quinta-feira, setembro 29, 2005

Percebia

A gente acredita tão piamente em certas coisas.
Pois é.


"Percebia, sim
naquele silêncio todo,
de canto de olho,
como quem não quer nada,
mas deseja acima de tudo
Um amor
alguém pra soltar todos aqueles clichês
"eu te amo, te quero demais, meu docinho"
e não mais ter vergonha
de falar de coisas de que não sabe"




.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Amor e samba

Imagine o Rio de janeiro, quadra de alguma escola de samba.
Churrasco assando, cerveja gelada de copo em copo.
Uma rodinha de samba em volta de duas mesas.
Oito pessoas, típicos carioca da gema, tocam pandeiro, violão, cavaquinho, bandolim e outros batuques.
Um puxador é a voz principal, o resto é o coro.
Mulatas sambando, brancas sambando timidamente, velha guarda de branco dançando junto, crianças brincando de pega-pega, jovens paquerando e cantando.
A música é um samba, o esboço do samba-enredo do próximo ano da escola cujo tema do desfile é o Amor.

A letra:

Amor, coisa rara, já foi embora
Bateu na porta, disse Olá, não gostou?
Fico em triste em saber,
que o amor não diz porquê
aparece, vai embora sem dar tchau!
Mas mesmo assim não há quem consiga
Viver sem tê-lo em companhia!


A entonação:

Amoooorrrr, coisa rara/
jáá foi embooraaaa/
bateu na porta disse Olá, Não gooostouuuuu?
Fico em triste em sabeeerrr que o amor não diz porquêêêê/
aparecee, vai embora sem dar tchauuuu!/
Mas mesmo assimm, não há, quem consigaaa
Viver sem tê-looo em compaanhiiaaaa!

! ah, o amor!


Amoorrr, coisa rara...

domingo, setembro 25, 2005

Domingo em família (2)

à noite

Ato Quatro
Sala
A tv ligada no jogo de um dos dois times da família. Da minoria; dois torcem a favor, seis contra; 'secam' ainda mais com o gol de empate do time adversário e com o nervosismo de um dos que torcem pelo time local que joga. Ele fica brabo, sai da sala. Tios, primos, e uma "intrusa", amiga de uma das tias, secam. Mas o jogo acaba empatado.

Mesa principal e secundária
Estão quase vazias; começa as conversas para qual a melhor maneira de se aproveitar o restante do almoço para se fazer uma boa janta. A prima de vinte e poucos anos, não muito ativa em matéria de preparação de comida, se manifesta. Silêncio entre as tias e a avó.
"Vamos testar nossa sobrinha" devem ter pensado.


Ato Cinco
Mesa Principal
É hora da janta. Corta-se as carnes restantes do meio dia, mistura-se a orégano e azeite, põe-se na panela. Misturada com farofa pronta Ioki, maionese e outras coisas restantes do almoço, está feita a janta. Toma-se vinho, sempre, para acompanhar e temperar as conversas.
O assunto que uniu todos ali ainda é prioridade; todos estão otimistas, as piadas são mais aceitas, os causos - referentes ao assunto,sempre - se tornam mais frequentes. Tios, tias, primos acima dos vinte, os mais velhos. A prima teve a idéia da carne com orégano; mesmo com receio de fazer besteira, tudo ficou muito bom; aprovada. Fará outras vezes?

Mesa Secundária
Primos abaixo dos vinte, tios com dores de cabeça jogam truco.

Sala
Para os que não tem espaço na mesa principal. O Fantástico como pauta para os assuntos. Tias e primos mais novos, com a adição dos que transitam entre a comida da mesa principal e a tv da sala.

Ato Seis
Mesa Principal
Chegam mais tios, juntam-se a mesa. Mais vinhos são trazidos. Sobram os tios na mesa; as mulheres vão para sala.

Mesa Secundária
O truco acabou.

