segunda-feira, maio 21, 2007

Instantâneas (2)

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Não há nada que descreva fielmente, embora algumas tentativas circundam, passando perto o suficiente para se ter um esboço daquilo do que se está querendo descrever.

Um exemplo de tentativa:

"Começa com uma certa tremedeira nas pernas, principalmente nas extremidades envolvidas. O sangue parece circular cada vez mais devagar, como se a cada segundo enfrentasse mais obstáculos que o impedisse de correr normalmente pelo corpo - em compensação, nos dedos ele vai ganhando velocidade e destruindo qualquer barreira que o impeça de se mover freneticamente, como se alguém tivesse posto uma substância que os turbinasse e os fizesse funcionar de maneira inversamente proporcional a velocidade com que o sangue circula nas pernas, que a essa altura já não são mais sentidas, levadas do tempo-espaço por alguma estranha sensação de prazer que beira ao incontrolável e tangencia a dor por milésimos de segundo que logo são substituídos por horas de satisfação condensadas em algumas poucas agudíssimas sensações de prazer, que começam a se repetir em cada vez menos tempo e a cada repetição mais intenso é o prazer, a ponto de transformar a dor, que agora é maior, em uma sensação que não é mais dor nem coisa alguma se não aquilo que não se sabe e nunca se saberá o que é - então, é quando volta o sangue a romper os obstáculos e circular livremente pelas pernas, oxigenando-as com o que turbinava os movimentos dos dedos, tornava os lábios subitamente ressecados, paralisava as mãos por poucos segundos, criava viagens ilusórias na mente antes desconectada da realidade e que, agora, finalmente, trazem à tona as lembranças recentes do que acabou de acontecer."


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