sábado, fevereiro 11, 2006

Reflexões de Herman (1)

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Herman Oliveira tem 23 anos, nasceu em Santana do Livramento, filho de pai uruguaio e mãe brasileira. Morou em Livramento até os sete e em Montevideo até os 19, quando entrou para o curso de Letras na Universidade de Buenos Aires e lá mora até hoje. Em dados momentos, sem uma periodicidade rígida, ele escreverá para o blog. Como muitos estudantes de letras, Herman também é aspirante a escritor; por isso, os temas de seus escritos serão, em sua maioria, sobre o processo de escrever e literatura em geral. Mas, segundo ele, haverá relatos sobre outras coisas também como futebol e Buenos Aires, duas coisas que ele gosta muito.

Bon Apetit!



VIVER, CONTAR, CRIAR? *

Quem lê Hemingway deduz, cheio de certeza: ele viveu isso. Basta uma olhada na sua biografia e comprovar que sua vida foi tão interessante quanto aquilo que escreveu, se não for até mais. Mas Hemingway, como poucos escritores, viveu tão "intensamente", viajou, namorou, caçou, bebeu e conheceu tantas coisas que para contar suas histórias não precisava mais que sua memória, que, diga-se, era bastante boa em lembrar de detalhes.

Por muitas vezes, ele nem precisava forçar para contar uma história: eram elas, as histórias, que se apresentavam a ele e pediam, encarecidamente, para serem contadas.Então, cabia a ele julgar o que se apresentava, moldar o material que tinha, 'martelar uma bigorna como um ferreiro até que ela se torne rígida e compacta, sem excessos desnecessários', como ele mesmo escreveu na apresentação de um dos seus volumes de contos.

Mas Hemingway é uma exceção ou uma regra?

Acredito, e não é nenhuma novidade, que temos de vivenciar aquilo que contamos, nem que seja apenas na mente, mas o 'estopim' para nossa imaginação criar a história tem de ser uma situação real, acontecida conosco ou com alguém que nos contou tão bem que conseguimos nos colocar no lugar dessa pessoa e vivenciar também.

Quando lia Cortázar sem conhecer sua biografia, pensava na amplitude espantosa de sua imaginação e me custava acreditar que aquilo fosse possível ser contado se não tivesse sido minimamente vivenciado. Mas quando li um pouco sobre sua vida pude perceber que cada conto, cada passagem de 'Rayuela' (O Jogo da Amerelinha)saiu da vivência que ele teve, das coisas que viu, ouviu, tocou. Mesmo as partes mais fantásticas e irreais, ele vivenciou o suficiente para o estopim ser dado. Borges, por exemplo, me parece que não viveu, mas conheceu pessoas que contavam muito bem aquilo que viveram, e a sua rica imaginação, regada a muitos e muitos anos de estudo, tratou de criar o resto. E, diga-se de passagem, criou maravilhosamente bem.

Mas há outra questão também com relação a Borges. Como diz Cortázar de Goethe em 'Rayuela', Borges é um daqueles que estão com seus pseudópodes estendidos ao máximo em todas as direções , e eles abrangem com um diâmetro uniforme tudo aquilo que está em seus domínios, enquanto que nós, pobres humanos, apenas soltamos nossos pseudópodes em uma direção, embora nunca se saiba qual. É essa percepção aguçada que os torna clássicos.

Para finalizar, acredito que terá um bom resultado naquilo que escreve quem mais conseguir extrair a essência do que vive e criar, refletir sobre isso; a imaginação mais fértil aliada a melhor forma de contar aquilo que imaginou. Ou, quando se tem uma vida ao estilo Hemingway, saber selecionar o que viu e relatar. Bem, como se fosse "apenas" relatar...



*Traduzido do castelhano.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Herman é tua identidade secreta? Tipo o Clark Kent pro Super-Homem?

Anônimo disse...

Acredito que não.Aliás, tenho certeza que não.