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Algumas palavras sobre o show do Pearl Jam segunda, no gigantinho, em Porto Alegre. Da Zero Hora:
"Conta-se nos dedos de uma mão os shows de rock realizados em Porto Alegre tão arrebatadores e comoventes como este do Pearl Jam na segunda à noite, no Gigantinho. A competência, o carisma e empatia dos cinco amigos que sobre o palco parecem se entregar ao seu público com a mesma paixão e diversão dos tempos da efervescência grunge nos bares de Seattle, mais de 10 anos atrás, em combinação com a grande expectativa dos fãs, criou no ginásio um quase indescritível astral de celebração - que poderia ser ilustrado pela quantidade de gente chorando no acender das luzes."
Desabafo de um fã (eu):
"Acho que nunca fiquei tão emocionado quando na hora que eles tocaram "Alive"; minha banda predileta tocando, na minha frente, a minha música predileta, a que eu mais gostei e escutei até hoje, e ainda contando com o coro de 12.500 pessoas, a maioria abraçados, levantando a mão, pulando, chorando, gritando...
Catarse total."
quarta-feira, novembro 30, 2005
segunda-feira, novembro 28, 2005
Pearl Jam
Deixando a impessoalidade de lado:
Hoje vou realizar quase que um sonho de muito tempo: ver um show da minha banda preferida. A primeira que eu comprei um cd, a primeira que eu fui conhecer a fundo, a primeira que eu comprei uma camiseta, a primeira (e talvez única) que eu "torço", aquela que tem as letras as quais eu mais me "identifico" , a única que até das músicas ruins eu sou capaz de gostar, coisa e tal. Ainda de brinde virá uma outra banda na abertura que eu também curto bastante, Mudhoney.
P.S: Desculpem o sentimentalismo exacerbado, mas é a minha banda preferida, pô!
Hoje vou realizar quase que um sonho de muito tempo: ver um show da minha banda preferida. A primeira que eu comprei um cd, a primeira que eu fui conhecer a fundo, a primeira que eu comprei uma camiseta, a primeira (e talvez única) que eu "torço", aquela que tem as letras as quais eu mais me "identifico" , a única que até das músicas ruins eu sou capaz de gostar, coisa e tal. Ainda de brinde virá uma outra banda na abertura que eu também curto bastante, Mudhoney.
P.S: Desculpem o sentimentalismo exacerbado, mas é a minha banda preferida, pô!
sábado, novembro 26, 2005
Broken Hearts
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Micro conto (sem limite para o título, 50 palavras para o resto).
Diálogo de um casal que tinha tudo para dar certo, mas que ela não conseguiu gostar dele como ele gostava dela.
_...
_É assim mesmo, querido.
___________________________________________________________
"I don’t know why but I’m feeling so sad
I long to try something I never had"
Billie Holiday - Lover man
Micro conto (sem limite para o título, 50 palavras para o resto).
Diálogo de um casal que tinha tudo para dar certo, mas que ela não conseguiu gostar dele como ele gostava dela.
_...
_É assim mesmo, querido.
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"I don’t know why but I’m feeling so sad
I long to try something I never had"
Billie Holiday - Lover man
quarta-feira, novembro 23, 2005
Complexo de Cavalheirismo
Um texto interessante, de um "mal" da pós-modernidade.
O Complexo de Cavalheirismo
Certas pessoas, as que sofrem mais para "dar certo" em relacionamentos, sofrem de um mal cada vez mais comuns nos tempos modernos: o complexo de cavalheirismo. Com o advento da "paridade" de comportamento entre homens e mulheres no relacionamento, de uma igualdade que sempre deveria de ser assim mas que só agora, quebrada a barreira cultural que inferiozava as mulheres, é, muitos homens afetados pelo caótico pós-modernismo tentam tratar as mulheres da forma que eles acham que elas merecem, ou seja, a melhor possível.
Gostam de fazer coisas que até algumas décadas atrás eram tabus, como discutir o relacionamento, porque querem agradá-las da melhor maneira, esclarecer as dúvidas do relacionamento a fim dele ficar mais forte e durável.
Gostam de ser carinhosos com suas parceiras por necessitarem disso, claro, mas o individualismo de alguns anos atrás deu lugar a uma preocupação maior com o outro( a outra, no caso) e isso faz com que eles dêem carinho e atenção em dose dupla, por precisarem e por achar que as mulheres também precisam.
Mas toda essa preocupação, essa percepção de certa forma inédita do homem pós-moderno, não encontra respaldo no outro lado, o feminino. Por mais que a igualdade está definida e não mais têm volta (na verdade, isso sempre foi definido, mas só agora percebido), em certos aspectos a mulher moderna parece que sente "falta" de certos costumes das suas antepassadas recentes que eram muito cortejadas antes e muito servis a quem os cortejou depois. Elas não entendem quem quer "discutir a relação"; acham estranho algum homem querer saber como anda o tal relaciomento e questioná-lo na tentativa de o fazer mais forte, menos suscetível a objeções externas, e essa não-compreensão parece realçar a busca de costumes das antepassadas que ainda não eram consideradas "iguais". Então, buscam aquele que guarda certos traços dos homens daquela época, como por exemplo o entendimento do casal não se dar na discussão, mas na ação ou na falta dela.
O complexo de cavalheirismo, esse paradoxo de doença, se caracteriza por guardar alguns resquícios do homem que tinha a mulher como apenas "companheira para cuidar dos filhos", como o cortejamento antes da relação, e características do homem pós-moderno, como o respeito à igualdade dos sexos e a busca de uma melhor compreensão do outro lado. Só que, ao contrário de ser uma vantagem, o complexo de cavalheirismo, como o nome já diz, é um mal, uma doença, pois parece que no ponto em que o homem portador é conservador, a mulher é liberal, e no ponto que ele é liberal - como buscar o entendimento através de "discutir a relação" - ela é conservadora. Um desencontro certo.
Receitas para o portador do complexo de cavalheirismo são pouco confiáveis ainda, visto que é um mal do pós-modernismo que não teve tempo para o estudo detalhado. Mas algumas sugestões de cura causam bons resultados até, apesar de serem vistas por alguns como bastante polêmicas: tornar o homem portador menos cavalheiro, mais da ação do que das palavras, evitar o "discutir a relação" e passar para o "perceber a relação". Outra sugestão, ainda mais polêmica e difícil, é buscar as companheiras que guardam bastante pontos em comuns com suas antepassadas, as que ainda mantêm os costumes antigos e não gostam da tal modernização. Mas, na medida que o homem portador tem um certo nível de "inquietude intelectual" e não consegue pensar que está tratando uma mulher como um homem antigo, rude, cruel às vezes, se torna bastante difícil a cura por essa sugestão.
O que resta ao portador é se divertir enquanto a dita "alma gêmea", um fruto da pós-modernidade com a antiguidade clássica, não se apaixone verdadeiramente por ele, pois se isso acontece, tudo muda e se torna mais difícil de dar errado.
O Complexo de Cavalheirismo
Certas pessoas, as que sofrem mais para "dar certo" em relacionamentos, sofrem de um mal cada vez mais comuns nos tempos modernos: o complexo de cavalheirismo. Com o advento da "paridade" de comportamento entre homens e mulheres no relacionamento, de uma igualdade que sempre deveria de ser assim mas que só agora, quebrada a barreira cultural que inferiozava as mulheres, é, muitos homens afetados pelo caótico pós-modernismo tentam tratar as mulheres da forma que eles acham que elas merecem, ou seja, a melhor possível.
Gostam de fazer coisas que até algumas décadas atrás eram tabus, como discutir o relacionamento, porque querem agradá-las da melhor maneira, esclarecer as dúvidas do relacionamento a fim dele ficar mais forte e durável.
