segunda-feira, abril 23, 2007

Paraná (2)

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Confesso, exagerei no tom ao falar de Curitiba e do Paraná no último post. Não que a impressão que tive do local não fosse aquela mesma, mas talvez tenha pegado pesado demais na hora de escolher as palavras para expressar essa impressão.
Outro ponto importante é que falei das diferenças que, comparando com outros locais (implicitamente o Rio Grande do Sul, reconheço), tornavam o Paraná um estado "insosso". Mas, ficando nessas mesmas diferenças, existem várias delas que tornam o Paraná - especificamente Curitiba - um lugar muito bom de se viver, de "primeiro mundo", como eles mesmos dizem.

Curitiba é organizada de uma forma que Porto Alegre nunca vai ser, por exemplo. Não se vê lixo nas ruas, mesmo o chamado "centrão" é bastante limpo - grande parte disso se deve aos laranjinhas", os garis responsáveis pela limpeza da cidade, espalhados aos montes em cada praça e rua do centro da cidade. Aquele aspecto de sujeira que encontramos em Porto Alegre, principalmente nos arredores do Mercado Público, não existe em Curitiba: por ser difícil de se encontrar lixo nas ruas, anda-se pelo centro respirando um ar mais puro, menos impregnado de sujeiras e poluições diversas.


Trem passando bem perto do centro de Curitiba

Os parques de Curitiba são especialmente belos, bem cuidados e, por consequência, bem frequentados - não há tantos daquele tipo de bagaceiro tão comum no RS, os que só pelo fato de estarem no mundo acham que tem o direito de tirar tudo que podem de alguém que, para eles, não poderia ter nascido em uma situação diferente da deles. Parques como o Jardim Botânico são fechados à noite, o que ajuda a manter eles bem cuidados e agradáveis de se visitar, fazer exercícios ou o que mais se tiver vontade de fazer. Para ficar no exemplo do Jardim Botânico, são tantos metros quadrados de um gramado verde bem cuidado, árvores com sombras bastante agradáveis, que, pelo que comentam, não é difícil casais darem uma escapadinha da atribulada rotina do centro da cidade e darem uma passada lá para namorar e fazer algumas coisas a mais...

Outro exemplo de bom funcionamento é o sistema de ônibus, conhecido como o melhor da América Latina - o que não é exagero, como quase todos os outros títulos que os curitibanos atribuem a sua cidade. São tantas linhas, tipos de ônibus diferentes, interligações, que não há como não se admirar como toda aquela logística intrincada funciona bem, com ônibus saindo e chegando no horário. Tudo direitinho, correto.

Como se vê, essa é a principal impressão que tive de lá: uma cidade corretíssima, onde tudo funciona muito bem - ou parece que funciona muito bem, porque para afirmar de certeza só morando mais tempo lá.


Mate no Jardim Botânico

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segunda-feira, abril 16, 2007

Paraná

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Engraçado como aqui em Curitiba os jornais, a televisão e mesmo as propagandas promovem quase que desesperadamente um "orgulho" paranaense, por vezes até procurando relações improváveis que possam ajudar na criação de uma cultura local. Isso acontece, creio eu, porque aqui no Paraná não exista nenhuma cultura que minimamente possa ser chamada de autêntica; tudo parece ser importado de outros locais, até mesmo as pessoas. Ao menos em Curitiba, impressiona o ufanismo dos seus habitantes; tudo aqui é maior, melhor, mais organizado, como se glorificar a cidade fosse a única forma de dizer que eles existem, que aqui também é um lugar onde se produz uma cultura "autêntica", original.
No fundo, isso tudo é uma forma de disfarçar o coitadismo que eles inevitavelmente sofrem por importar tantas coisas e criar tão poucas...

O principal jornal daqui, a Gazeta do Povo, serve como exemplo. Numa notícia sobre a UFPR (Universidade Federal do Paraná), que informava sobre novos cursos que serão abertos nela, o título da matéria era o seguinte:

"3º maior do país, UFPR vai abrir mais cursos noturnos"

Um exagero o trecho até a vírgula , não?
Como se o fato de a UFPR ser a terceira maior do país fosse mais importante que a informação em si, que é a abertura de novos cursos noturnos.

O caso acima não é isolado; em praticamente todo os jornais daqui, assim como nos telejornais , há um exagero em exaltar as qualidades do estado, numa, pra mim, nítida necessidade de auto-afirmação, de mostrar que aqui não só se produz cópias do que de melhor foi feito em outros lugares mas que, também, há coisas originais.

Esse coitadismo disfarçado de ufanismo exagerado é ainda mais perceptível nas pessoas que moram em Curitiba. Todos parecem ter características copiadas de pessoas de outros lugares, como se o paranaense legítimo fosse uma soma de paulistas, catarinenses, gaúchos, cariocas, etc. Acabam, em sua maioria, sendo pessoas insossas, "normais" ao extremo. Em algumas andadas por aqui, não vi nenhuma loucura, ou mesmo aqueles malucos clássicos, bêbados, enfim, pessoas fazendo coisas que não se imagina, que te surpreendem. Claro, aqui existem lugares e pessoas interessantes, mas tudo parece ser normalzinho demais, perfeitinho demais, sem aquele tipo de erro que tornam as coisas mais interessantes.

