Na correria dos últimos tempos, me esqueci do blog. Pela segunda vez.
É algo complicado manter um blog atualizado tendo a preguiça de marcadora implacável, com mais disposição que o Dunga na copa de 94 e com mais classe e esperteza que o Gamarra na zaga do Paraguai.
Abaixo vai o roteiro do documentário de rádio que eu fiz para a minha ultima disciplina de rádio. É sobre o Bob Dylan, pra encerrar a minha "fase" Bob Dylan, começada por esse documentário, continuada pelo livro dele Crônicas e botada pra dormir depois de uma overdose de escuta da "coletânea" que fiz com as músicas dele.Tenho fases para escutar música, ora gostando de uma banda, ora fascinado por outra, ora por outra, mas o curioso (ou não) é que essas fases sempre se repetem. Já tive umas 10 fases do Pearl Jam, que foi a primeira banda que eu Gostei mesmo, com G maiúsculo, e até hoje, talvez por ser a pioneira, é a que eu mais tenho carinho, que sempre cito quando se pergunta que banda tu gosta, ou mias curte. Coisas assim.
Rádio Universidade Documenta (Bob Dylan)
Em 1961, Enquanto o americano John Kennedy assumia como presidente nos Estados Unidos e comprava briga com Cuba e os socialistas
Enquanto o russo Yuri Gagarin fazia o primeiro vôo espacial tripulado e despertava os Estados Unidos para a corrida espacial
Enquanto o artista pop por excelência Andy Warhol criava a sua famosa obra usando as latas de sopa Campbell como tema
Enquanto os Beatles ensaiavam ser uma banda famosa com algumas pequenas excursões pela Europa
Enquanto tudo isso e mais um monte de coisas aconteciam pelo mundo, Robert Allen Zimmerman chegava em Nova York ,vindo do interior dos Estados Unidos, destinado a inventar um dos maiores artistas do século 20 - Bob Dylan.
Primeiro poeta da música pop, Dylan transitou pelos mais variados estilos musicais – folk, rock, country, blues, pop - sem nunca perder o lirismo e a qualidade de suas letras. Ora faz críticas contundentes e ácidas a sociedade e seus governantes, ora baladas doces e cruéis sobre o amor. No fim, o objeto de suas letras sempre foi o mesmo: o homem e o seu tempo.
Dylan chegou em Nova York disposto a, inicialmente, participar da cena folk existente, mesmo que o violão e voz tradicional do estilo fosse considerado uma “porcaria”, lançada por selos pequenos e ainda sem prestígio no país.
Depois de gravar um álbum predominante cover, em 1962, no ano seguinte Bob Dylan lança o primeiro disco com músicas próprias. The Freewheelin Bob Dylan já trazia algumas músicas que se tornariam clássicos atemporais da música pop contemporânea, como “Masters of War”, “ A hard rain’s A-gonna Fall” e “Blowin’in the Wind”.
Em seu livro Crônicas, Volume Um, uma espécie de auto biografia lançada este ano pela editora Planeta, Dylan diz : “o que eu tocava na época era canções folk com letras fortes e atrevidas, e você não precisa de pesquisas de opinião para saber que elas não combinavam com nada das rádios. As canções folk transcendiam a cultura imediata” .
Estabilizado em Nova York, Dylan gravou nove álbuns de 1963 à 1970, sendo que destes nove pelo menos quatro podem ser considerados como dos mais importantes da história do rock e da música pop . São eles: Bringing It All Back Home, de 1965, com músicas como Maggie’s Farm e Mr. Tambourine Man.
Também de 1965, Highway 61 Revisited, da clássica Like a Rolling Stone, uma das músicas mais famosas de Dylan, baseada em um conto seu que fala sobre uma garota que perde todo seu dinheiro e passa a viver vadiando pelas ruas, sentindo na pele o que outrora sempre desprezou.
Blonde on Blonde, de 1966, tem um clima circense , e conta com uma das mais belas baladas de Dylan: Just Like a Woman
John Wesley Harding, de 1968 , tem All along the Watchtower, música regravada e popularizada por Jimi Hendrix. A letra fala de um apocalipse iminente contado de trás para frente
Na primeira metade dos anos 70, Dylan foi muito cobrado pela críticos. Eles diziam que o músico tinha “decaído” em suas composições, que estava apenas se repetindo.
Como Dylan nunca se preocupou com as críticas, em 1973 gravou Knockin”on Heaven’s Door para o filme de faroeste Pat garret e Billy the Kid ,do diretor Sam Peckinpah. A música foi um dos maiores sucessos do músico, regravada inúmeras vezes. O brasileiro Zé Ramalho fez a sua versão para o português, com o nome de Bate na Porta do Céu
Ainda nos anos 70, Dylan gravou o álbum que é considerado por muitos críticos como o melhor de sua carreira: Blood on Tracks, de 75.
Diferente da raiva e do cunho político dos anos 60, em Blood on Tracks Dylan fala de si, da dor que sentia depois de acabar com sua esposa, Sara.
Cada letra é uma história completa, um pequeno conto sobre amor, solidão e perda. O instrumental simples destaca bem o conteúdo das letras, como se Dylan quisesse que prestássemos atenção apenas no que realmente importa na vida. A faixa nove, If you see her say hello, é uma das mais tristes do álbum.