Gostam de ser carinhosos com suas parceiras por necessitarem disso, claro, mas o individualismo de alguns anos atrás deu lugar a uma preocupação maior com o outro( a outra, no caso) e isso faz com que eles dêem carinho e atenção em dose dupla, por precisarem e por achar que as mulheres também precisam.
Mas toda essa preocupação, essa percepção de certa forma inédita do homem pós-moderno, não encontra respaldo no outro lado, o feminino. Por mais que a igualdade está definida e não mais têm volta (na verdade, isso sempre foi definido, mas só agora percebido), em certos aspectos a mulher moderna parece que sente "falta" de certos costumes das suas antepassadas recentes que eram muito cortejadas antes e muito servis a quem os cortejou depois. Elas não entendem quem quer "discutir a relação"; acham estranho algum homem querer saber como anda o tal relaciomento e questioná-lo na tentativa de o fazer mais forte, menos suscetível a objeções externas, e essa não-compreensão parece realçar a busca de costumes das antepassadas que ainda não eram consideradas "iguais". Então, buscam aquele que guarda certos traços dos homens daquela época, como por exemplo o entendimento do casal não se dar na discussão, mas na ação ou na falta dela.
O complexo de cavalheirismo, esse paradoxo de doença, se caracteriza por guardar alguns resquícios do homem que tinha a mulher como apenas "companheira para cuidar dos filhos", como o cortejamento antes da relação, e características do homem pós-moderno, como o respeito à igualdade dos sexos e a busca de uma melhor compreensão do outro lado. Só que, ao contrário de ser uma vantagem, o complexo de cavalheirismo, como o nome já diz, é um mal, uma doença, pois parece que no ponto em que o homem portador é conservador, a mulher é liberal, e no ponto que ele é liberal - como buscar o entendimento através de "discutir a relação" - ela é conservadora. Um desencontro certo.
Receitas para o portador do complexo de cavalheirismo são pouco confiáveis ainda, visto que é um mal do pós-modernismo que não teve tempo para o estudo detalhado. Mas algumas sugestões de cura causam bons resultados até, apesar de serem vistas por alguns como bastante polêmicas: tornar o homem portador menos cavalheiro, mais da ação do que das palavras, evitar o "discutir a relação" e passar para o "perceber a relação". Outra sugestão, ainda mais polêmica e difícil, é buscar as companheiras que guardam bastante pontos em comuns com suas antepassadas, as que ainda mantêm os costumes antigos e não gostam da tal modernização. Mas, na medida que o homem portador tem um certo nível de "inquietude intelectual" e não consegue pensar que está tratando uma mulher como um homem antigo, rude, cruel às vezes, se torna bastante difícil a cura por essa sugestão.
O que resta ao portador é se divertir enquanto a dita "alma gêmea", um fruto da pós-modernidade com a antiguidade clássica, não se apaixone verdadeiramente por ele, pois se isso acontece, tudo muda e se torna mais difícil de dar errado.
terça-feira, novembro 22, 2005
Reportagem
Reportagem do primeiro semestre desse ano sobre o festival "Nossas Expressões", organizado pelo DCE da UFSM. Tentativa de enquadramento daquela velha história de Novo Jornalismo ( que de tão novo já ficou velho há muito tempo) que, na sua mais fácil definição, é aquele relato feito em primeira pessoa com recursos estilísticos "emprestados" da literatura.
Nossas Expressões: o tradicional festival cultural luta para se manter vivo sem se esquecer do passado
Segunda feira, 13 de junho, meio-dia e quatro. Depois de enfrentar longa fila, entrou no Restaurante Universitário, largou a pasta, lavou as mãos e foi comer. Galinha com molho, polenta,arroz, salada, e um mandolate de sobremesa. “Hoje a comida tá boa”, pensou, tentando se lembrar da última vez que tinha visto a polenta que tanto adorava no cardápio do R.U. Almoçou rápido até, em vinte minutos, pegou sua pasta, escovou os dentes no banheiro do prédio da união, e então se deu por conta: tinha uma tenda ali na frente. De lá, saía um som melodioso, imponente, certamente tocado por várias pessoas, já que não enxergava nada de onde estava. Procurou um lugar na multidão, avistou o “palco” – um tablado cinza em cima dos paralelepípedos. Músicos das mais variadas idades tocavam seus instrumentos: a menina de uns 12 anos segurava seu pequeno violino olhando com desconfiança para a platéia; o homem de cabelos brancos tocava e balançava seu violoncelo, quase dançando; a menina da percussão, de uns 20 anos, olhava constrangida para a esquerda da orquestra onde seu pai tirava fotos, orgulhoso da apresentação da filha. Não era tão estranho ter música ao vivo na frente da União, mas a curiosidade lhe fez perguntar para o que estava ao seu lado:
_ Tche, o que é isso?
_ É um festival, Nossas Expressões parece. Esse pessoal aí é a Orquestra Jovem de Santa Maria, pelo que falaram.
Nossas Expressões. Um dos festivais mais importantes do estado nos anos 80, sinônimo de música boa e variada, expressão de rebeldia dos estudantes na época da ditadura militar, cultura alternativa feita, organizada e divulgada por estudantes. Em sua 16 º edição, o Nossas Expressões de hoje guarda duas características dos antigos festivais: quem organiza ainda é o DCE (Diretório Central dos Estudantes da UFSM), e quem ministra as oficinas ainda são os estudantes da UFSM. E só. Para as pessoas que viveram o Nossas Expressões dos anos 80 e do início dos anos 90, o festival de hoje passa longe do furdunço que era naquela época. “O pessoal fazia cartazes enormes,bonitos, divulgava por toda a cidade e o estádio do Inter-Sm, onde por alguns anos aconteceu o festival, sempre estava cheio”, conta Marta Marchesan, estudante naquela época, hoje coordenadora geral da TV Campus.
Criado em 1983 como um festival de bandas, o Nossas Expressões mais tarde incorporou outras atividades culturais em sua programação, como oficinas de teatro e exposições de trabalhos dos estudantes.
“Lembro de tocar com numa das edições que foi realizada no estádio do Inter-Sm. Os shows atrasavam bastante, mas o pessoal ,com chuva e tudo, não arredava o pé”, conta o funcionário do departamento de música, Luis Martins.
Em uma época em que se sabia com clareza quem era o “inimigo” , os estudantes aproveitavam qualquer junção para protestar contra a ditadura e a censura, o que acabava se tornando um incentivo a mais para que eles participassem de eventos desse tipo. Algo que, hoje, não acontece mais. Sendo ligado ao movimento estudantil, um festival do tipo do Nossas Expressões pode servir de “termômetro” da ação dos estudantes. Quando o movimento estudantil era forte, o festival era forte. E o Nossas Expressões foi forte até o início dos anos 90. Depois parou. Hoje, há uma tentativa de retomada das duas partes, do movimento estudantil e do festival. Mas agora não é mais só o contexto político que influencia a participação ou não no festival.Há de se considerar que a opção de lazer e de entretenimento dos estudantes hoje é muito maior. “Hoje a gurizada só quer saber de computador, internet, videogame”, diz Luis Martins. Os estudantes saem do RU, dão uma olhada nas atrações musicais, passam pelas bancas de artesanato e vão para a aula. Não participam mais. São poucos os que ficam em todos os shows, participam das oficinas, assistem as peças de teatro, os filmes. È nítido o empenho dos organizadores, mas também é nítido o desinteresse dos estudantes.Mas não há de se culpar alguém, nem de se lamentar : o contexto é outro, mas o festival continua (tentando) ser o mesmo. Aí que está o problema.