Sala
Tias, primos, priminhas enchem a sala. Olham tv, conversam, as primas brincam, olham fotos. Risadas. A filosofia é motivo de discussão entre duas tias professoras e um primo estudante, que, por ser mais novo, tem a memória melhor e ganha a parada. As tias consentem

Prólogo
Sala
O primo que mora longe começa as despedidas.Há os que ficam, que se despedem rapidamente, pois amanhã o motivo que os uniu ali os unirá novamente. Os que moram longe conversam, se despedem de forma mais demorada - mas nem tanto, pois os fatos os obrigarão a vir em um curto espaço de tempo. É o que todos acham; mas a religião os faz acreditar em milagres, e estes milagres vêm em forma de 'almas' que os acordam e dizem exatamente isso, que eles não precisarão voltar muito breve.

Garagem
Quatro dos sete carros e 16 dos vinte e cinco presentes vão embora.
Há uma sensação de que , às vezes, as coisas ruins servem para trazer algumas coisas boas, não tão perceptíveis, mas igualmente importantes.
A união que o estado de saúde do patriarca proporcionou é uma delas.

Domingo em família (1)

Um Domingo de confraternização (?),uma família de origem italiana com aquisições castelhanas, bugras e polonesas, unida ( mesmo que por ocasião que ninguém queria que existisse...), almoçam:

Ato Um:
Mesa principal
As carnes, as saladas verdes com bacon/cebola cozidos (huumnnnnn...), os 'tios', os assadores, os mais velhos, o vinho, a maionese, a conversa alta, os 'causos'.

Mesa secundária
Primos abaixo dos vinte e cinco anos, refrigerantes, televisão, primas menores contando suas 'façanhas', a fase lésbica de toda menina (dos 6 aos 10 anos), a posterior fase das respostinhas, a fase reflexiva e piadística dos acima de 17 anos.

Ato Dois
Mesa Principal
Terminado o almoço. Conversas, mais causos, vinho, sobremesas ( bolo de morango, pudim, merengue), 'tios', primos dos vinte aos trinta, gargalhadas , vinho, futebol, PT, e claro, o motivo de todos estarem ali é o assunto mais discutido, às vezes até com bom humor, o que alguns consideram de mal gosto fazer piadas ou tiradas com assunto tão trágico...

Mesa secundária
Não há mais ninguém; todos na sala, em frente a Tv olhando fotos antigas e achando muita graça de quase tudo. Tias juntam-se a sala, lêem os jornais, comem o bolo, conversam e procuram na tv, com o controle, aquele programa de duas mulheres que mudam o visual de outras mulheres. Quando acham, riem, se divertem, e os primos vão jogar baralho (truco).

Ato Três
Mesa Principal
As mesmas conversas, o vinho, mais gargalhadas e mais silêncios também. Assuntos menos sérios, sono, o mate se aprontando.

Sala
Mais pessoas. Primas se juntam, os primos voltam (cansaram do truco), um primo adolescente passando mal deita e toma Coca, o Remédio Universal.
Trocam-se os canais freneticamente, copos de plástico se acumulam na mesinha e as tias pedem para os seus filhos levarem eles para o lixo, o que não é prontamente atendido.
Então, o sono surge. As tias começam a fechar os olhos, devagar, de uma em uma; os tios, que a essa hora já saíram da mesa e juntaram-se à sala trazendo o mate, 'cabeceiam' lendo o jornal; as primas se retiram para outro lugar, querem conversar. Os primos que restam, valentes, comandam o troca-troca dos canais, até que acham a Fórmula Um e param. Dois dos primos valentes não gostam de corrida. Vão para os quartos se entregar ao sono. Os que restam, aguardam o passar do dia.

Fim da Primeira Parte

quarta-feira, setembro 21, 2005

Quem sabe

"Quem sabe, faz. Quem não sabe, ensina. Quem não sabe ensinar, ensina a ensinar. E quem não sabe ensinar a ensinar, vira crítico".


Peguei essa citação de uma entrevista do Antonio Abujamra, o grande provocador. Não é dele a frase, mas não sei de quem é.

terça-feira, setembro 20, 2005

Los Hermanos

"Fez-se mar
Sem ar no meu penar
Demora não, demora não

Vai ver, o acaso entregou
Alguém pra lhe dizer
O que qualquer dirá
Parece que o amor chegou aí
Eu não estava lá, mas eu vi "


Overdose de Los Hermanos, do último CD. A cada nova escutada descubro alguns achados nas letras, uns jogos de palavras interessantes, uma história bem contada.
As letras desse álbum, ao meu ver, são a mais pura poesia, daquelas que a gente lê uma coisa e relê outra, sempre despertando novas interpretações, acionando a nossa inteligência. São todas bastante subjetivas, podendo até na primeira escutada parecer sem sentido ou sem nexo.
Mas é engraçado, não consigo enjoar. Cada dia tem uma melhor música do CD. As letras são completamente diferente de tudo que é feito na música brasileira atual, muito superiores no lirismo. Da dó de escutar uma música brasileira bastante tocada em rádio (CPM 22, por exemplo) e , inevitavelmente, comparar às do Los Hermanos. É outro nível, um outro patamar de subjetividade, de poesia.

