para o português, com o nome de Bate na Porta do Céu

Ainda nos anos 70, Dylan gravou o álbum que é considerado por muitos críticos como o melhor de sua carreira: Blood on Tracks, de 75.
Diferente da raiva e do cunho político dos anos 60, em Blood on Tracks Dylan fala de si, da dor que sentia depois de acabar com sua esposa, Sara.

Cada letra é uma história completa, um pequeno conto sobre amor, solidão e perda. O instrumental simples destaca bem o conteúdo das letras, como se Dylan quisesse que prestássemos atenção apenas no que realmente importa na vida. A faixa nove, If you see her say hello, é uma das mais tristes do álbum.

Em Shelter from the Storm, faixa nove de Blood on Tracks, Dylan usa uma metáfora poderosa para falar da salvação através do amor:

Foi em uma outra vida
Uma de labuta e sangue
Quando trevas eram uma virtude
E a estrada estava coberta de lama
Eu cheguei do ermo
Uma criatura vazia de formação
"Pode entrar", ela disse
"Te darei abrigo da tempestade"
...De repente eu me viro
E ela está ali de pé
Com braceletes de prata nos seus pulsos
E flores em seu cabelo
Ela se chegou em mim tão graciosamente
E retirou minha coroa de espinhos
"Pode entrar", ela disse
"Te darei abrigo da tempestade"
Agora existe uma parede entre nós
Algo se perdeu
Fiquei mal acostumado demais
Fiquei com os sinais cruzados
Só de pensar que tudo começou
Em uma longa esquecida manhã
"Pode entrar", ela disse
"Te darei abrigo da tempestade."

Um ano depois, em 76, Dylan retoma seu lado político. A canção Hurricane, do álbum Desire, é um manifesto contra a prisão do boxeador Rubin Carter, acusado injustamente de assassinato. No refrão Dylan deixa bem claro sua intenção com a música.

A letra diz : aí vem a história do Furacão, o homem que as autoridades acabaram culpando por algo que ele nunca fez , colocando numa cela de prisão, mas houve um tempo em que podia ter sido o campeão mundial.

Em 1999, foi feito um filme contando a história de Robin Carter, interpretado por Denzel Washington. A música de Dylan fez parte da trilha sonora.

Como todo grande artistista, Dylan teve seus altos e baixos.O período do final dos anos 70 até o início dos 80 pode ser considerado um dos mais baixos de Dylan .

Mesmo gravando discos e fazendo shows, Bob Dylan já não tinha a mesma inspiração de antes. Retrato dessa fase é o album Saved, de 1980, que apresenta um Bob Dylan “cristão”, com letras de quase louvor a Deus. Felizmente, a fase durou pouco.

Nos anos 90, Dylan diminuiu o ritmo de sua produção, o que não afetou em nada na sua qualidade. O disco Unplugged, de 95, deu nova roupagem à alguns clássicos, apresentando o artista à nova geração.

Dois anos depois, recebeu um prêmio grammy pelo album Time out of Mind, de 97, e um oscar pela canção Things have changed. Mesmo com a saúde um pouco abalada, Dylan ainda permanecia o mesmo aritsta, agora com o acréscimo da sabedoria da maturidade.

Hoje em dia, Dylan não pensa mais em gravar albuns. Ele não tem mais a ambição de abalar as estruturas, embora rumores de que ele possa entrar em estúdio para agravar um disco novo surjam a todo momento. Mas Dylan pode ficar sossegado: a sua contribuição para a cultura e a música pop já foram dadas.

Mais do que inventar um dos grandes artistas do século XX, Robert Allen Zimermann – vulgo Bob Dylan – conseguiu uma façanha ainda maior: se reinventar.

Quando a crítica taxou-o de repetitivo, Dylan mostrou que poderia ser surpreendente e cantar as dores de um coração partido, como fez nos anos 70.

Quando acharam que a conversão ao cristianismo seria definitiva e afetaria para sempre suas músicas, Dylan lançou um album chamado “infiel” e mostrou que o louvor a Deus em suas músicas era passageiro.

