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O blog está devendo.
(nem que seja para mim mesmo)
Há muito tempo que não sai nada que venha de bastante tempo de reflexão, seja ela consciente ou daquelas que não se percebe, mas que há tempos está ali dentro, pronta para sair, esperando uma fagulha para se alastrar.
Como o trabalho costuma ocupar tempo demais, os momentos livres de afazeres são aplicados na "recuperação" da mente cansada através de conversas, caminhadas pela noite e outras cosas não explicitadas aqui, mas compreensíveis por todos. E quando se trabalha justamente com a mesma tarefa que é a matéria prima do que aqui é mostrado - escrever, em grau menor de reflexão mas não de horas trabalhadas - fica mais difícil ocupar o tempo restante com a escrita. É preciso uma desintoxicação, um olhar para o horizonte, uma reabastecida nas experiências em busca de um clareamento na mente, necessário para a organização das idéias em forma de textos.
Por esse motivo, algumas coisas aqui estão sendo publicadas vem de outras pessoas, pois, logicamente, é mais fácil achar uma reflexão ou um texto interessante do que escrever um ou pensar numa. Mas nem por isso haverá de se ter menos critério na hora da escolha; demanda menos tempo, é um trabalho menos árduo, mas ainda assim não fácil.
Enquanto não se estiver acostumado com o trabalho e a organização das idéias de forma coerente e publicável, a linha se manterá. Quando aparecer momentos livres seguidos, que permitam a desintoxicação e a posterior reflexão de forma rápida e eficiente, o blog voltará a atividade "normal" (se é que dá para se chamar assim).
Eventualmente, quando o trabalho for de fácil adaptação para aqui ser publicado, assim será feito, e assim já foi feito algumas vezes.
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sexta-feira, abril 28, 2006
quarta-feira, abril 26, 2006
Vivência
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"Sempre se diz que por trás de todo romance há uma seqüência de vida ou realidade do autor, por mais pálida ou tênue e intermitente que seja, ou ainda que esteja transfigurada. Diz-se isso como se se desconfiasse da imaginação e da inventiva, também como se o leitor ou os críticos necessitassem de um gancho para não serem vítimas de uma estranha vertigem, a vertigem do absolutamente inventado ou sem experiência nem fundamento, e não quisessem sentir o horror ao que parece existir enquanto lemos - às vezes respira, sussurra e até persuade - mas que nunca foi, ou o extremo ridículo de levar a sério o que é apenas uma fantasia, luta-se contra a consciência dissimulada de que ler romances é coisa pueril, ou pelo menos imprópria à vida adulta que sempre vai aumentando."
Javier Marías, Negro Dorso do Tempo.
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"Sempre se diz que por trás de todo romance há uma seqüência de vida ou realidade do autor, por mais pálida ou tênue e intermitente que seja, ou ainda que esteja transfigurada. Diz-se isso como se se desconfiasse da imaginação e da inventiva, também como se o leitor ou os críticos necessitassem de um gancho para não serem vítimas de uma estranha vertigem, a vertigem do absolutamente inventado ou sem experiência nem fundamento, e não quisessem sentir o horror ao que parece existir enquanto lemos - às vezes respira, sussurra e até persuade - mas que nunca foi, ou o extremo ridículo de levar a sério o que é apenas uma fantasia, luta-se contra a consciência dissimulada de que ler romances é coisa pueril, ou pelo menos imprópria à vida adulta que sempre vai aumentando."
Javier Marías, Negro Dorso do Tempo.
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sábado, abril 22, 2006
Causo de amor
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Nos antigamentes, dom Verídico semeou casas e gentes em volta do botequim El Resorte, para que o botequim não se sentisse sozinho. Este causo aconteceu, dizem por aí, no povoado por ele nascido.
E dizem por aí que ali havia um tesouro, escondido, na casa de um velhinho todo mequetrefi.
Uma vez por mês, o velhinho, que estava nas últimas, se levantava da cama e ia receber a pensão. Aproveitando a ausência, alguns ladrões, vindos de Montevideo, invadiram a casa.
Os ladrões buscaram e buscaram o tesouro em cada canto. A única coisa que encontraram foi um baú de madeira, coberto de trapos, num canto do porão. O tremendo cadeado que o defendia resistiu, invicto, ao ataque das gazuas.