Olha essa, simples e bela declaração de amor.

Paquetá

Ah, seu eu aguento ouvir
outro não, quem sabe um talvez
ou um sim
eu mereço enfim

é que eu já sei de cor
qual o quê dos quais
e poréns, dos afins, pense bem
ou não pense assim

eu zanguei numa cisma eu sei
tanta birra é pirraça e só
que essa teima era eu não vi
e hesitei, fiz o pior

do amor amuleto que eu fiz
deixei por aí
descuidei dele quase larguei
quis deixar cair

(tst tst)

Mas não deixei
peguei no ar
e hoje eu sei
sem você sou pá furada

Ai! Não me deixe aqui
o sereno dói
eu sei, me perdi
mas eu só me acho em ti

Que desfeita, intriga, o ó
Um capricho essa rixa e mal
Do imbrólio que qui-pro-có
e disso bem fez-se esse nó

e desse engodo eu vi luzir
de longe o teu farol
minha ilha perdida aí
o meu pôr do sol


É um deleite para se escutar, pensar, refletir, ler, despertar a inteligência acomodada com tantas coisas que nos são jogadas prontas, sem qualquer espaço para se pensar.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Cortazarianas beatnik (3)

No limiar da pusilânime confiança, estará o medo disfarçado de matador de aluguel à espreita da sua vítima indefesa como uma leoa a uma zebra em savanas sul-africanas, e ela, a leoa, não se entregará até que não tenha abocanhado a zebra, assim como o matador de aluguel não sairá da espreita de sua vítima enquanto não matá-la, e assim como nesse limiar a pusilanimidade estará observando cada passo tentando não deixar a confiança andar com as suas agora fortes e não mais hesitantes pernas em direção ao caminho perdido ,que dizem existir, da atitude correta.

Sonho não se faz assim

Pequeno conto, inspirado em muitas coisas.

Sonho não se faz assim

Antes de acordar, vou pensar que não, aquilo que você quis me dizer não era mais do que um sonho teu, e quem sabe meu também, porque aquilo não era pra ser dito, extravasado para fora de ti sem se prever as consequências, não pode haver um sorriso doce tão carregado de mentiras - não são mentiras? então são sonhos, devaneios de alguém perturbado por alguma coisa tão grande que não teve como guardar para si.
Alguma coisa entre o que querias dizer e o que disse é o que deveria ter dito, se é tão grande a agonia solitária, e , sim, é difícil, eu sei que é difícil ficar assim, mas nem por isso, nem por toda essa dor que diz sentir mas que eu digo que sei mas não sei se realmente conheço, nem por ela, nem por nada é justificável as palavras que você usou, sem medir consequências que parecem existir desde sempre, e você sabia delas, ah sabia, e então, fez tudo sabendo, pelo gosto de dizer e de ver o tanto de sofrimento que certas palavras podem trazer, muito pior do que qualquer coisa, e você sabia disso, agora ficou claro, você sabia, e usou tudo com tamanho cuidado que se esqueceu, ou não quis, lembrar do que havia acontecido, da história que existia, dos sentimentos que parecem fantasmas presos a uma casa que não mais serve de moradia à eles. Tanto foi tão pouco, ao menos agora parece ter sido, tardiamente percebido.
Antes de acordar, o dia já se fará, e o acordar não vai mais ser necessário, se é assim que você quer.

sábado, setembro 17, 2005

Saudade

Fim de semana chuvoso, frio, excelente pra ficar em casa sem fazer nada escutando Los Hermanos.

