quarta-feira, janeiro 25, 2006

Cenas Buenairenses (1): Jardim Botânico

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No meio de um bairro, Palermo, considerado "chique", de classe média e alta, a algumas quadras de lojas com preços para uma roupa ou uma bolsa acima da casa dos mil pesos, cercado por robustos prédios de apartamentos de 10,12 andares e margeado por uma avenida com nome de província argentina (Santa Fé), há o Jardim Botânico de Buenos Aires. Majestoso, mas não tão imponente, serve de refúgio para quem:
a) quer ler um livro estirado na grama ou bem sentado nos inúmeros bancos;

b) não tem como ir a praia e quer deitar em algum lugar para tomar banho de sol ( a grama , em certos locais, é mais fofa que a areia de muitas praias, mas tem o acréscimo, que a areia só oferece para quem tem alergia, da cosquinha, nem sempre bem vinda; uma toalha qualquer resolve o problema )

c) tem filhos pequenos, mora em apartamento e precisa de um lugar para que os filhos possam correr, deitar, rolar, brincar, até gritar, sem se preocupar com nada além da ameaça a integridade física dos seus filhos que as ações citadas possam causar;

d) gosta de gatos ( há perto de 50, brancos, pretos, malhados, cinzas, todos criados e , provavelmente, nascidos ali mesmo, talvez a explicação deles serem tão dóceis a ponto de pular no colo de quem senta sem esse estar oferecendo comida)

e) quer tomar um mate e jogar conversa fora, na sombra ou no sol, seja às 10 e 31 da manhã ou às 19 e 15 da tarde (demora a anoitecer, entre 20:45 e 21:15);

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Como todo jardim botânico que se preze, tem muitas árvores, algumas com seus dados de identificação em placas , e muitos bancos, que embora a grande quantidade, ainda assim não são fáceis de se ver desocupados.
Há gente de todas as idades, e , parece, também de todas as classes sociais; de executivos de terno descansando em algum banco a casal de aposentados tomando seu mate, passando por estudantes deitados ao sol lendo, garis uniformizados conversando alegremente, turistas europeus 'sacando una foto', gurias adolescentes conversando estiradas na grama e um velho maltrapilho parecendo um mendigo.

Sentar descompromissado em algum banco por uma hora, duas, é uma boa forma de observar, e conhecer, o comportamento dos portenhos. E também de gostar ainda mais do jardim Botânico, lugar fértil de se criar impressões e aprazível para torná-las consistentes. Pode até ser um parque como qualquer outro, mas só se for numa classificação grandiosamente comparativa e radicalmente racional, feita , talvez, por gente que nunca frequentou o lugar e nunca se deu ao esforço de querer entender aspectos culturais/comportamentais dos povos e lugares que percorre - ainda mais de um povo tão sentimental, passional e observador como os argentinos.









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