E assim, levaram o baú. Quando finalmente conseguiram abrí-lo, já longe dali, descobriram que o baú estava cheio de cartas. Eram as cartas de amor que o velhinho tinha recebido ao longo de sua vida.
Os ladrões iam queimar as cartas. Discutiram. Finalmete, decidiram devolvê-las. Uma por uma. Uma por semana.
Desde então, ao meio dia de cada segunda-feira, o velhinho se sentava no alto da colina. E lá esperava que aparecesse o carteiro no caminho. Mal via o cavalo, gordo de alforjes, entre as árvores, o velhinho desandava a correr. O carteiro, que já sabia, trazia sua carta nas mãos.
E até São Pedro escutava as batidas daquele coração enlouquecido de alegria por receber palavras de mulher.
- O livro dos abraços, Eduardo Galeano -
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Nos antigamentes, dom Verídico semeou casas e gentes em volta do botequim El Resorte, para que o botequim não se sentisse sozinho. Este causo aconteceu, dizem por aí, no povoado por ele nascido.
E dizem por aí que ali havia um tesouro, escondido, na casa de um velhinho todo mequetrefi.
Uma vez por mês, o velhinho, que estava nas últimas, se levantava da cama e ia receber a pensão. Aproveitando a ausência, alguns ladrões, vindos de Montevideo, invadiram a casa.
Os ladrões buscaram e buscaram o tesouro em cada canto. A única coisa que encontraram foi um baú de madeira, coberto de trapos, num canto do porão. O tremendo cadeado que o defendia resistiu, invicto, ao ataque das gazuas.
E assim, levaram o baú. Quando finalmente conseguiram abrí-lo, já longe dali, descobriram que o baú estava cheio de cartas. Eram as cartas de amor que o velhinho tinha recebido ao longo de sua vida.
Os ladrões iam queimar as cartas. Discutiram. Finalmete, decidiram devolvê-las. Uma por uma. Uma por semana.
Desde então, ao meio dia de cada segunda-feira, o velhinho se sentava no alto da colina. E lá esperava que aparecesse o carteiro no caminho. Mal via o cavalo, gordo de alforjes, entre as árvores, o velhinho desandava a correr. O carteiro, que já sabia, trazia sua carta nas mãos.
E até São Pedro escutava as batidas daquele coração enlouquecido de alegria por receber palavras de mulher.
- O livro dos abraços, Eduardo Galeano -
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quinta-feira, abril 20, 2006
De arrepiar
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Tarde da noite, ou melhor, cedo da madrugada. Chove, é feriado. Quase todos os lugares que normalmente abrem estão fechados. Mas o sono não vem. A conversa é por MSN, impessoal e suspeita. Tensão sexual via internet não é tão grande quanto pessoalmente, mas ainda assim passível de ações quase desesperadas da parte mais fraca. A outra parte, mais sabedora do que realmente quer, está melancolicamente feliz, e não sabe porquê. Mas nem quer saber. Acaba de escutar uma música estranha, lenta, puxada por um belo vocal grave mas em falsete no refrão:
_ De arrepiar. Tens que escutar
_ Hmn, não quero me arrepiar por causa de música
_ Hmnn
_ Mas manda aí, fiquei curioso
_ Perae
_ Vai demorar, tu poderia me antecipar o motivo do arrepio?
_ Me arrepio com música boa
_ Só por isso?
_ Agora que vi a letra, me arrepiei de novo
_ Hmn, tá com frio?
_ Não, é a música mesmo
_ Hmn, to curioso
_ Escuta primeiro, depois olha a letra
_ Ok
...
_ Deu
_ Legal
_ Legal??
_ Muito legal. De arrepiar mesmo, que coisa
_ Aquele inicinho...
_ Aham. Mas o refrão também
_ Pegou a letra?
_ Ainda não
_ Pega
...
_ Putz
_ Quê?
_ Muito bom. Me arrepiei de novo
_ Só de ler?
_ Aham
_ Não tá com frio?
_ Não
_ ...
_ Dava pra resumir a vida nela
_ Na música?
_ É. Tem uns versos ali...
_ Quais?
Here we are in our car driving down the street
We’re looking for a place to stop have a bite to eat
We hunger for a bit of faith to replace the fear
We water like a dead bouquet does no good does it dear
_ É, realmente
_ Eu resumiria minha vida à isso.
