.
Antes de qualquer coisa, venho publicamente pedir desculpa a nobre atriz
Graciane Pires, integrante do Grupo
Vagabundos do Infinito, liderado pelo professor
Paulo Márcio e ligado à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Em minha inocência, achei que conseguiria escrever uma resenha decente sobre o monólogo que ela dirigiu, produziu e atuou, o "
Temos todas a mesma história", dos dramaturgos italianos
Dario Fo - Prêmio Nobel de Literatura em 1997 - e Franca Rime, parceira de Fo.
Não consegui.
Não porque a peça não tenha qualidades, muito pelo contrário: tem diversas, a começar pelo texto, que, contando uma história pra lá de simples, consegue tratar com uma profundidade sutil - que é bem percebida por quem gosta de se apegar aos detalhes - temas caros a toda sociedade, como a submissão feminina nas relações sociais, o casamento e a maternidade. A continuar pela disposição do cenário, que tem uma espécie de biombo com papel manteiga - que permite fazer sombras na parte de trás - no meio do palco, importantíssimo para a primeira imagem que é vista da peça; e pela duração do monólogo, não mais do que 40 minutos, período perfeito para se contar a história de
Temos todas a mesma história, caso raro de uso não excessivo do tempo no teatro.
Foi com uma tristeza imensa que percebi que não conseguiria escrever uma crítica decente da peça porque, simplesmente, não sei julgar se o movimento do corpo de uma atriz está limpo, correto; não sei notar se o quadril está
realmente encaixado - embora tenha percebido que a Graci caminhava/corria sempre altiva, como se tivesse um fiozinho em cima dela a puxando para cima, como uma marionete; não sei julgar se ela fez bom uso dos recursos cênicos, ainda que, para mim, o cenário tinha o necessário para a história ser bem contada. Bom, por falar em história, chegamos ao ponto chave do motivo que não consegui fazer uma resenha de fundamento sobre o monólogo.
Eu simplesmente não sei julgar se a atriz está bem no palco, se ela errou muito, se acertou mais ainda. Porque, para mim, se ela contou a sua história de forma com que eu conseguisse entrar dentro e, ao chegar lá, captasse por minha conta cada sacada que ela deixava implícita nos detalhes, cada senha que ela me mandava como um convite para a reflexão sobre a nossa vida, cada piada que ela fazia exarcebando uma situação ou, simplesmente, escondendo a realidade de uma condição que, se não é degradante, é esquisita de se acontecer em pleno século XXI; se ela me fez entrar para o mundo que foi criado no palco, e de lá eu retirasse os significados e sentidos que eu desejasse, com a supervisão e a direção de em que ponto eu poderia refletir mais ou em que ponto eu deveria rir do absurdo da situação; se ela me levou com a mão para um passeio sobre a nossa condição humana, parando nos pontos críticos e dando o histórico do porquê de tal situação ser assim através de uma
piada, que me fez rir daquela forma que é a mais gostosa e que eu só encontro paralelo no desenho dos
Simpsons, onde o engraçado se dá menos pelo inusitado e mais pela
luz inusitada focada em uma situação banal; se ela me fez refletir gargalhando internamente na escuridão de uma platéia eminentemente de gente do teatro, concentrada mais em procurar defeitos nos koshis e na organicidade dos movimentos do que em adentrar em uma história que, diante de seus olhos, está sendo muito bem contada e pedindo para ser pensada junto; se ela fez tudo isso e alguém, no hall do teatro ao fim da peça, vem me dizer que os "
movimentos dela foram muito duros, tensos demais", eu só posso dizer que não tenho como fazer uma resenha do teu monólogo, Graci, porque eu não entendo absolutamente nada de teatro e de como uma história pode ser bem contada, independente se é um conto, um romance, um filme, uma música, ou uma peça teatral.
É constatando essa fraqueza que finalizo dizendo que não tenho como fazer uma resenha de
Temos todas a mesma história. Tenho, sim, como recomendá-la para quem quiser ver uma história sendo bem contada no palco, produzida na Santa Maria da Boca do Monte por uma natural de São Luiz Gonzaga, no norte do RS.
Isso eu posso fazer, embora agora me venha que acabo de fazer a recomendação com algum atraso, já que a peça foi encenada cerca de 3 meses atrás.
Sou muito enrolado mesmo. Desculpa, Graci.
Sinopse: A peça "Temos todas a mesma história" discute de forma cômica a submissão feminina nas relações sociais e sentimentais, abordando assuntos como aborto, casamento e maternidade. No monólogo, a personagem encontra-se em situações limites que vão conduzindo-a aos mais engraçados acontecimentos, contando e vivendo sua experiências. As situações por ela vividas são retiradas da vida real, e talvez muitos de nós também já tenhamos nos deparado com alguma delas em nosso cotidiano.
..