Em Shelter from the Storm, faixa nove de Blood on Tracks, Dylan usa uma metáfora poderosa para falar da salvação através do amor:
Foi em uma outra vida
Uma de labuta e sangue
Quando trevas eram uma virtude
E a estrada estava coberta de lama
Eu cheguei do ermo
Uma criatura vazia de formação
"Pode entrar", ela disse
"Te darei abrigo da tempestade"
...De repente eu me viro
E ela está ali de pé
Com braceletes de prata nos seus pulsos
E flores em seu cabelo
Ela se chegou em mim tão graciosamente
E retirou minha coroa de espinhos
"Pode entrar", ela disse
"Te darei abrigo da tempestade"
Agora existe uma parede entre nós
Algo se perdeu
Fiquei mal acostumado demais
Fiquei com os sinais cruzados
Só de pensar que tudo começou
Em uma longa esquecida manhã
"Pode entrar", ela disse
"Te darei abrigo da tempestade."
Um ano depois, em 76, Dylan retoma seu lado político. A canção Hurricane, do álbum Desire, é um manifesto contra a prisão do boxeador Rubin Carter, acusado injustamente de assassinato. No refrão Dylan deixa bem claro sua intenção com a música.
A letra diz : aí vem a história do Furacão, o homem que as autoridades acabaram culpando por algo que ele nunca fez , colocando numa cela de prisão, mas houve um tempo em que podia ter sido o campeão mundial.
Em 1999, foi feito um filme contando a história de Robin Carter, interpretado por Denzel Washington. A música de Dylan fez parte da trilha sonora.
Como todo grande artistista, Dylan teve seus altos e baixos.O período do final dos anos 70 até o início dos 80 pode ser considerado um dos mais baixos de Dylan .
Mesmo gravando discos e fazendo shows, Bob Dylan já não tinha a mesma inspiração de antes. Retrato dessa fase é o album Saved, de 1980, que apresenta um Bob Dylan “cristão”, com letras de quase louvor a Deus. Felizmente, a fase durou pouco.
Nos anos 90, Dylan diminuiu o ritmo de sua produção, o que não afetou em nada na sua qualidade. O disco Unplugged, de 95, deu nova roupagem à alguns clássicos, apresentando o artista à nova geração.
Dois anos depois, recebeu um prêmio grammy pelo album Time out of Mind, de 97, e um oscar pela canção Things have changed. Mesmo com a saúde um pouco abalada, Dylan ainda permanecia o mesmo aritsta, agora com o acréscimo da sabedoria da maturidade.
Hoje em dia, Dylan não pensa mais em gravar albuns. Ele não tem mais a ambição de abalar as estruturas, embora rumores de que ele possa entrar em estúdio para agravar um disco novo surjam a todo momento. Mas Dylan pode ficar sossegado: a sua contribuição para a cultura e a música pop já foram dadas.
Mais do que inventar um dos grandes artistas do século XX, Robert Allen Zimermann – vulgo Bob Dylan – conseguiu uma façanha ainda maior: se reinventar.
Quando a crítica taxou-o de repetitivo, Dylan mostrou que poderia ser surpreendente e cantar as dores de um coração partido, como fez nos anos 70.
Quando acharam que a conversão ao cristianismo seria definitiva e afetaria para sempre suas músicas, Dylan lançou um album chamado “infiel” e mostrou que o louvor a Deus em suas músicas era passageiro.
Quando acharam que ele estava velho e não tinha mais nada a dizer, Dylan mostrou que sua veia de protesto, mesmo em um mundo tão diferente quanto o da sua juventude, ainda era forte.
Ao se reinventar, Dylan criou um outro problema: sua importância é tanta que ele não serve mais como parâmetro para nada. É um caso a parte.
É muito difícil que um novo artista consiga superar a trajetória de Dylan, ou mesmo exercer papel tão importante quanto o dele na música pop.
O músico e compositor Fausto Fawcett diz sobre a importância de Bob Dylan para a música pop:
“A música pop sempre haiva sido feita para os hormonautas, os adolescentes. Dylan deu um nó nisso. Ele forneceu um enlevo acima do burburinho intelecutal, o que forçou o jovem a não ser tão sonolento .”
Eduardo Bueno, no pósfacio da edição brasileira do livro de Bob Dylan, Crônicas, Volume Um, diz:
“Bob Dylan sempre foi um sujeito com um violão e um ponto de vista.Ou com uma guitarra e um ponto de vista. Ou com sua banda ( a única boa o suficiente para ser chamada apenas de The Band) e um novo e indecifrável ponto de vista. Os pontos de vista acabaram se tornando um mapa para a história da música pop depois de 1962. A trilha que ele abriu, e ao longo do qual percorreu todas as estações, manteve seus seguidores permanentemente à beira do abismo.
Bob Dylan sempre fingiu que é dor a dor que deveras sente.
(com algumas alterações, já que foi feito para rádio, né.)
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Um comentário:
ei, muito massa o documentário! pena que deu pra eu ouvir... mas ta bem legal... parabéns! hehe
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