..
Tarde da noite, ou melhor, cedo da madrugada. Chove, é feriado. Quase todos os lugares que normalmente abrem estão fechados. Mas o sono não vem. A conversa é por MSN, impessoal e suspeita. Tensão sexual via internet não é tão grande quanto pessoalmente, mas ainda assim passível de ações quase desesperadas da parte mais fraca. A outra parte, mais sabedora do que realmente quer, está melancolicamente feliz, e não sabe porquê. Mas nem quer saber. Acaba de escutar uma música estranha, lenta, puxada por um belo vocal grave mas em falsete no refrão:
_ De arrepiar. Tens que escutar
_ Hmn, não quero me arrepiar por causa de música
_ Hmnn
_ Mas manda aí, fiquei curioso
_ Perae
_ Vai demorar, tu poderia me antecipar o motivo do arrepio?
_ Me arrepio com música boa
_ Só por isso?
_ Agora que vi a letra, me arrepiei de novo
_ Hmn, tá com frio?
_ Não, é a música mesmo
_ Hmn, to curioso
_ Escuta primeiro, depois olha a letra
_ Ok
...
_ Deu
_ Legal
_ Legal??
_ Muito legal. De arrepiar mesmo, que coisa
_ Aquele inicinho...
_ Aham. Mas o refrão também
_ Pegou a letra?
_ Ainda não
_ Pega
...
_ Putz
_ Quê?
_ Muito bom. Me arrepiei de novo
_ Só de ler?
_ Aham
_ Não tá com frio?
_ Não
_ ...
_ Dava pra resumir a vida nela
_ Na música?
_ É. Tem uns versos ali...
_ Quais?
Here we are in our car driving down the street
We’re looking for a place to stop have a bite to eat
We hunger for a bit of faith to replace the fear
We water like a dead bouquet does no good does it dear
_ É, realmente
_ Eu resumiria minha vida à isso.
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segunda-feira, abril 17, 2006
Cortázar, poetas
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Os poetas, por exemplo, estão felizes da vida com os seus poemas, embora se considere elegante supor o contrário. Os poetas sabem muito bem que só a obra pode realizá-los e gostam de saboreá-la. Não acredite nessa história de poemas escritos com lágrimas. São lágrimas recriadas, como a dos atores; as verdadeiras, a base de cloreto de sódio, choramos para nós mesmos.
Lembra do que disse Santo Agostinho quando morreu um amigo: " Eu não chorava por ele, mas por mim, que o perdi."
É por isso que as elegias são escritas muito depois, recriando a dor e sendo feliz ao mesmo tempo.
O Exame final, pág. 128.
Os poetas, por exemplo, estão felizes da vida com os seus poemas, embora se considere elegante supor o contrário. Os poetas sabem muito bem que só a obra pode realizá-los e gostam de saboreá-la. Não acredite nessa história de poemas escritos com lágrimas. São lágrimas recriadas, como a dos atores; as verdadeiras, a base de cloreto de sódio, choramos para nós mesmos.
Lembra do que disse Santo Agostinho quando morreu um amigo: " Eu não chorava por ele, mas por mim, que o perdi."
É por isso que as elegias são escritas muito depois, recriando a dor e sendo feliz ao mesmo tempo.
O Exame final, pág. 128.
sexta-feira, abril 14, 2006
Jornalísticos (2)
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Cap 3: A virada
Consolidado, o tal novo rock viu, em menos de um ano, a sua segunda geração nascer. Em 2002, novamente nas ilhas Britânicas, quatro ingleses, conhecedores de clássicos do rock e do punk como The Kinks, The Clash e Gang of Four, atualizaram a música destas bandas para o novo século com o nome de The Libertines e, desta vez, sem nem mesmo terem lançado um EP, foram alçados ao centro da mídia inglesa. As músicas já pulavam para a internet antes de serem colocadas no mercado, o pessoal baixava, lotava os shows e a propaganda mais eficiente de todas, a boca a boca, se encarregava do resto. O sucesso prematuro se consolidaria com o lançamento do primeiro álbum, Up the Bracket, em 2002, e se propagaria a nível mundial com o segundo, auto-intitulado Libertines, de 2004, fazendo com que eles viessem para o Brasil sem terem nenhum álbum lançado no país (só depois dos shows é que foi lançado por aqui). Mas nem precisava, afinal, havia a Internet, e baixar música e gravar em um CD virgem não era mais novidade.