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Nossas Expressões: o tradicional festival cultural luta para se manter vivo sem se esquecer do passado
Segunda feira, 13 de junho, meio-dia e quatro. Depois de enfrentar longa fila, entrou no Restaurante Universitário, largou a pasta, lavou as mãos e foi comer. Galinha com molho, polenta,arroz, salada, e um mandolate de sobremesa. “Hoje a comida tá boa”, pensou, tentando se lembrar da última vez que tinha visto a polenta que tanto adorava no cardápio do R.U. Almoçou rápido até, em vinte minutos, pegou sua pasta, escovou os dentes no banheiro do prédio da união, e então se deu por conta: tinha uma tenda ali na frente. De lá, saía um som melodioso, imponente, certamente tocado por várias pessoas, já que não enxergava nada de onde estava. Procurou um lugar na multidão, avistou o “palco” – um tablado cinza em cima dos paralelepípedos. Músicos das mais variadas idades tocavam seus instrumentos: a menina de uns 12 anos segurava seu pequeno violino olhando com desconfiança para a platéia; o homem de cabelos brancos tocava e balançava seu violoncelo, quase dançando; a menina da percussão, de uns 20 anos, olhava constrangida para a esquerda da orquestra onde seu pai tirava fotos, orgulhoso da apresentação da filha. Não era tão estranho ter música ao vivo na frente da União, mas a curiosidade lhe fez perguntar para o que estava ao seu lado:
_ Tche, o que é isso?
_ É um festival, Nossas Expressões parece. Esse pessoal aí é a Orquestra Jovem de Santa Maria, pelo que falaram.
Nossas Expressões. Um dos festivais mais importantes do estado nos anos 80, sinônimo de música boa e variada, expressão de rebeldia dos estudantes na época da ditadura militar, cultura alternativa feita, organizada e divulgada por estudantes. Em sua 16 º edição, o Nossas Expressões de hoje guarda duas características dos antigos festivais: quem organiza ainda é o DCE (Diretório Central dos Estudantes da UFSM), e quem ministra as oficinas ainda são os estudantes da UFSM. E só. Para as pessoas que viveram o Nossas Expressões dos anos 80 e do início dos anos 90, o festival de hoje passa longe do furdunço que era naquela época. “O pessoal fazia cartazes enormes,bonitos, divulgava por toda a cidade e o estádio do Inter-Sm, onde por alguns anos aconteceu o festival, sempre estava cheio”, conta Marta Marchesan, estudante naquela época, hoje coordenadora geral da TV Campus.
Criado em 1983 como um festival de bandas, o Nossas Expressões mais tarde incorporou outras atividades culturais em sua programação, como oficinas de teatro e exposições de trabalhos dos estudantes.
“Lembro de tocar com numa das edições que foi realizada no estádio do Inter-Sm. Os shows atrasavam bastante, mas o pessoal ,com chuva e tudo, não arredava o pé”, conta o funcionário do departamento de música, Luis Martins.
Em uma época em que se sabia com clareza quem era o “inimigo” , os estudantes aproveitavam qualquer junção para protestar contra a ditadura e a censura, o que acabava se tornando um incentivo a mais para que eles participassem de eventos desse tipo. Algo que, hoje, não acontece mais. Sendo ligado ao movimento estudantil, um festival do tipo do Nossas Expressões pode servir de “termômetro” da ação dos estudantes. Quando o movimento estudantil era forte, o festival era forte. E o Nossas Expressões foi forte até o início dos anos 90. Depois parou. Hoje, há uma tentativa de retomada das duas partes, do movimento estudantil e do festival. Mas agora não é mais só o contexto político que influencia a participação ou não no festival.Há de se considerar que a opção de lazer e de entretenimento dos estudantes hoje é muito maior. “Hoje a gurizada só quer saber de computador, internet, videogame”, diz Luis Martins. Os estudantes saem do RU, dão uma olhada nas atrações musicais, passam pelas bancas de artesanato e vão para a aula. Não participam mais. São poucos os que ficam em todos os shows, participam das oficinas, assistem as peças de teatro, os filmes. È nítido o empenho dos organizadores, mas também é nítido o desinteresse dos estudantes.Mas não há de se culpar alguém, nem de se lamentar : o contexto é outro, mas o festival continua (tentando) ser o mesmo. Aí que está o problema.
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domingo, novembro 20, 2005
Futebol, indignação, perplexidade, surpresa
_
O futebol, em sua magia que desperta as mais variadas formas de um único sentimento chamado paixão, não é o esporte mais popular do mundo por acaso. É especial, uma junção de pessoas desconhecidas entre si mas que , nesse mundo à parte feito por gente de coração forte, se torna unida umbilicalmente, tão suscetíveis a sentimentos fortes que quando são tocados em seu íntimo por um gol, explodem, gritam, pulam, saem de si em instantes que o tempo para e só volta a andar quando todo esse êxtase é diluído em doses homeopáticas de realidade extra-campo, de uma vida real que o futebol insiste em não querer fazer parte para poder, assim, fazer o que bem entender com a sua vida.
_
Desabafo de um colorado (eu)
A cada dia me impressiono com o alcance de um esporte na vida das pessoas. Hoje, depois de ver meu time ser roubado, não consigo não pensar, ver, escutar, ler sobre o jogo, e quando vejo que a minha indignação encontra solidariedade na de tantas pessoas que nem torcem pro meu time, mais indignado fico, e mais difícil fica deixar de ver/ler/escutar algo sobre o jogo. E o pior é que parece que não cansa...
O futebol, em sua magia que desperta as mais variadas formas de um único sentimento chamado paixão, não é o esporte mais popular do mundo por acaso. É especial, uma junção de pessoas desconhecidas entre si mas que , nesse mundo à parte feito por gente de coração forte, se torna unida umbilicalmente, tão suscetíveis a sentimentos fortes que quando são tocados em seu íntimo por um gol, explodem, gritam, pulam, saem de si em instantes que o tempo para e só volta a andar quando todo esse êxtase é diluído em doses homeopáticas de realidade extra-campo, de uma vida real que o futebol insiste em não querer fazer parte para poder, assim, fazer o que bem entender com a sua vida.
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Desabafo de um colorado (eu)
A cada dia me impressiono com o alcance de um esporte na vida das pessoas. Hoje, depois de ver meu time ser roubado, não consigo não pensar, ver, escutar, ler sobre o jogo, e quando vejo que a minha indignação encontra solidariedade na de tantas pessoas que nem torcem pro meu time, mais indignado fico, e mais difícil fica deixar de ver/ler/escutar algo sobre o jogo. E o pior é que parece que não cansa...
sábado, novembro 19, 2005
devaneios (3)
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Entre inúmeras chances de desfazer o tão sonhado caminho do destino, resolvi esquecer tudo, seguir por uma outra estrada. Uma involução ou uma evolução ? Não sei, apesar da forte suspeita de que seja nem uma nem outra, e muito menos aquela que esclarecerá a minha dúvida. Penso que algum destino me servirá de chão para novos vôos em busca de um outro, mas, enfim, dessas coisas ninguém sabe, por mais que possa se pensar que temos plenas condições de saber. Melhor opção? Vou ser um utópico construtor da minha própria utopia, se conseguir sobreviver ao hercúleo trabalho.
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Das frases bonitas sem fundamento:
O amargo do amor é a felicidade dos desgraçados
Entre inúmeras chances de desfazer o tão sonhado caminho do destino, resolvi esquecer tudo, seguir por uma outra estrada. Uma involução ou uma evolução ? Não sei, apesar da forte suspeita de que seja nem uma nem outra, e muito menos aquela que esclarecerá a minha dúvida. Penso que algum destino me servirá de chão para novos vôos em busca de um outro, mas, enfim, dessas coisas ninguém sabe, por mais que possa se pensar que temos plenas condições de saber. Melhor opção? Vou ser um utópico construtor da minha própria utopia, se conseguir sobreviver ao hercúleo trabalho.
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Das frases bonitas sem fundamento:
O amargo do amor é a felicidade dos desgraçados
quinta-feira, novembro 17, 2005
Rayuela
Rayuela, do mestre argentino Julio Cortázar. Trecho do capítulo 72, o primeiro, se for seguido a ordem que ele nos indica no início.