Talvez seja pouco tempo para uma avaliação mais profunda, ou, então, essa minha primeira impressão (que não é bem primeira, porque já vim para o Paraná outras vezes e sempre tive essa sensação) pode ser derrubada em breve.
Mas não acredito muito nisso não...


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sexta-feira, abril 06, 2007

Singelo

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Do praticamente finado blog do Marcelo Camelo, vocal e guitarra do Los Hermanos:


eu sou só um você
que você não quis
e querer é coisa tão pequena
que só não sou você por um triz


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terça-feira, abril 03, 2007

Love

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Do mestre Julio Cortázar em Rayuela, cap. 93:

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Pero el amor, esa palabra... Moralista Horacio, temeroso de pasiones sin una razón de aguas hondas, desconcertado y arisco en la ciudad donde el amor se llama con todos los nombres de todas las calles, de todas las casas, de todos los pisos, de todas las habitaciones, de todas las camas, de todos los sueños, de todos los olvidos o los recuerdos. Amor mío, no te quiero por vos ni por mí ni por los dos juntos, no te quiero porque la sangre me llame a quererte, te quiero porque no sos mía, porque estás del otro lado, ahí donde me invitás a saltar y no puedo dar el salto, porque en lo más profundo de la posesión no estás en mí, no te alcanzo, no paso de tu cuerpo, de tu risa, hay horas en que me atormenta que me ames (cómo te gusta usar el verbo amar, con qué cursilería lo vas dejando caer sobre los platos y las sábanas y los autobuses), me atormenta tu amor que no me sirve de puente porque un puente no se sostiene de un solo lado, jamás Wright ni Le Corbusier van a hacer un puente sostenido de un solo lado, y no me mires con esos ojos de pájaro, para vos la operación del amor es tan sencilla, te curarás antes que yo y eso que me querés como yo no te quiero. Claro que te curarás, porque vivís en la salud, después de mí será cualquier otro, eso se cambia como los corpiños. Tan triste oyendo al cínico Horacio que quiere un amor pasaporte, amor pasamontañas, amor llave, amor revólver, amor que le dé los mil ojos de Argos, la ubicuidad, el silencio desde donde la música es posible, la raíz desde donde se podría empezar a tejer una lengua. Y es tonto porque todo eso duerme un poco en vos, no habría más que sumergirte en un vaso de agua como una flor japonesa y poco a poco empezarían a brotar los pétalos coloreados, se hincharían las formas combadas, crecería la hermosura. Dadora de infinito, yo no sé tomar, perdoname. Me estás alcanzando una manzana y yo he dejado los dientes en la mesa de luz. Stop, ya está bien así. También puedo ser grosero, fájate. Pero fijate bien, porque no es gratuito.

¿Por qué stop? Por miedo de empezar las fabricaciones, son tan fáciles. Sacás una idea de ahí, un sentimiento del otro estante, los atás con ayuda de palabras, perras negras, y resulta que te quiero. Total parcial: te quiero. Total general: te amo. Así viven muchos amigos míos, sin hablar de un tío y dos primos, convencidos del amor-que-sienten-por-sus-esposas. De la palabra a los actos, che; en general sin verba no hay res. Lo que mucha gente llama amar consiste en elegir a una mujer y casarse con ella. La eligen, te lo juro, los he visto. Como si se pudiese elegir en el amor, como si no fuera un rayo que te parte los huesos y te deja estaqueado en la mitad del patio. Vos dirás que la eligen porque-la-aman, yo creo que es al verse. A Beatriz no se la elige, a Julieta no se la elige. Vos no elegís la lluvia que te va a calar hasta los huesos cuando salís de un concierto. Pero estoy solo en mi pieza, caigo en artilugios de escriba, las perras negras se vengan cómo pueden, me mordisquean desde abajo de la mesa.

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(...)


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segunda-feira, abril 02, 2007

Aniversário

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Passou o mês de março e eu me esqueci de falar sobre o dois ano do blog. Não que tenha muito o que falar, afinal, é apenas um blog. Mas, como no aniversário de um ano, é notável observar que através dele eu acabo percebendo que certas idéias minhas estão amadurecendo, dando lugar a outras com maior tempo de maturação - inevitável ou não, é assim que costuma acontecer, a cada ano, com muitos que percorrem o curto trecho dos vinte aos trinta anos como se, quando chegassem lá, tivessem que forçosamente parar de amadurecer, porque a partir de então pode correr-se o risco de antecipar todos os males que alguns anos mais tardes virão (e não serão tão males se virem na hora certa).

Aquela coisa jogada, fruto de uma grande curiosidade em tentar entender certas coisas e, através da fala/escrita, desenvolvê-las sem que elas ainda estejam consolidadas para mim, cedeu lugar aos poucos para uns, digamos, 'exercícios de pensamento', práticas que ter por objetivo a reflexão pura e simples, mais do que uma tentativa muitas vezes frustrada de entendimento de algo que ainda não se está preparado para entender.

Não que aqui está um 'filósofo' tentando buscar explicações para todos os males do mundo; é simplesmente alguém que quer se conhecer melhor e usa o que aqui é escrito para monitorar o próprio amadurecimento das idéias.

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