Cap 4: Já é goleada
Neste ano, que nem no meio está, já tem mais um furacão vindo da Inglaterra, via peer-to-peer (a forma mais comum de baixar música pela Internet): o Artic Monkeys. Formado por garotos ingleses na casa dos dezenove anos, a banda é como uma atualização para 2006 da sonoridade do Strokes e do Libertines, com letras que falam diretamente das situações vividas pela gurizada inglesa e que, apesar de toda diferença de estilo de vida para o chamado Terceiro mundo, também faz se identificar quem mora por aqui. O primeiro CD da banda, gravado a um custo irrisório, vendeu espantosos 363 735 mil cópias em uma só semana, atingindo o primeiro lugar na parada inglesa. A primeira música a fazer sucesso da banda, “I Bet you look good in the dance floor”, é, até agora, a música do ano na Inglaterra. Com uma letra divertida que fala, segundo o próprio vocalista, “de milhares de garotas que já me puseram na situação de olharem para mim num clube ou bar, eu ficar interessado, mas depois dizerem que eu imaginei que elas estavam olhando”, e sua batida rápida, que faz soar velho o Strokes e outros cânones da primeira e segunda geração, a música se expandiu – novamente, graças a Internet - de tal forma que já é até tocada em alguns lugares da noite de Santa Maria.
Cap 5: A próxima partida?
Como a efemeridade é a tônica dessa nova geração, não se duvida de na semana que vem já surja outra banda para roubar o trono do Artic Monkeys de, como diz os Titãs, “melhor banda dos últimos tempos da última semana”,
Os Jogadores
Primeira geração: The Strokes, White Stripes, The Vines, The Hives, Interpol
Segunda Geração: Libertines, Franz Ferdinand, The Killers, Bloc Party,Kings of Leon
Terceira Geração: Artic Monkeys, Clap your Hands Say Yeah, Guillemots, Black Mountain
Jornal A Razão, 13 de abril de 2006.
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Cap 3: A virada
Consolidado, o tal novo rock viu, em menos de um ano, a sua segunda geração nascer. Em 2002, novamente nas ilhas Britânicas, quatro ingleses, conhecedores de clássicos do rock e do punk como The Kinks, The Clash e Gang of Four, atualizaram a música destas bandas para o novo século com o nome de The Libertines e, desta vez, sem nem mesmo terem lançado um EP, foram alçados ao centro da mídia inglesa. As músicas já pulavam para a internet antes de serem colocadas no mercado, o pessoal baixava, lotava os shows e a propaganda mais eficiente de todas, a boca a boca, se encarregava do resto. O sucesso prematuro se consolidaria com o lançamento do primeiro álbum, Up the Bracket, em 2002, e se propagaria a nível mundial com o segundo, auto-intitulado Libertines, de 2004, fazendo com que eles viessem para o Brasil sem terem nenhum álbum lançado no país (só depois dos shows é que foi lançado por aqui). Mas nem precisava, afinal, havia a Internet, e baixar música e gravar em um CD virgem não era mais novidade.
Cap 4: Já é goleada
Neste ano, que nem no meio está, já tem mais um furacão vindo da Inglaterra, via peer-to-peer (a forma mais comum de baixar música pela Internet): o Artic Monkeys. Formado por garotos ingleses na casa dos dezenove anos, a banda é como uma atualização para 2006 da sonoridade do Strokes e do Libertines, com letras que falam diretamente das situações vividas pela gurizada inglesa e que, apesar de toda diferença de estilo de vida para o chamado Terceiro mundo, também faz se identificar quem mora por aqui. O primeiro CD da banda, gravado a um custo irrisório, vendeu espantosos 363 735 mil cópias em uma só semana, atingindo o primeiro lugar na parada inglesa. A primeira música a fazer sucesso da banda, “I Bet you look good in the dance floor”, é, até agora, a música do ano na Inglaterra. Com uma letra divertida que fala, segundo o próprio vocalista, “de milhares de garotas que já me puseram na situação de olharem para mim num clube ou bar, eu ficar interessado, mas depois dizerem que eu imaginei que elas estavam olhando”, e sua batida rápida, que faz soar velho o Strokes e outros cânones da primeira e segunda geração, a música se expandiu – novamente, graças a Internet - de tal forma que já é até tocada em alguns lugares da noite de Santa Maria.