"Si, pero quién nos curará del fuego surdo,del fuego sin color que corre al anochecer pela rue de la Huchette, saliendo de los portales carcomidos, de los parvos zaguanes, del fuego sin imagen que lame las piedras y acecha en los vanos de las puertas, cómo haremos para lavarnos de su queimadura dulce que prosigue, que se aposenta para durar aliada al tiempo y al recuerdo, a las sustancias pegajoas que retienem de este lado, y que nos arderá dulcimente hasta calcinarmos.(...) Ardiendo así sin trégua,, soportando la quemadura central que avanza como la madurez paulatina en el fruto, ser el pulso de una hoguera en esta maraña de piedra interminable, caminar por las noches de nuestra vida com la obediencia de la sangre en su circuito ciego".
"Si, pero quién nos curará del fuego surdo,del fuego sin color que corre al anochecer pela rue de la Huchette, saliendo de los portales carcomidos, de los parvos zaguanes, del fuego sin imagen que lame las piedras y acecha en los vanos de las puertas, cómo haremos para lavarnos de su queimadura dulce que prosigue, que se aposenta para durar aliada al tiempo y al recuerdo, a las sustancias pegajoas que retienem de este lado, y que nos arderá dulcimente hasta calcinarmos.(...) Ardiendo así sin trégua,, soportando la quemadura central que avanza como la madurez paulatina en el fruto, ser el pulso de una hoguera en esta maraña de piedra interminable, caminar por las noches de nuestra vida com la obediencia de la sangre en su circuito ciego".
terça-feira, novembro 15, 2005
O guardião da sinceridade à serviço dos escravos da verdade
"Nosso amor é tão bonito. Você finge que me ama e eu finjo que acredito."
Nelson Sargento
Sim, realmente é complicado quando se tem pudor demais.
Quando há alguma "forçada de barra", por mais sútil que ela seja, há aquele constrangimento interior que chama consigo o pudor, o medo de se fazer coisas que poderiam até serem encaradas como normais diante de determinada situação, mas que só podem ser consideradas normais se haver uma "mentira" nelas - eu minto e tu acredita, funciona assim. Mas a sinceridade não consegue aceitar que a mentira seja o mais importante pré-requisito de uma situação, por isso ela cria o pudor: uma forma de barreira para a situação mentirosa não passar. É difícil para todo mundo viver numa mentira, mas para determinadas pessoas isso é mais difícil ainda, a ponto delas não admitirem , nunca, a mentira como pré-requisito para se vivenciar certas experiências - e situações que a mentira faz esse papel são bastante normais.
Claro, perde-se com isso. Muitas situações mentirosas são extremamente prazerosas. Outras, começam com uma mentira e se tornam belas verdades. Mas para quem tem o pudor excessivo, ou sinceridade demais, ou são escravos da verdade, não há como aceitar isso, é algo que vem de criança, da educação que nos é dada, de todo um contexto que já deixou suas marcas profundas, que não mais pode voltar atrás.
Há um constrangimento que puxa para fora da situação mentirosa, um alerta, um bip dizendo "isso é uma mentira, não seja ridículo, largue disso", e se não se obedece ao alerta fica-se , a todo tempo, incomodado com a situação, não se aproveita como talvez fosse o devido - a não ser, claro, que algumas substâncias façam com que essa distinção seja imperceptível.
Por isso é tão difícil fingir, por isso o pudor é requisitado a toda hora que a sinceridade percebe uma mentira, por isso o constrangimento até excessivo diante de certas situações a ponto de outros não conseguirem compreender e ficarem chateados com algo que consideram como "caretice" até.
Mais fácil mudar ou mascarar as próprias verdades do que se fazer acreditar em mentiras reconhecidas como tal.
Nelson Sargento
Sim, realmente é complicado quando se tem pudor demais.
Quando há alguma "forçada de barra", por mais sútil que ela seja, há aquele constrangimento interior que chama consigo o pudor, o medo de se fazer coisas que poderiam até serem encaradas como normais diante de determinada situação, mas que só podem ser consideradas normais se haver uma "mentira" nelas - eu minto e tu acredita, funciona assim. Mas a sinceridade não consegue aceitar que a mentira seja o mais importante pré-requisito de uma situação, por isso ela cria o pudor: uma forma de barreira para a situação mentirosa não passar. É difícil para todo mundo viver numa mentira, mas para determinadas pessoas isso é mais difícil ainda, a ponto delas não admitirem , nunca, a mentira como pré-requisito para se vivenciar certas experiências - e situações que a mentira faz esse papel são bastante normais.
Claro, perde-se com isso. Muitas situações mentirosas são extremamente prazerosas. Outras, começam com uma mentira e se tornam belas verdades. Mas para quem tem o pudor excessivo, ou sinceridade demais, ou são escravos da verdade, não há como aceitar isso, é algo que vem de criança, da educação que nos é dada, de todo um contexto que já deixou suas marcas profundas, que não mais pode voltar atrás.
Há um constrangimento que puxa para fora da situação mentirosa, um alerta, um bip dizendo "isso é uma mentira, não seja ridículo, largue disso", e se não se obedece ao alerta fica-se , a todo tempo, incomodado com a situação, não se aproveita como talvez fosse o devido - a não ser, claro, que algumas substâncias façam com que essa distinção seja imperceptível.
Por isso é tão difícil fingir, por isso o pudor é requisitado a toda hora que a sinceridade percebe uma mentira, por isso o constrangimento até excessivo diante de certas situações a ponto de outros não conseguirem compreender e ficarem chateados com algo que consideram como "caretice" até.
Mais fácil mudar ou mascarar as próprias verdades do que se fazer acreditar em mentiras reconhecidas como tal.
segunda-feira, novembro 14, 2005
A volta
Voltei. Cansei de "alternativos" que se vestem de "alternativos", agem como "alternativos", tudo modestamente falso, ou "fake" como eles dizem. Vestem-se de "alternativos"; colocam a roupinha "sou diferente", gosto de coisas diferentes só para poderem dizer aos outros,e também porque está incluído na fantasia que retiram todo dia na loja da frente de casa.
ÔÔ cambada de gente falsa!
Mas experiências e mais experiências, nem todas são boas, nem todas são ruins. Mas dessa vez muitas foram ruins. Pelo menos, de forma parecida ou igual é que não vão ser mais, e isso vale alguma coisa, poupa esforços e pensamentos depois.
ÔÔ cambada de gente falsa!
Mas experiências e mais experiências, nem todas são boas, nem todas são ruins. Mas dessa vez muitas foram ruins. Pelo menos, de forma parecida ou igual é que não vão ser mais, e isso vale alguma coisa, poupa esforços e pensamentos depois.
sexta-feira, novembro 11, 2005
Uma boa viagem!
"Através da ponte sobre o rio estarão as flores do auto conhecimento, e quanto mais difícil for a travessia mais as flores estarão amadurecidas, mas tem de se ter o cuidado de não fazer com que elas amadureçam demais e murchem - uma longa travessia cheia dos dissabores podem causar isso; se , por um acaso, se cair no rio, mais difícil ainda será a volta, embora como toda boa volta consciente, será melhor aproveitada e encontrará as flores mais rapidamente, pois elas sempre estão a espera de quem as necessita. A dor que não é fingida sempre tem as suas consequências benéficas..."
Estou indo fazer uma breve viagem, acampar. Por isso:
Uma boa viagem ao conhecido imprevisível recheado de grande potencial de situações extraordinárias!