Quando acharam que ele estava velho e não tinha mais nada a dizer, Dylan mostrou que sua veia de protesto, mesmo em um mundo tão diferente quanto o da sua juventude, ainda era forte.

Ao se reinventar, Dylan criou um outro problema: sua importância é tanta que ele não serve mais como parâmetro para nada. É um caso a parte.

É muito difícil que um novo artista consiga superar a trajetória de Dylan, ou mesmo exercer papel tão importante quanto o dele na música pop.

O músico e compositor Fausto Fawcett diz sobre a importância de Bob Dylan para a música pop:
“A música pop sempre haiva sido feita para os hormonautas, os adolescentes. Dylan deu um nó nisso. Ele forneceu um enlevo acima do burburinho intelecutal, o que forçou o jovem a não ser tão sonolento .”


Eduardo Bueno, no pósfacio da edição brasileira do livro de Bob Dylan, Crônicas, Volume Um, diz:

“Bob Dylan sempre foi um sujeito com um violão e um ponto de vista.Ou com uma guitarra e um ponto de vista. Ou com sua banda ( a única boa o suficiente para ser chamada apenas de The Band) e um novo e indecifrável ponto de vista. Os pontos de vista acabaram se tornando um mapa para a história da música pop depois de 1962. A trilha que ele abriu, e ao longo do qual percorreu todas as estações, manteve seus seguidores permanentemente à beira do abismo.
Bob Dylan sempre fingiu que é dor a dor que deveras sente.



(com algumas alterações, já que foi feito para rádio, né.)

segunda-feira, junho 13, 2005

Umnh.
Nunca fui de acreditar em horóscopos, mas de vez em quando me rendo a alguns de seus conselhos.
Sim, porque os horóscopos - aqueles clássicos de jornais - só dão sugestões, conselhos . É meio que um ciclo: são tantas pessoas, caminhos diferentes, que , em algum momento, as pessoas vão se identificar com aquilo que tá escrito. É como um "super amigo", uma pessoa que tenha milhões de amigos espalhados pelo mundo e goste de dar conselhos para todos. Se somos um amigo dessa pessoa, em algum momento um de seus conselhos vai servir pra nós.
Tá, outro dia termino isso.

Escutando: bob dylan - blood on tracks

quinta-feira, junho 09, 2005

Nunca tinha me dado conta antes, isso é lamentável. Mas o jornalista é um eterno frustrado, o nº1 do país dos frustrados, o rei da frustradaria.
Veja só:

1)Jornalista deve ser jornalista 24 horas por dia. Nunca desligar, sempre estar "a par" das coisas realmente relevantes que acontecem no nosso país.
Tá.

2)Devendo estar "a par" de tudo o que acontece no país e no mundo, é humanamente impossível saber tudo de tudo que se quer ou se deve estar "a par".
Ok.

3)Como não se têm condições de saber tudo de tudo que se deveria estar "a par", os jornalistas acabam sabendo "um pouquinho" de cada coisa, para - se ao menos não estarem - fingir que estão " a par".
Aham.

4)Sabendo um pouquinho de cada coisa que o jornalista deveria estar "a par", ele só pode puxar uma conversa, por exemplo, e nunca ir até o final, já que ele não tem argumentos suficientes, pois ele sabe apenas "um pouqinho" para estar "a par".

Conclusão: O jornalista é um frustrado, pois o ofício lhe exige que esteja "a par" de tudo , sem nunca saber "a fundo" nada. O jornalista vive na superfície do conhecimento. Sabe um pouqinho de tudo, muito de nada.
A esperança de fugir da frustração está na infância do jornalista. Crescer com uma paixão por alguma coisa como música, literatura, cinema, esporte ou política o faz ter algumas chances de fugir da superfície em pelo menos algum assunto. Mas, mesmo assim, a paixão criada na infância de nada vale se não for alimentada durante a adolescência, principalmente, e em toda a vida.
Mas como o jornalista deve estar sempre "a par" de tudo, ele acaba não tendo tempo de poder alimentar decentemente sua paixão de infância. Resultado: frustração.