Cap 5: A próxima partida?
Como a efemeridade é a tônica dessa nova geração, não se duvida de na semana que vem já surja outra banda para roubar o trono do Artic Monkeys de, como diz os Titãs, “melhor banda dos últimos tempos da última semana”,
Os Jogadores
Primeira geração: The Strokes, White Stripes, The Vines, The Hives, Interpol
Segunda Geração: Libertines, Franz Ferdinand, The Killers, Bloc Party,Kings of Leon
Terceira Geração: Artic Monkeys, Clap your Hands Say Yeah, Guillemots, Black Mountain
Jornal A Razão, 13 de abril de 2006.
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quinta-feira, abril 13, 2006
Jornalísticos (1)
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O qüinquagésimo terceiro renascimento do rock (Parte 1)
Uma breve historia do rock do novo século, ressurgido, propagado e já consolidado através da Internet
Introdução
O ano é 98, mas poderia ser também 99. As paradas obrigatórias para quem gostava de música eram as rádios e a MTV. Expressões como “gravar CD” ou “baixar música” nem com legenda se compreendia. A palavra Internet, para grande parte da população, pertencia àqueles assuntos que já se ouvira falar, mas não se sabia onde, nem como e nem porquê. O rock no Brasil era Raimundos e sua “Mulher de fases”; no mundo, era os velhos U2, Rolling Stones (que vieram ao Brasil em 98) e os novos, e já em certa decadência, Oasis e Blur. E só. Quem mandava e desmandava nossos ouvidos nas paradas eram as famosas “boys & girls bands”, coisas como Backstreet Boys, N”Sync, Britney Spears (nos tempos de “menina virgem”) e Cristina Aguilera. Essencialmente, grupos de músicas fabricadas,em que raramente se distinguia um instrumento no emaranhado de combinações eletrônicas que uma produção de luxo sabia fazer para realçar a voz afinada, mas modorrenta, que despejava letras melosas estufadas dos mais variados clichês românticos.
Cap 1: Saindo de atrás
Então, como um antídoto contra a pasmaceira musical dominante, a Internet começa a se popularizar. No início de 2000, surge o Napster, o primeiro programa popular de troca gratuita de músicas pela rede. O rock, que nesse período de trevas sobrevivia anônimo pelas garagens mundo afora, tinha descoberto sua válvula de escape. Não mais se precisava escrever bobagens, ser bonito e ter sorte para atrair um produtor que se encarregasse de fazer todas as músicas: bastava tocar uma guitarra, um baixo, uma bateria, juntar gente que também tocava um desses instrumentos, escrever letras sobre o que estava sentindo, colocar a música na Internet e torcer para que outros, com o mesmo sentimento para extravasar, escutassem, gostassem e também saíssem para colocar as suas músicas.
Cap 2: Empata a partida
Em 2001, surge o The Strokes. Banda de Nova York, que emulava diversas influências de décadas passadas na música e no visual, foi fazer sucesso primeiro na Inglaterra, no início do ano, através de um empresário que ouviu seu primeiro compacto, com 3 músicas – nem CD eles tinham gravado – e despejou para a molecada britânica no limite da saturação com as “ boys & girls bands”. Logo, o fenômeno se alastrou, virou capa de revistas, moda e, sobretudo, hype. Na cola do Napster outros programas vieram, fazendo com que muita gente, antes mesmo de ter em mãos o EP dos Strokes, já tivessem “baixado” (a expressão começava a ser conhecida) todas as músicas. Paralelo ao surgimento da banda, outras foram aparecendo, algumas foram descobertas - como o White Stripes, que já tinha feito dois álbuns, sem muita repercussão, quando lançou “White Blood Cells”, em 2001, do quase-hit “Fell in love with the girl” – e o qüinquagésimo terceiro renascimento do rock’roll foi propagado. Com o público já desperto para a novidade, foi fácil para os quase homônimos The Hives, da Suécia, e o The Vines, da Austrália, aparecerem – e, tão efêmero quanto surgiram - desaparecerem.