Estou indo fazer uma breve viagem, acampar. Por isso:
Uma boa viagem ao conhecido imprevisível recheado de grande potencial de situações extraordinárias!
quinta-feira, novembro 10, 2005
Situações extraordinárias
Situações extraordinárias e suas fantasias de surpresas - tão convicencentes como aquele tipo de ator que obecede a decisão do diretor de "não incorpore o personagem, simplesmente seja" - são tão indicativas de cisão de alguma coisa dentro de si que não se consegue perceber , ao menos no momento, o que realmente será diferente e onde está a ruptura, essa cisão que parece que só é sentida, mas não localizada. As piores transformações são decorrentes de outros fatores, mas as melhores vêm dessa cisão invisível e, portanto, aparente, embora que escrevendo isso me venha agora uma dúvida : o que é apenas sentido é aparente?
Fico na dúvida toda vez que acontece esse tipo de situação. Embora não seja mais tão extraordinário que situações extraordinárias aconteçam comigo, ainda assim , e que bom que é assim, me surpreendo. Mas em alguns momentos, consigo pensar do tão extraordinário que é aquela situação, e o fato de eu pensar nisso me põe em dúvida se realmente essa vai ser mesmo tão extraordinária daquelas dignas de uma cisão invisível, pois se me dou conta disso, ela não pode ser assim tão extraordinária. Mas acontece que não me dou conta disso em todo o momento; não conseguiria, e , por causa disso, é que há a possibilidade dessa situação estar sendo extraordinária. É como um transe; há a preparação anterior para o transe, que é consciente da situação de preparação mas inconsciente do que para quê está sendo preparada, e há o transe, que , como a preparação, é consciente da situação de transe que está, mas não sabe que tipo de transe é nem no que ele vai levar. As situações extraordinárias são assim, eu ,no início, sei que estou me preparando para ela ( posso estar me preparando para nada, mas enfim, essa certeza se adquire com o treino) e depois, quando entro nela, nem percebo que tipo de situação ela é, se é normal como qualquer outra ou pertence a nobre classe das extraordinárias, e nem no que essa situação vai me colocar, que consequência ela me trará, e que cisão invisível ela provocará, se é que provocará. Mas, enfim, nunca perceberei mesmo, e aí está o combustível que preciso para que outras dessas situações venham pela frente.
Fico na dúvida toda vez que acontece esse tipo de situação. Embora não seja mais tão extraordinário que situações extraordinárias aconteçam comigo, ainda assim , e que bom que é assim, me surpreendo. Mas em alguns momentos, consigo pensar do tão extraordinário que é aquela situação, e o fato de eu pensar nisso me põe em dúvida se realmente essa vai ser mesmo tão extraordinária daquelas dignas de uma cisão invisível, pois se me dou conta disso, ela não pode ser assim tão extraordinária. Mas acontece que não me dou conta disso em todo o momento; não conseguiria, e , por causa disso, é que há a possibilidade dessa situação estar sendo extraordinária. É como um transe; há a preparação anterior para o transe, que é consciente da situação de preparação mas inconsciente do que para quê está sendo preparada, e há o transe, que , como a preparação, é consciente da situação de transe que está, mas não sabe que tipo de transe é nem no que ele vai levar. As situações extraordinárias são assim, eu ,no início, sei que estou me preparando para ela ( posso estar me preparando para nada, mas enfim, essa certeza se adquire com o treino) e depois, quando entro nela, nem percebo que tipo de situação ela é, se é normal como qualquer outra ou pertence a nobre classe das extraordinárias, e nem no que essa situação vai me colocar, que consequência ela me trará, e que cisão invisível ela provocará, se é que provocará. Mas, enfim, nunca perceberei mesmo, e aí está o combustível que preciso para que outras dessas situações venham pela frente.
quarta-feira, novembro 09, 2005
Borges (2)
Outro trecho interessantíssimo:
"Vou procurar, então, recordar um conto meu. Enquanto me traziam para cá, fiquei pensando em um conto meu, não sei se vocês leram, e que se chama “El Zahir”. Vou lembrar como cheguei à concepção desse “conto”.
Não recordo a data em que o escrevi, sei apenas que era diretor da Biblioteca Nacional, que fica no sul de Buenos Aires, perto da igreja de La Concepción. Conheço bem esse bairro. Meu ponto de partida foi uma palavra, uma palavra que usamos quase todos os dias sem nos dar conta do mistério que nela há, exceto que todas as palavras são misteriosas. Pensei na palavra inesquecível. Unforgettable, em inglês. Detive-me, não sei por que, já que havia ouvido essa palavra milhares de vezes, quase não passava um dia sem que a ouvisse. Pensei: que coisa extraordinária seria se houvesse algo de que realmente não pudéssemos nos esquecer? Que fantástico seria se houvesse, no que chamamos realidade, uma coisa, um objeto, por que não?, que fosse realmente inesquecível!
Este foi meu ponto de partida, bastante abstrato e pobre: pensar no possível sentido dessa palavra ouvida, lida, literalmente inesquecível, unforgettable, unvergesslich, inouviable. Foi um consideração bastante pobre, como vocês podem ver.
Depois, pensei que se existe algo inesquecível, deve ser algo comum, já que se tivéssemos uma Quimera, por exemplo, um monstro de três cabeças, uma cabeça, se não me engano, de cobra, outra de serpente, outra de cão, não tenho certeza, certamente recordaríamos isto. De modo que não haveria graça nenhuma num conto com um minotauro, uma quimera, um unicórnio inesquecíveis. Não, teria que ser alguma coisa bem comum. Ao pensar nessa coisa comum, pensei imediatamente numa moeda, já que são cunhadas milhares e milhares de moedas absolutamente iguais. Todas com a efígie da liberdade ou um escudo, ou com certas palavras convencionais. Que coisa extraordinária seria se houvesse uma moeda, uma moeda perdida entre esses milhões de moedas, que fosse inesquecível. Pensei, assim, numa moeda que já saiu de circulação, uma moeda de vinte centavos, uma moeda igual às outras, igual à moeda de cinco ou à de dez centavos, um pouco maior. Que coisa extraordinária seria se, entre os milhões, literalmente, de moedas cunhadas pelo Estado, houvesse uma que fosse inesquecível. Daí surgiu-me uma idéia: uma inesquecível moeda de vinte centavos. Não sei se elas ainda existem, se os numismáticos as colecionam, se elas têm algum valor, mas, enfim, não pensei nisso naquele instante. Pensei numa moeda que, para os objetivos do meu conto, teria de ser inesquecível. Isto é, uma pessoa que a visse não poderia mais pensar em outra coisa.
Depois, encontrei-me diante da segunda ou terceira dificuldade. Perdi a conta das dificuldades. Por que essa moeda viria a ser inesquecível? O leitor não aceitaria tal idéia. Eu tinha de preparar o inesquecível da minha moeda, e para tanto convinha supor um estado emocional em que ele a via, tinha de insinuar a loucura, já que o tema de meu conto é um tema que se parece com a loucura ou a obsessão. Pensei, como pensou Edgar Allan Poe quando escreveu seu merecidamente famoso poema “O corvo”, na morte de uma mulher bonita. Poe se perguntou a quem poderia impressionar a morte dessa mulher bonita e deduziu que tinha de impressionar a alguém que estivesse apaixonado por ela. Daí cheguei a idéia de uma mulher, por quem, no conto, estou apaixonado, e que morre, o que me deixa desesperado. Neste ponto, teria sido fácil, talvez fácil demais, que essa mulher fosse como a perdida Leonor, de Poe. Mas, não. Decidi mostrar essa mulher de um modo satírico, mostrar o amor de quem não esquecerá a moeda de vinte centavos como um pouco ridículo. Todos os amores o são para quem os vê de fora. Assim, ao invés de falar da beleza do love splendor, converti-a numa mulher bastante trivial, um pouco ridícula, nem feia nem muito linda. Imaginei uma situação que ocorre com freqüência: um homem é apaixonado por uma mulher, não pode viver sem ela, mas, ao mesmo tempo, sabe que essa mulher não é especialmente recomendável, digamos, para sua mãe, para suas primas, para a camareira, para a costureira, para as amigas. No entanto, para ele, esse mulher é única.
