terça-feira, outubro 11, 2005

Experimentações (literárias?)

Como tudo aqui, esse texto está sujeito a alterações. Aliás, mais do que os outros, pois esse certamente irei alterar depois, mas posto hoje para ver o que mudarei na vez em que alterá-lo.
Um experimento para comprovar que muito do texto, principalmente o final, depende do estado de espírito em que estamos na hora de escrevê-lo, e que é bastante saudável , na maioria dos casos, deixar o texto amadurecer, como um bom vinho, para passado algum tempo ver se ele ainda conserva o mesmo sabor sentido logo depois de seu término, ou se aumentou, diminiui, mudou completamente.




Eu queria passar na ponte de carro e nadar, só isso.
Então, decidi que era hoje que iria até lá, naquela noite. De uma festa que estava ruim demais, onde o champanhe tinha gosto de sangue e as pessoas fingiam que isso era bom, fui de carro até a ponte, que era distante da festa alguns bons quilômetros. Em um cruzamento já afastado da cidade, peguei à direita numa estradinha de chão batido e de lá segui até a ponte com os milharais me acompanhando, bêbados, agitados, gritando para tentar me dispersar, e , quem sabe, me fazer dormir com eles, ali mesmo.

Chegaram a gritar tanto que perderam a voz, e a lua finalmente conseguiu ouvir meus apelos e se tornou minha guia. Naquele céu estrelado, sem uma nuvem, ela funcionava como um farol para um barco que sabe onde está a costa, mas está embriagado o suficiente para não lembrar mais onde atracar.

Depois de algum tempo no imenso silêncio, cheguei na ponte. Ela estava ali como sempre esteve, me esperando, e dessa vez parecia mais linda ainda – cortesia da minha guia, que a iluminava como um grande sol num filme preto-e-branco. Não tinha muito controle dos meus atos, mas os meus sentidos estavam até mais aguçados, e talvez por isso consegui escutar com clareza a limpidez das águas, o bater suave nas pedras, a correnteza forte que levava tanta água que eu comecei a achar que as pedras não iriam agüentar, principalmente uma menor que estava sozinha, metade fora metade dentro d’água, tão pequena e inocente para estar ali, ao lado de tantas maiores e resistentes, como que esperando o destino cruel que a levaria rio abaixo até a grande cachoeira que o partiria em vários pedaços.

Parei o carro em cima da ponte, tirei o terno apertado, e , nú, me joguei dali de cima. Por algo que eu não entendo até hoje, não lembrei de mais nada depois. Sei exatamente do que aconteceu antes da onda preta aparecer. Foi assim: quando me joguei, vi as águas correndo, bem escuras, a pedrinha solitária ali me chamando, Venha se juntar a mim vamos ser solitários juntos, e algumas espalhadas que foram ficando cada vez mais juntas, maiores, e então veio uma onda meio amarela nos olhos e depois a preta, o breu.

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