Como principal característica dessa nova geração do rock, dá para se citar a devoção de sua música a das décadas de 60,70 e 80 – sobretudo na parte das guitarras. As músicas parecem sempre “lembrar” alguma banda antiga, só que agora acrescentado de um elemento novo, que tanto pode ser as letras mais sinceras sobre a realidade de cada músico, ou a mistura de tantas influências distintas que acabam por criar um algo “novo”, original.
Jornal A Razâo, 13 de Abril de 2006
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O qüinquagésimo terceiro renascimento do rock (Parte 1)
Uma breve historia do rock do novo século, ressurgido, propagado e já consolidado através da Internet
Introdução
O ano é 98, mas poderia ser também 99. As paradas obrigatórias para quem gostava de música eram as rádios e a MTV. Expressões como “gravar CD” ou “baixar música” nem com legenda se compreendia. A palavra Internet, para grande parte da população, pertencia àqueles assuntos que já se ouvira falar, mas não se sabia onde, nem como e nem porquê. O rock no Brasil era Raimundos e sua “Mulher de fases”; no mundo, era os velhos U2, Rolling Stones (que vieram ao Brasil em 98) e os novos, e já em certa decadência, Oasis e Blur. E só. Quem mandava e desmandava nossos ouvidos nas paradas eram as famosas “boys & girls bands”, coisas como Backstreet Boys, N”Sync, Britney Spears (nos tempos de “menina virgem”) e Cristina Aguilera. Essencialmente, grupos de músicas fabricadas,em que raramente se distinguia um instrumento no emaranhado de combinações eletrônicas que uma produção de luxo sabia fazer para realçar a voz afinada, mas modorrenta, que despejava letras melosas estufadas dos mais variados clichês românticos.
Cap 1: Saindo de atrás
Então, como um antídoto contra a pasmaceira musical dominante, a Internet começa a se popularizar. No início de 2000, surge o Napster, o primeiro programa popular de troca gratuita de músicas pela rede. O rock, que nesse período de trevas sobrevivia anônimo pelas garagens mundo afora, tinha descoberto sua válvula de escape. Não mais se precisava escrever bobagens, ser bonito e ter sorte para atrair um produtor que se encarregasse de fazer todas as músicas: bastava tocar uma guitarra, um baixo, uma bateria, juntar gente que também tocava um desses instrumentos, escrever letras sobre o que estava sentindo, colocar a música na Internet e torcer para que outros, com o mesmo sentimento para extravasar, escutassem, gostassem e também saíssem para colocar as suas músicas.
Cap 2: Empata a partida
Em 2001, surge o The Strokes. Banda de Nova York, que emulava diversas influências de décadas passadas na música e no visual, foi fazer sucesso primeiro na Inglaterra, no início do ano, através de um empresário que ouviu seu primeiro compacto, com 3 músicas – nem CD eles tinham gravado – e despejou para a molecada britânica no limite da saturação com as “ boys & girls bands”. Logo, o fenômeno se alastrou, virou capa de revistas, moda e, sobretudo, hype. Na cola do Napster outros programas vieram, fazendo com que muita gente, antes mesmo de ter em mãos o EP dos Strokes, já tivessem “baixado” (a expressão começava a ser conhecida) todas as músicas. Paralelo ao surgimento da banda, outras foram aparecendo, algumas foram descobertas - como o White Stripes, que já tinha feito dois álbuns, sem muita repercussão, quando lançou “White Blood Cells”, em 2001, do quase-hit “Fell in love with the girl” – e o qüinquagésimo terceiro renascimento do rock’roll foi propagado. Com o público já desperto para a novidade, foi fácil para os quase homônimos The Hives, da Suécia, e o The Vines, da Austrália, aparecerem – e, tão efêmero quanto surgiram - desaparecerem.
Como principal característica dessa nova geração do rock, dá para se citar a devoção de sua música a das décadas de 60,70 e 80 – sobretudo na parte das guitarras. As músicas parecem sempre “lembrar” alguma banda antiga, só que agora acrescentado de um elemento novo, que tanto pode ser as letras mais sinceras sobre a realidade de cada músico, ou a mistura de tantas influências distintas que acabam por criar um algo “novo”, original.