Isto me levou a uma outra idéia: a de que talvez toda pessoa seja única e que nós não vemos o extraordinário que fala a favor dessa pessoa. Às vezes, penso que isto se dá em tudo. Senão, fixemo-nos no fato de que na natureza ou em Deus, Deus sive Natura, como dizia Spinoza, o importante é a quantidade e não a qualidade. Por que não supor, então, que haja algo singular em cada formiga e que por isso Deus, ou a natureza, cria milhões de formigas. O que é falso. Não há milhões de formigas, há milhões de seres diferentes, mas a diferença é tão sutil que nós as vemos como iguais.
O que é, pois, estar apaixonado? Estar apaixonado é perceber o que há de extraordinário em cada pessoa, singularidade essa que não pode ser comunicada a não ser por meio de hipérboles ou de metáforas. Então, por que não imaginar que essa mulher, um pouco ridícula para todos, pouco ridícula para quem está apaixonado por ela, que essa mulher morra. Depois, temos o velório. Escolhi o lugar do velório, escolhi a esquina, pensei na igreja da Conceição, uma igreja não muito famosa nem muito interessante, e no homem que, depois do velório, vai tomar um refresco num botequim. Paga, dão-lhe uma moeda de troco, e ele percebe, em seguida, que há algo nela: foi riscada, o que a diferencia das outras. Ele vê a moeda, está muito emocionado pela morte da mulher, mas, ao ver a moeda, já começa a se esquecer de tudo e a pensar somente na moeda. Eu tinha, assim, o objeto mágico para o conto. Depois é que surgem as tentativas do narrador de livrar-se de sua obsessão. Diversos artifícios são utilizados: um deles é perder a moeda. Leva-a, então, a outro botequim, distante dali. Usa-a para pagar, procura esquecer em que esquina o botequim se encontrava, mas isso não resolve o problema, ele continua pensando na moeda. Chega a extremos um tanto absurdos. Por exemplo, compra uma libra esterlina, com São Jorge e o dragão, examina-a com uma lupa, procura pensar nela e esquecer a moeda de vinte centavos, já perdida para sempre, mas não consegue livrar-se da lembrança. Até o final do conto, o homem vai enlouquecendo, mas pensa que essa mesma obsessão poderá salvá-lo. Isto é, haverá um momento no qual o Universo já terá desaparecido e o próprio Universo será uma moeda de vinte centavos. Então ele, e aqui produzi um pequeno efeito literário, ele, Borges, estará louco, não saberá mais que é Borges. Já não será outra coisa a não ser o espectador dessa perdida moeda inesquecível. E conclui com uma frase devidamente literária, isto é, falsa: “Talvez por detrás da moeda esteja Deus”. Ou seja, se alguém vê uma só coisa, essa coisa única é absoluta. Há outros episódios que esqueci, alguns talvez que vocês recordem. Ao final, ele não pode dormir, sonha com a moeda, não pode ler, a moeda se interpõe entre o texto e ele, quase não pode falar senão de um modo mecânico, por que realmente está pensando na moeda.
Assim termina o conto".
"Vou procurar, então, recordar um conto meu. Enquanto me traziam para cá, fiquei pensando em um conto meu, não sei se vocês leram, e que se chama “El Zahir”. Vou lembrar como cheguei à concepção desse “conto”.
Não recordo a data em que o escrevi, sei apenas que era diretor da Biblioteca Nacional, que fica no sul de Buenos Aires, perto da igreja de La Concepción. Conheço bem esse bairro. Meu ponto de partida foi uma palavra, uma palavra que usamos quase todos os dias sem nos dar conta do mistério que nela há, exceto que todas as palavras são misteriosas. Pensei na palavra inesquecível. Unforgettable, em inglês. Detive-me, não sei por que, já que havia ouvido essa palavra milhares de vezes, quase não passava um dia sem que a ouvisse. Pensei: que coisa extraordinária seria se houvesse algo de que realmente não pudéssemos nos esquecer? Que fantástico seria se houvesse, no que chamamos realidade, uma coisa, um objeto, por que não?, que fosse realmente inesquecível!
Este foi meu ponto de partida, bastante abstrato e pobre: pensar no possível sentido dessa palavra ouvida, lida, literalmente inesquecível, unforgettable, unvergesslich, inouviable. Foi um consideração bastante pobre, como vocês podem ver.
Depois, pensei que se existe algo inesquecível, deve ser algo comum, já que se tivéssemos uma Quimera, por exemplo, um monstro de três cabeças, uma cabeça, se não me engano, de cobra, outra de serpente, outra de cão, não tenho certeza, certamente recordaríamos isto. De modo que não haveria graça nenhuma num conto com um minotauro, uma quimera, um unicórnio inesquecíveis. Não, teria que ser alguma coisa bem comum. Ao pensar nessa coisa comum, pensei imediatamente numa moeda, já que são cunhadas milhares e milhares de moedas absolutamente iguais. Todas com a efígie da liberdade ou um escudo, ou com certas palavras convencionais. Que coisa extraordinária seria se houvesse uma moeda, uma moeda perdida entre esses milhões de moedas, que fosse inesquecível. Pensei, assim, numa moeda que já saiu de circulação, uma moeda de vinte centavos, uma moeda igual às outras, igual à moeda de cinco ou à de dez centavos, um pouco maior. Que coisa extraordinária seria se, entre os milhões, literalmente, de moedas cunhadas pelo Estado, houvesse uma que fosse inesquecível. Daí surgiu-me uma idéia: uma inesquecível moeda de vinte centavos. Não sei se elas ainda existem, se os numismáticos as colecionam, se elas têm algum valor, mas, enfim, não pensei nisso naquele instante. Pensei numa moeda que, para os objetivos do meu conto, teria de ser inesquecível. Isto é, uma pessoa que a visse não poderia mais pensar em outra coisa.
Depois, encontrei-me diante da segunda ou terceira dificuldade. Perdi a conta das dificuldades. Por que essa moeda viria a ser inesquecível? O leitor não aceitaria tal idéia. Eu tinha de preparar o inesquecível da minha moeda, e para tanto convinha supor um estado emocional em que ele a via, tinha de insinuar a loucura, já que o tema de meu conto é um tema que se parece com a loucura ou a obsessão. Pensei, como pensou Edgar Allan Poe quando escreveu seu merecidamente famoso poema “O corvo”, na morte de uma mulher bonita. Poe se perguntou a quem poderia impressionar a morte dessa mulher bonita e deduziu que tinha de impressionar a alguém que estivesse apaixonado por ela. Daí cheguei a idéia de uma mulher, por quem, no conto, estou apaixonado, e que morre, o que me deixa desesperado. Neste ponto, teria sido fácil, talvez fácil demais, que essa mulher fosse como a perdida Leonor, de Poe. Mas, não. Decidi mostrar essa mulher de um modo satírico, mostrar o amor de quem não esquecerá a moeda de vinte centavos como um pouco ridículo. Todos os amores o são para quem os vê de fora. Assim, ao invés de falar da beleza do love splendor, converti-a numa mulher bastante trivial, um pouco ridícula, nem feia nem muito linda. Imaginei uma situação que ocorre com freqüência: um homem é apaixonado por uma mulher, não pode viver sem ela, mas, ao mesmo tempo, sabe que essa mulher não é especialmente recomendável, digamos, para sua mãe, para suas primas, para a camareira, para a costureira, para as amigas. No entanto, para ele, esse mulher é única.