É. Por qualquer caminho que se siga, a frustração vai ir atrás, correndo lado a lado, por muitas vezes tomando a frente, e por algumas muito poucas vezes ela ficará para trás. Resta os jornalistas colocarem um foguete nas costas da frustração, mas de modo que ela vá para trás.
Mas como?
Como?

segunda-feira, junho 06, 2005

Nada.

Depois de um dia extremamente cansativo, uma noite de (bom) sono - coisa rara em muito tempo - , de um jogo interessante sem qualquer tipo de sofrimento, de um churrasco como há muito não via - com direito a sobremesa caprichada e salada excelente(milagre!) -, de uma volta no centro cheio de pessoas tomando mate e "se caçando", de um filme/animação filosófico maluco e "profundo" como um livro do Sartre ou do Kant, de um começo de roteiro de documentário de rádio sobre o Bob Dylan extremamente legal e recompensador ,de calor quase "veranil" em pleno junho, de uma expectativa de começo de semana não tão atribulada quanto às anteriores, de uma pequena vontade - não inspiração - extraordinária de escrever alguma coisa de ficção, enfim, depois de tudo isso, eu vou dormir.

sexta-feira, junho 03, 2005

Internet é um negócio estranho. MSNs e assemelhados trazem uma relação de proximidade, intimidade - amizade até - em pouquíssimo tempo. Muito mais que telefone, muito mais rápido que pessoalmente, porque no cara a cara tem todo aquele jogo do olhar - o mais importante - , dos gestos, da entonação da voz, do lugar de onde se está falando que atrasa bastante a intimidade. O problema em todos os casos de aproximação é o medo das consequências, que pessoalmente é muito mais forte.É muito mais difícil se fingir algo na frente da outra pessoa, o desprezo da outra parte vai ser evidente, claríssimo.
Nos MSNs da vida a gente tem um contato tão íntimo com certas pessoas, é engraçado de se observar. A aproximação é mais fácil; basta perguntar por algum gosto em comum que o papo já flui. E tem aquela coisa da despedida também, que tu sempre manda "beijos". Ora, é fácil escrever "beijos", difícil é dar um beijo de despedida em alguém, mais ainda é desejar pessoalmente um "boa noite" ou um "dorme com os anjos", "sonha comigo" . A falta de um olhar, mais do que gestos e a voz, faz a aproximação ser mais fácil. Mas será que sendo cego é mais fácil de se aproximar das pessoas?
Sei lá. Pode ser besteira.Complicado...

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Engraçado: a cada dia de faculdade me sinto mais incompetente com o que eu faço, mas, ao mesmo tempo, mais feliz comigo mesmo. Parece que nasci para ser incompetente,para incetivar os outros a fazerem algo que eu quero mas por preguiça não faço,passo para outro, como se o outro fazendo eu me realizasse, não por completo, claro, mas por parte. E , por ser incompetente, parece que me contento em me realizar por parte.
Por mais que para outra pessoa isso possa parecer um excesso de pessimismo da minha parte, eu me sinto bem dizendo isso, nada triste. É engraçado...


Escutando: Iggy Pop - The passenger

"I am the passenger
And I ride and I ride
I ride through the city’s backside
I see the stars come out of the sky
Yeah, they’re bright in a hollow sky
You know it looks so good tonight"
Pois é. Radicalmente diferente de humor hoje.

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Da mesma forma, radicalmente sem inspiração pra escrever. Talvez estando angustiado e meio "down" seja mais fácil escrever, realmente. Ou de tanto pensar que seja mais fácil acaba se fazendo uma auto-indução.Ou sei lá também....

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Bob Dylan - The times they are A-changin'

Come gather 'round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You'll be drenched to the bone.
If your time to you
Is worth savin'
Then you better start swimmin'
Or you'll sink like a stone
For the times they are a-changin'

Lendo: Bob Dylan, Crônicas Volume Um.