Jornal A Razâo, 13 de Abril de 2006
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domingo, abril 09, 2006
Derrota
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Sobre o sentimento de derrota:
Deitado em um cama num quarto escuro, sem conseguir ler e entertido com o olhar sobre o teto, que não parece dizer nada mas entender tudo, você não consegue parar de pensar no motivo que o barulho das ruas, hoje, é tão forte.
Pensa em atenuações, tanto para si próprio, quanto para dizer aos outros como resposta de uma batalha perdida que, absolutamente, você nada pode fazer para reverter se não torcer que as melhores soluções, vista por você mas também por grande parte das pessoas que compartilham do mesmo sentimento, caiam na cabeça de quem realmente pode resolver a situação: o técnico.
Elas não caem, mas por acidente a vitória está perto, e, mesmo desejando que a derrota até venha como forma de que sirva de lição para que os erros insistemente cometidos não se repitam mais, é como uma facada no peito a confirmação desse pensamento: a derrota é amarga, por mais que se deseje ela.
Fato confirmado. E é difícil para você aguentar, por mais que tantas vezes , até indiretamente, o resultado que agora é fato foi imaginado, como uma forma de se antecipar na procura de respostas convicentes para dizer a você e aos outros que a derrota não tenha a importância que ela realmente tem.
Remediar não funciona, mas é quase impossível não partir para esta solução em casos assim, de derrota ampla e incontestável. Por mais que se precise sofrer, a ilusão de que não se precisa é mais forte.
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Sobre o sentimento de derrota:
Deitado em um cama num quarto escuro, sem conseguir ler e entertido com o olhar sobre o teto, que não parece dizer nada mas entender tudo, você não consegue parar de pensar no motivo que o barulho das ruas, hoje, é tão forte.
Pensa em atenuações, tanto para si próprio, quanto para dizer aos outros como resposta de uma batalha perdida que, absolutamente, você nada pode fazer para reverter se não torcer que as melhores soluções, vista por você mas também por grande parte das pessoas que compartilham do mesmo sentimento, caiam na cabeça de quem realmente pode resolver a situação: o técnico.
Elas não caem, mas por acidente a vitória está perto, e, mesmo desejando que a derrota até venha como forma de que sirva de lição para que os erros insistemente cometidos não se repitam mais, é como uma facada no peito a confirmação desse pensamento: a derrota é amarga, por mais que se deseje ela.
Fato confirmado. E é difícil para você aguentar, por mais que tantas vezes , até indiretamente, o resultado que agora é fato foi imaginado, como uma forma de se antecipar na procura de respostas convicentes para dizer a você e aos outros que a derrota não tenha a importância que ela realmente tem.
Remediar não funciona, mas é quase impossível não partir para esta solução em casos assim, de derrota ampla e incontestável. Por mais que se precise sofrer, a ilusão de que não se precisa é mais forte.
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quinta-feira, abril 06, 2006
Diálogo (2)
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De um amigo para o outro, sentados em um bar, depois de 7 cervejas e alguns cigarros, continuação da conversa "entendo o meu problema e porquê sofro, mas não consigo evitar":
_ Olhava eu, cara, aquele clipe novo do Strokes, Heart in a Cage, sabe?, gostava da música, e num dos raros casos, achei que o clipe ilustra muito bem o que eu imaginava da música, da letra, inclusive. O vocalista rastejava no chão cantando
Well I don't feel better,
When I'm fucking around,
And I don't write better,
When I'm stuck in the ground,
e um dos guitarristas tocava em cima de um prédio de uma grande cidade, lembrando os anjos no clássico "Wings of Desire" do Wim Wenders. Tudo em preto e branco, como se a angústia de dizer aquilo fosse algo parecido a estar em mundo preto e branco repleto de portas coloridas escondidas e prontas para te levar a outras idéias que não a do sofrimento por estar dizendo aquilo de modo tão apaixonado, e que certamente é decorrente do amor,
Então a música, que é do famoso time do assopra-apaga, rápida com partes lentas ou vice-versa, abaixa o volume, guitarra devagar, bateria marcando o tempo rápidamente, e a voz entra dizendo
Oh the heart beats in its cage
e repetindo, e repetindo
como que chamando a uma dessas portas, desesperadamente venha me buscar e pare de se esconder que eu não aguento mais sofrer, independente de quão esse sofrimento seja verdadeiro, mas a imagem do vocalista cantando caído no chão no meio de uma multidão em um centro movimentado me convence de que ele não mente, e então ele canta
I'm sorry you were thinking; I would steal your fire
Enfim, ele encontra uma dessas portas, mas ela parece que veio tarde, quando não mais o amor conseguiria se esconder impunemente por aí sem enfrentar o que realmente o colocou naquela situação de caído no chão cantando coisas de quem se está apaixonado...
