sexta-feira, dezembro 16, 2005

Petardo

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Um petardo quebrou a janela, invadiu o quarto rapidamente, alojou-se ao lado da cama enquanto um homem dormia. No outro dia, o petardo estava ali, perfeitamente instalado no quarto, até combinando com o carpete cinza-esverdeado. Mas mesmo assim não se fez perceber pelo homem que dormia na cama; esse, quando acordou, tropeçou no petardo e caiu de bruços perto da janela. Desmaiou.


Quando acordou, parecia que havia passado muito mais de duas horas que o sol indicava. Nesse tempo desmaiado, o homem entrou em transe: viajou, conheceu alguém, fez algo que não imaginava que fosse capaz, passou bons momentos ao lado da pessoa, foi feliz e então sofreu, fez mais coisas que não se imaginava sendo capaz, ficou perplexo, duvidava de tudo e de (quase) todos, preparou-se para o pior - a morte - mas com aquela esperança de que não fosse a sua hora, e assim se deu, não foi a sua hora, acordou, e o petardo tinha sumido, de alguma forma, mas o buraco na janela estivesse ali para provar que o petardo havia entrado sim. Embora achasse que estivesse sonhando desde o início, começou a cuidar cada passo que dava, evitando os petardos mas também, ao mesmo tempo, lá no fundo de sua vontade - daquela que nunca quer admitir que existe - começou a procurá-los, queria ter um encontro novamente para mostrar que um petardo pode bastar para se evitar outros.


Mas, como era de se esperar, encontrou outro petardo no caminho do banheiro, quando despreocupadamente caminhava, e a história se repetiu: o transe, os sentimentos e ações que pareciam de um sonho, inclusive o desejo de não querer e ao mesmo tempo querer encontrar um outro petardo para esclarecer que um petardo basta para se evitar outros.



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2 comentários:

Anônimo disse...

petardo, aquilo que é explosível, e que aparece, ou ainda, que se busca... por vezes só se é possivel "continuar" superando um novo. nem bom nem ruim, mas estagnante. torna um vício a descontinuidade. não que se tenha que ter início, meio e fim, mas deve conter verdade. mesmo que o verdadeiro seja o mais duvidoso. real seria mais propício?

Anônimo disse...

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Gostei...falavamos a respeito ontem a noite...

Muito bom!

Bjocas.