terça-feira, fevereiro 27, 2007

Na pior

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"Oh, mal contundente, a condição da pobreza"
Chaucer



Término de faculdade, começam a se fazer planos breves para os meses que virão, escolher qual dos inúmeros caminhos que se apresentam nesta época será o inicialmente traçado.

Numa dessas muitas caminhadas sem rumo que servem de válvula de escape para a cabeça planejar alguma coisa, entrei numa livraria daqui – a Cesma – e fui dar uma vasculhada nos livros, procurando idéias que pudessem me fazer escolher um dentre esses caminhos.

De cara, na prateleira dos livros de jornalismo, achei um de capa amarela, do George Orwell. O título me chamou atenção: “Na pior em Londres e Paris - a vida de miséria e vagabundagem de um jovem escritor no fim dos anos 1920”.

Eu, que sempre quis viajar sem rumo durante o maior tempo que conseguisse agüentar sem ter uma casa fixa, tinha como um dos caminhos pós-formatura justamente esse, de viajar e passar trabalho, porque não vai ter outra época tão propícia a isso quanto esta, dos vinte e poucos anos sem nada de muito fixo com que se prender em determinado local.

Comprei o livro, com a expectativa dele me trazer algum tipo de inspiração para viajar, uma redenção na experiência de “estar na pior” em lugares tão distintos e interessantes quanto Londres e Paris.

Bom, terminado de ler a primeira parte, que trata dos anos que Orwell viveu na miséria mesmo em Paris, dá para se dizer que ele realmente trouxe uma inspiração, mas não bem uma sensação de redenção de “estar na pior”.

Orwell conta tão em detalhes das situações de pobreza que passou – os dias sem comer nada e os dias comendo pão seco, as semanas sem tomar banho, os trabalhos escravos nos porcos hotéis e restaurantes franceses – que é difícil querer passar por situações exatamente iguais aos que ele passou.

Parecidas, quem sabe, mas não bem por ser algo “redentor”, que trará uma nova “perspectiva” de vida, de valorizar certas coisas banais como ter o que comer e onde morar, e sim por um grande interesse meu em querer viver papéis diferentes em lugares diferentes, independente de quanto eles podem ser extenuantes – ainda que dentro de um limite do “tolerável”, o que Orwell, por vezes, até passou da conta, trabalhando 17 horas por dia, por exemplo.

Tenho um desejo, que não é nada secreto, de fazer muitas e variadas coisas: ser marinheiro na Noruega, estivador no Chile, pescador no Havaí, garçom em Paris, colhedor de frutas no interior da França, dentre outras coisas tão semelhantes e diferentes. Viver situações inusitadas - os momentos “modestamente excepcionais” que fala o Cortázar – em lugares inusitados, com pessoas inusitadas; E, se para tais momentos, precise passar trabalho, não há problema: passa-se trabalho.


Não há um objetivo definido em querer viver desta maneira; talvez, seja exatamente a falta de um objetivo fixo e bem delimitado para toda uma vida que sirva de motivação para se querer ter esse tipo de vivência, múltipla e notadamente instável.


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2 comentários:

carolina disse...

acho que sou mocinha demais pra isso. até pra sonhar. por isso apelo pra escrita, coisa de "loser" mesmo. escrevo sobre las vegas, um padre vestido de elvis, noiva de madonna com direito a sutiã pontudo e dancinha sexy enquanto canta "like a virgin".
bem, caso não consiga seu passaporte e quiser tentar uma viagem inusitada pelo brasil mesmo, é convidado pra conhecer cuiabá, chapada e tudo mais que esse inferninho oferece. abraços.

Anônimo disse...

Livraria??? Cesma eh uma cooperativa e não livraria...