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De um amigo para o outro, sentados em um bar, depois de 7 cervejas e alguns cigarros, continuação da conversa "entendo o meu problema e porquê sofro, mas não consigo evitar":
_ Olhava eu, cara, aquele clipe novo do Strokes, Heart in a Cage, sabe?, gostava da música, e num dos raros casos, achei que o clipe ilustra muito bem o que eu imaginava da música, da letra, inclusive. O vocalista rastejava no chão cantando
Well I don't feel better,
When I'm fucking around,
And I don't write better,
When I'm stuck in the ground,
e um dos guitarristas tocava em cima de um prédio de uma grande cidade, lembrando os anjos no clássico "Wings of Desire" do Wim Wenders. Tudo em preto e branco, como se a angústia de dizer aquilo fosse algo parecido a estar em mundo preto e branco repleto de portas coloridas escondidas e prontas para te levar a outras idéias que não a do sofrimento por estar dizendo aquilo de modo tão apaixonado, e que certamente é decorrente do amor,
Então a música, que é do famoso time do assopra-apaga, rápida com partes lentas ou vice-versa, abaixa o volume, guitarra devagar, bateria marcando o tempo rápidamente, e a voz entra dizendo
Oh the heart beats in its cage
e repetindo, e repetindo
como que chamando a uma dessas portas, desesperadamente venha me buscar e pare de se esconder que eu não aguento mais sofrer, independente de quão esse sofrimento seja verdadeiro, mas a imagem do vocalista cantando caído no chão no meio de uma multidão em um centro movimentado me convence de que ele não mente, e então ele canta
I'm sorry you were thinking; I would steal your fire
Enfim, ele encontra uma dessas portas, mas ela parece que veio tarde, quando não mais o amor conseguiria se esconder impunemente por aí sem enfrentar o que realmente o colocou naquela situação de caído no chão cantando coisas de quem se está apaixonado...
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terça-feira, abril 04, 2006
Casa das palavras
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A casa das palavras
Na casa das palavras, sonhou Helena Villagra, chegavam os poetas. As palavras, guardadas em velhos frascos de cristal, esperavam pelos poetas e se ofereciam, loucas de vontade de ser escolhidas; elas rogavam aos poetas que as olhassem, as cheirassem, as tocassem, as provassem. os poetas abriam os frascos, provavam palavras com o dedo e tnão lambiam os lábios ou fechavam a cara. Os poetas andavam em busca de palavras que não conheciam, e também buscavam as palavras que conehciam e tinham perdido.
Na casa das palavras havia uma mesa das cores. Em grandes travessas as cores eram oferecidas e cada poeta se servia da cor que estava precisando: amarelo-limão ou amarelo-sol, azul do mar ou de fumaça, vermelho-lacre, vermelho-sangue, vermelho-vinho...
Eduardo Galeano,O livro dos Abraços.
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A casa das palavras
Na casa das palavras, sonhou Helena Villagra, chegavam os poetas. As palavras, guardadas em velhos frascos de cristal, esperavam pelos poetas e se ofereciam, loucas de vontade de ser escolhidas; elas rogavam aos poetas que as olhassem, as cheirassem, as tocassem, as provassem. os poetas abriam os frascos, provavam palavras com o dedo e tnão lambiam os lábios ou fechavam a cara. Os poetas andavam em busca de palavras que não conheciam, e também buscavam as palavras que conehciam e tinham perdido.
Na casa das palavras havia uma mesa das cores. Em grandes travessas as cores eram oferecidas e cada poeta se servia da cor que estava precisando: amarelo-limão ou amarelo-sol, azul do mar ou de fumaça, vermelho-lacre, vermelho-sangue, vermelho-vinho...
Eduardo Galeano,O livro dos Abraços.
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