quinta-feira, abril 13, 2006

Jornalísticos (1)

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O qüinquagésimo terceiro renascimento do rock (Parte 1)

Uma breve historia do rock do novo século, ressurgido, propagado e já consolidado através da Internet

Introdução

O ano é 98, mas poderia ser também 99. As paradas obrigatórias para quem gostava de música eram as rádios e a MTV. Expressões como “gravar CD” ou “baixar música” nem com legenda se compreendia. A palavra Internet, para grande parte da população, pertencia àqueles assuntos que já se ouvira falar, mas não se sabia onde, nem como e nem porquê. O rock no Brasil era Raimundos e sua “Mulher de fases”; no mundo, era os velhos U2, Rolling Stones (que vieram ao Brasil em 98) e os novos, e já em certa decadência, Oasis e Blur. E só. Quem mandava e desmandava nossos ouvidos nas paradas eram as famosas “boys & girls bands”, coisas como Backstreet Boys, N”Sync, Britney Spears (nos tempos de “menina virgem”) e Cristina Aguilera. Essencialmente, grupos de músicas fabricadas,em que raramente se distinguia um instrumento no emaranhado de combinações eletrônicas que uma produção de luxo sabia fazer para realçar a voz afinada, mas modorrenta, que despejava letras melosas estufadas dos mais variados clichês românticos.

Cap 1: Saindo de atrás

Então, como um antídoto contra a pasmaceira musical dominante, a Internet começa a se popularizar. No início de 2000, surge o Napster, o primeiro programa popular de troca gratuita de músicas pela rede. O rock, que nesse período de trevas sobrevivia anônimo pelas garagens mundo afora, tinha descoberto sua válvula de escape. Não mais se precisava escrever bobagens, ser bonito e ter sorte para atrair um produtor que se encarregasse de fazer todas as músicas: bastava tocar uma guitarra, um baixo, uma bateria, juntar gente que também tocava um desses instrumentos, escrever letras sobre o que estava sentindo, colocar a música na Internet e torcer para que outros, com o mesmo sentimento para extravasar, escutassem, gostassem e também saíssem para colocar as suas músicas.

Cap 2: Empata a partida

Em 2001, surge o The Strokes. Banda de Nova York, que emulava diversas influências de décadas passadas na música e no visual, foi fazer sucesso primeiro na Inglaterra, no início do ano, através de um empresário que ouviu seu primeiro compacto, com 3 músicas – nem CD eles tinham gravado – e despejou para a molecada britânica no limite da saturação com as “ boys & girls bands”. Logo, o fenômeno se alastrou, virou capa de revistas, moda e, sobretudo, hype. Na cola do Napster outros programas vieram, fazendo com que muita gente, antes mesmo de ter em mãos o EP dos Strokes, já tivessem “baixado” (a expressão começava a ser conhecida) todas as músicas. Paralelo ao surgimento da banda, outras foram aparecendo, algumas foram descobertas - como o White Stripes, que já tinha feito dois álbuns, sem muita repercussão, quando lançou “White Blood Cells”, em 2001, do quase-hit “Fell in love with the girl” – e o qüinquagésimo terceiro renascimento do rock’roll foi propagado. Com o público já desperto para a novidade, foi fácil para os quase homônimos The Hives, da Suécia, e o The Vines, da Austrália, aparecerem – e, tão efêmero quanto surgiram - desaparecerem.

Como principal característica dessa nova geração do rock, dá para se citar a devoção de sua música a das décadas de 60,70 e 80 – sobretudo na parte das guitarras. As músicas parecem sempre “lembrar” alguma banda antiga, só que agora acrescentado de um elemento novo, que tanto pode ser as letras mais sinceras sobre a realidade de cada músico, ou a mistura de tantas influências distintas que acabam por criar um algo “novo”, original.


Jornal A Razâo, 13 de Abril de 2006
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