Isto me levou a uma outra idéia: a de que talvez toda pessoa seja única e que nós não vemos o extraordinário que fala a favor dessa pessoa. Às vezes, penso que isto se dá em tudo. Senão, fixemo-nos no fato de que na natureza ou em Deus, Deus sive Natura, como dizia Spinoza, o importante é a quantidade e não a qualidade. Por que não supor, então, que haja algo singular em cada formiga e que por isso Deus, ou a natureza, cria milhões de formigas. O que é falso. Não há milhões de formigas, há milhões de seres diferentes, mas a diferença é tão sutil que nós as vemos como iguais.
O que é, pois, estar apaixonado? Estar apaixonado é perceber o que há de extraordinário em cada pessoa, singularidade essa que não pode ser comunicada a não ser por meio de hipérboles ou de metáforas. Então, por que não imaginar que essa mulher, um pouco ridícula para todos, pouco ridícula para quem está apaixonado por ela, que essa mulher morra. Depois, temos o velório. Escolhi o lugar do velório, escolhi a esquina, pensei na igreja da Conceição, uma igreja não muito famosa nem muito interessante, e no homem que, depois do velório, vai tomar um refresco num botequim. Paga, dão-lhe uma moeda de troco, e ele percebe, em seguida, que há algo nela: foi riscada, o que a diferencia das outras. Ele vê a moeda, está muito emocionado pela morte da mulher, mas, ao ver a moeda, já começa a se esquecer de tudo e a pensar somente na moeda. Eu tinha, assim, o objeto mágico para o conto. Depois é que surgem as tentativas do narrador de livrar-se de sua obsessão. Diversos artifícios são utilizados: um deles é perder a moeda. Leva-a, então, a outro botequim, distante dali. Usa-a para pagar, procura esquecer em que esquina o botequim se encontrava, mas isso não resolve o problema, ele continua pensando na moeda. Chega a extremos um tanto absurdos. Por exemplo, compra uma libra esterlina, com São Jorge e o dragão, examina-a com uma lupa, procura pensar nela e esquecer a moeda de vinte centavos, já perdida para sempre, mas não consegue livrar-se da lembrança. Até o final do conto, o homem vai enlouquecendo, mas pensa que essa mesma obsessão poderá salvá-lo. Isto é, haverá um momento no qual o Universo já terá desaparecido e o próprio Universo será uma moeda de vinte centavos. Então ele, e aqui produzi um pequeno efeito literário, ele, Borges, estará louco, não saberá mais que é Borges. Já não será outra coisa a não ser o espectador dessa perdida moeda inesquecível. E conclui com uma frase devidamente literária, isto é, falsa: “Talvez por detrás da moeda esteja Deus”. Ou seja, se alguém vê uma só coisa, essa coisa única é absoluta. Há outros episódios que esqueci, alguns talvez que vocês recordem. Ao final, ele não pode dormir, sonha com a moeda, não pode ler, a moeda se interpõe entre o texto e ele, quase não pode falar senão de um modo mecânico, por que realmente está pensando na moeda.
Assim termina o conto".
Borges(1)
Alguns trechos de uma entrevista do escritor argentino Jorge Luis Borges, que traz muita coisa interessante a respeito do seu processo de criação.
"Penso que é melhor que o escritor interfira o mínimo possível em sua obra. Isto pode parecer estranho, mas não é. Em todo caso, trata-se, curiosamente, da doutrina clássica. Nós a vemos na primeira linha, eu não sei grego, da Ilíada, de Homero, que todos lemos na censurável versão de Hermosilla: “Canta, Musa, a cólera de Aquiles”. Isto é, Homero, ou os gregos a que chamamos de Homero, sabia que o poeta não é o cantor, que o poeta, ou prosador, dá no mesmo, é simplesmente o amanuense de algo que ignora e que em sua mitologia particular chama de a Musa. Por outro lado, os hebreus preferiram falar de Espírito, e nossa psicologia contemporânea, que não sofre de excessiva beleza, de subconsciência, inconsciente coletivo, ou algo assim. Mas, enfim, o importante é o fato de que o escritor é um amanuense, ele recebe algo e procura expressá-lo".
"Penso que é melhor que o escritor interfira o mínimo possível em sua obra. Isto pode parecer estranho, mas não é. Em todo caso, trata-se, curiosamente, da doutrina clássica. Nós a vemos na primeira linha, eu não sei grego, da Ilíada, de Homero, que todos lemos na censurável versão de Hermosilla: “Canta, Musa, a cólera de Aquiles”. Isto é, Homero, ou os gregos a que chamamos de Homero, sabia que o poeta não é o cantor, que o poeta, ou prosador, dá no mesmo, é simplesmente o amanuense de algo que ignora e que em sua mitologia particular chama de a Musa. Por outro lado, os hebreus preferiram falar de Espírito, e nossa psicologia contemporânea, que não sofre de excessiva beleza, de subconsciência, inconsciente coletivo, ou algo assim. Mas, enfim, o importante é o fato de que o escritor é um amanuense, ele recebe algo e procura expressá-lo".
segunda-feira, novembro 07, 2005
"Hapiness is a warm gun"
"Hapiness is a warm gun (bang bang, shot shot)"
The Beatles
Após devaneios e wolfianas, há o amor. Ainda não acredito que seja o amor na sua forma mais completa e transformadora, mas fagulhas dele já teimam em se desgarrar e provocar princípios de incêndios. Tudo bem, são muito os bombeiros que me preservam (?) das fagulhas, mas acho que , tranquilamente, está mais que na hora de dar uma cachaça para eles, libertá-los dessa ingrata tarefa de destruir fagulhas tão promissoras...
Se bem que, se são promissoras, não deveriam se apresentar assim, pois trazem consigo expectativas, e delas obrigatoriamente vem uma cisão, seja com o que já está estabelecido em não aparecer seja com o que é mais do que previsível que aconteça, embora não é com a previsão que vão se diminuir os seus efeitos, e que bom que é assim mesmo. Enfim, se "hapiness is a warm gun", love is a slow death, ou a cold rainbow.
Realmente são as surpresas.
The Beatles
Após devaneios e wolfianas, há o amor. Ainda não acredito que seja o amor na sua forma mais completa e transformadora, mas fagulhas dele já teimam em se desgarrar e provocar princípios de incêndios. Tudo bem, são muito os bombeiros que me preservam (?) das fagulhas, mas acho que , tranquilamente, está mais que na hora de dar uma cachaça para eles, libertá-los dessa ingrata tarefa de destruir fagulhas tão promissoras...
Se bem que, se são promissoras, não deveriam se apresentar assim, pois trazem consigo expectativas, e delas obrigatoriamente vem uma cisão, seja com o que já está estabelecido em não aparecer seja com o que é mais do que previsível que aconteça, embora não é com a previsão que vão se diminuir os seus efeitos, e que bom que é assim mesmo. Enfim, se "hapiness is a warm gun", love is a slow death, ou a cold rainbow.
Realmente são as surpresas.
sábado, novembro 05, 2005
devaneios (2)
1.
O peso e o ônus de fazer parte de um grupo restrito, de não conseguir compreender muitas das relações dos outros que se nomeiam como amizade é , por muitas vezes, excessivo. Sim, não é fácil ficar ao lado de pessoas que tem relações de consequências, amizades, até relacionamentos completamente diferentes da sua. Se ouso criticar, posso ser taxado de louco, e talvez até tenham razão, mas , enfim, é isso que escolhei pra mim. Talvez pensem que os criticando estou tentanto fazer com que essas pessoas fiquem mais próximos do meu jeito de encarar certas relações, o que não é de todo mentira; mas , se faço isso, é com a intenção de que as pessoas aproveitem aquilo assim como eu estou aproveitando, de forma alguma querendo me orgulhar de estar nessa nomeada "loucura".
Sempre faço isso de boas atenções, mas acho que , por mais difícil que seja não compartilhar momentos bons, "catequizar" os outros para adentrar nesse mundo "louco" não é a melhor opção. Por isso, o melhor é guardar as próprias loucuras.
2.