Sapato Novo
Bem, como vai você?
Levo assim calado de lá
tudo que sonhei um dia
como se a alegria
recolhesse a mão
pra não me alcançar

Poderia até pensar
que foi tudo sonho
ponho meu sapato novo
e vou passear
sozinho como der
eu vou até a beira
besteira qualquer
nem choro mais
só levo a saudade morena
é tudo que vale a pena


Não sei se a saudade é tudo que vale a pena, realmente não sei, porque ela traz sofrimento, mesmo que embutido na felicidade dos bons momentos.
Pior de tudo é não ter momentos, nem ruins nem bons, para se sentir saudade.

Pois é...

Pois é, hoje eu recolho a ressaca moral, emocional, sentimental e tudo que é mais al de ter saído ontem. Confirmei uma das hipósteses, que sair sozinho não significa porra nenhuma! Pior, nos passamos por bêbados estranhos agarrados a uma garrafa de cerveja conversando com seres igualmente sozinhos, sem perspectiva de nada. Sempre se ahca alguém pra conversar, isso é fato que comprovei ontem, mas não gostei de verificar que sair sozinho, pelo menos nas circunstãncias de ontem, é muito, muito ruim.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Alone

Pode parecer meio chato, mas algo que eu nunca fiz é sair sozinho de casa em direção a alguma festa. Sozinho, sozinho, sem a forte perspectiva de encontrar alguém conhecido nessa festa, nunca. Não sei porque, mas parece a mim que é como um teste de provação do qual eu não consigo passar. Algumas vezes acho que poderá ser um divisor de águas, outras que não significará porra nenhuma. Mas que é um teste de coragem sair, sozinho, à noite, a pé, na rua, para entrar em algum lugar, e lá ficar sozinho bebendo, isso é. A princípio, essa idéia de que eu vou ficar sozinho nun canto bebendo sozinho, sem fazer nada além de observar as pessoas, é muito improvável, pois se eu ficar bebendo sozinho num canto eu, à qualquer hora, vou ter de puxar papo com alguém minimamente conhecido ou nem isso, um completo desconhecido. Mas é uma necessidade, e a pior das perspectivas possíveis - ficar sozinho num lugar a noite inteira, sem falar com ninguém - é completamente absurda, pois com ALGUÉM eu vou conversar. Mas, por via de saciar minhas dúvidas, vou arriscar fazer isso hoje, sair sozinho. Daqui a pouco estou indo, e quando chegar eu conto o que deu.

segunda-feira, setembro 12, 2005

De volta a realidade

Depois de uma semana sem se preocupar com nada além de se divertir e conhecer lugares e pessoas diferentes, eis que a volta a rotina se torna necessário, e cruel também, por que não, já que é tão mais fácil se acostumar com as coisas boas e despreocupadas...
É necessário um ou dois dias à readaptação parcial, porque a completa demora mais, quase um mês, e é nesse período da adaptação parcial para a compelta é que surge as maiores vontades de se colocar tudo pro alto outra vez e sair por aí, em outros dias ou semanas de nada de preocupações e muito de divertimento. É um período perigoso, até porque não se sabe se realmente se quer isso, a rotina certinha, ou a rotina louca que nunca tem uma adaptação completa.

domingo, setembro 04, 2005



" Assim na América quando o sol se põe e eu sento no velho e arruinado cais do rio olhando os longos, longos céus acima de Nova Jersey e posso sentir toda aquela terra crua e rude se derramando numa única, inacreditável e elevada vastidão até a costa oeste, e toda aquela estrada seguindo em frente, todas as pessoas sonhando nessa imensidão, e em Iowa eu sei que agora as crianças devem estar chorando na terra onde deixam as crianças chorar, e você não sabe que Deus é a Ursa Maior? e a estrela do entardecer deve estar morrendo e irradiando sua pálida cintilância sobre a pradaria, reluzindo pela última vez antes da chegada da noite completa que abençoa a terra, escurece todos os rios, recobre os picos e oculta a última praia e ninguém, ninguém sabe o que vai acontecer a qualquer pessoa, além dos desamparados andrajos da velhice, eu penso então em Dean Moriarty, penso até no velho Dean Moriarty, o pai que jamais encontramos, eu penso em Dean Moriarty. "

Trecho final do On the Road, de Jack Kerouac. Um dos livros da minha vida.