Hoje em dia, o sofrimento é pop. Fácil se percebe. Porém, e ainda bem, o verdadeiro sofrimento, aquele que serve como rito de passagem para uma situação extraordinária, esse ainda não foi mapeado e popularizado, assim como eu acho que nunca vai ser, por ser demasiado polêmico e até inatingível à todos. Uma antídoto para o sofrimento pop seria fazer com que se perceba quão ridículo é exaltar o sofrimento, ou ,numa solução mais radical, é fazer com que seja provado o verdadeiro sofrimento, pois assim nunca mais ninguém o irá exaltar, exibir a bom grado, adorar até. Porque sofrer, por indispensável que seja, não é bom.
3.
Esse blog funciona tal como um "medidor de atmosfera pessoal". É uma forma de execrar os sentimentos, os pensamentos daquele dia/época. E aqui se denuncia o humor, pois há os dias tipo manhãs de sol e os pós-tragos noturnos, assim como os tristes em essência por algo maior que essa vidinha tranquila levada e os completamentes loucos de amor por essa mesma vidinha tranquila e surpreendente.
O peso e o ônus de fazer parte de um grupo restrito, de não conseguir compreender muitas das relações dos outros que se nomeiam como amizade é , por muitas vezes, excessivo. Sim, não é fácil ficar ao lado de pessoas que tem relações de consequências, amizades, até relacionamentos completamente diferentes da sua. Se ouso criticar, posso ser taxado de louco, e talvez até tenham razão, mas , enfim, é isso que escolhei pra mim. Talvez pensem que os criticando estou tentanto fazer com que essas pessoas fiquem mais próximos do meu jeito de encarar certas relações, o que não é de todo mentira; mas , se faço isso, é com a intenção de que as pessoas aproveitem aquilo assim como eu estou aproveitando, de forma alguma querendo me orgulhar de estar nessa nomeada "loucura".
Sempre faço isso de boas atenções, mas acho que , por mais difícil que seja não compartilhar momentos bons, "catequizar" os outros para adentrar nesse mundo "louco" não é a melhor opção. Por isso, o melhor é guardar as próprias loucuras.
2.
Hoje em dia, o sofrimento é pop. Fácil se percebe. Porém, e ainda bem, o verdadeiro sofrimento, aquele que serve como rito de passagem para uma situação extraordinária, esse ainda não foi mapeado e popularizado, assim como eu acho que nunca vai ser, por ser demasiado polêmico e até inatingível à todos. Uma antídoto para o sofrimento pop seria fazer com que se perceba quão ridículo é exaltar o sofrimento, ou ,numa solução mais radical, é fazer com que seja provado o verdadeiro sofrimento, pois assim nunca mais ninguém o irá exaltar, exibir a bom grado, adorar até. Porque sofrer, por indispensável que seja, não é bom.
3.
Esse blog funciona tal como um "medidor de atmosfera pessoal". É uma forma de execrar os sentimentos, os pensamentos daquele dia/época. E aqui se denuncia o humor, pois há os dias tipo manhãs de sol e os pós-tragos noturnos, assim como os tristes em essência por algo maior que essa vidinha tranquila levada e os completamentes loucos de amor por essa mesma vidinha tranquila e surpreendente.
sexta-feira, novembro 04, 2005
Wolfianas (1)
Fausto Wolff é um jornalista-escritor gaúcho, descendente de alemães do vale do Sinos e personagem do país mítico chamado "Ipanema", no RIo de Janeiro, como diz Luis Fernando Veríssimo. Desde cedo convivendo com as agruras do país, sabe como poucos meter o dedo na ferida; sabe até as receitas para curar a ferida, mas como isso não depende só dele...
Eu disse uma vez que ele é uma mistura improvável de Bukowski com Jorge Luis Borges, com pitadas marxistas.
Vou colocar alguns trechos de um livro que eu recém comecei a ler, mas que de cara vi que é magistral: A imprensa livre de Fausto Wolff. è uma coletâneas de artigos sobre o país, o caos atual em que nos encontramos. É de 2004, portanto bem recente. Alguns trechos do livro:
"Nossa imprensa - os poucos jornais que sobraram e que viraram empregado dos canais de televisão - tornou-se clean, distante, superior, limitando a narrar os fatos sem se atentar para os fenômenos que ocasionam os fatos".
"As transnacionais, os bancos, as grandes redes de TV que nos convencem a consumir mais e mais todo tipo de porcarias não podem viver sem escravos. E os escravos somos nós e somos escravos porque - na medida em que queremos ter e abdicamos da nossa condição de indivíduos - não percebemos que eles não podem viver sem nós. Pensem bem: o domador sem tigre não passa de um palhaço com um chicote na mão."
" A liberdade é uma carcereira terrível"
Algumas coisas podem até parecer radical demais, mas não; basta ler Fausto Wolff que ele nos explica direitinho que, se há alguma verdade perdida, ele chega o mais próximo possível dela.
Eu disse uma vez que ele é uma mistura improvável de Bukowski com Jorge Luis Borges, com pitadas marxistas.
Vou colocar alguns trechos de um livro que eu recém comecei a ler, mas que de cara vi que é magistral: A imprensa livre de Fausto Wolff. è uma coletâneas de artigos sobre o país, o caos atual em que nos encontramos. É de 2004, portanto bem recente. Alguns trechos do livro:
"Nossa imprensa - os poucos jornais que sobraram e que viraram empregado dos canais de televisão - tornou-se clean, distante, superior, limitando a narrar os fatos sem se atentar para os fenômenos que ocasionam os fatos".
"As transnacionais, os bancos, as grandes redes de TV que nos convencem a consumir mais e mais todo tipo de porcarias não podem viver sem escravos. E os escravos somos nós e somos escravos porque - na medida em que queremos ter e abdicamos da nossa condição de indivíduos - não percebemos que eles não podem viver sem nós. Pensem bem: o domador sem tigre não passa de um palhaço com um chicote na mão."
" A liberdade é uma carcereira terrível"
Algumas coisas podem até parecer radical demais, mas não; basta ler Fausto Wolff que ele nos explica direitinho que, se há alguma verdade perdida, ele chega o mais próximo possível dela.
quinta-feira, novembro 03, 2005
devaneios (1)
Conquanto que seja possível, a fase de experimentação da vida tem de ser "a linha de sombra" dita por Josehp Conrad ; a fase de transição da juventude para a vida "adulta", cheia de responsabilidades onde a fuga delas já não pode mais ser vista de uma boa maneira.
Há ainda uma sustentação que nos permite a experimentação, da mesma forma que são os que nos sustentam que não nos deixam extrapolar essa experimentação, pois, afinal, o investimento tem de ter um fruto, e fazer com que o fruto se perca num mar de outros mais terríveis pode fazer com que ele apodreça, e aí não há nada que o mantenha na linha correta que os que nos sustentam querem que nós sigamos. É o ônus disso tudo; podemos experimentar, mas pagamos o preço de não fugir demais.
Enfim, viva a experimentação dirigida e saudável
( se é que conseguimos distinguí-las como tal...)
Devaneios, loucuras, tudo muito difícil de dar em alguma coisa ou não. Mas é assim.
Há ainda uma sustentação que nos permite a experimentação, da mesma forma que são os que nos sustentam que não nos deixam extrapolar essa experimentação, pois, afinal, o investimento tem de ter um fruto, e fazer com que o fruto se perca num mar de outros mais terríveis pode fazer com que ele apodreça, e aí não há nada que o mantenha na linha correta que os que nos sustentam querem que nós sigamos. É o ônus disso tudo; podemos experimentar, mas pagamos o preço de não fugir demais.
Enfim, viva a experimentação dirigida e saudável
( se é que conseguimos distinguí-las como tal...)
Devaneios, loucuras, tudo muito difícil de dar em alguma coisa ou não. Mas é assim.
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