quarta-feira, março 29, 2006

Reflexões de Herman (3)

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Leonardo,
Aqui estás, uma reflexão sobre o inconsciente. Assunto espinhoso e que , provavelmente, renderá alguns outros posts e , se nos encontrarmos novamente, muitas discussões regadas a Quilmes e cigarro.



Sob o domínio do inconsciente *


Dia desses, em andanças pela noite portenha com alguns amigos, uma questão, até de certa forma inédita, surgiu para mim. Meu amigo, juntamente com outro conhecido, contava sobre sua viagem pelos campos e rios nos arredores de Buenos Aires. Sem qualquer planejamento, com muitas vezes não tendo a mínima idéia de onde estavam e para onde iam, eles foram envolvidos numa teia complexa de situações absolutamente inverossímeis se fossem criadas. Depois de muito discutir, meu amigo acabou soltando: " Nunca fiz planejamento, mas na hora sempre sabia o que fazer".
Para mim, foi a chave que me fez entender muitas de suas atitudes "malucas", diferentes. Ele foi guiado pelo seu inconsciente, que de tão treinado (não se sabe como, se soubéssemos todos treinaríamos ) sabe o que fazer em situações aparentemente cada vez mais complicadas que se apresentam para ele resolver e, de preferência, rapidamente.

Se ele não faz mil e um planejamentos sobre o que encontrará naquele rio, por exemplo, e quais as ações determinadas para cada tipo de situação adversa que ele se deparar, muito mais facilmente ele saberá sair delas. Como? não há resposta pulando para ser escolhida, mas uma escondidinha serve melhor que todas as outras: o inconsciente. Simplesmente não estando com todas as prováveis soluções definidas na cabeça, ele saberá como resolver quando aparecer alguma que não esteja prevista. E sempre há situações imprevistas em viagens desse tipo.

Alguém que vá "preparado", não saberá, ou demorará mais, para agir em uma situação completamente inesperada. Culpa do inconsciente, que não é confiável (pelo menos a pessoa não sabe que é) a ponto de não se utilizar de planejamantos para facilitar a compreensão.

Alguns poderão achar que apostar no inconsciente é uma "aposta no escuro". Pode ser, mas talvez achem isso porque não há como explicar o inconsciente, o saber agir em situações adversas sem nunca tê-las vivido. Um provável indício de que se está preparado para situações não-planejadas é a vivência constante de situações ditas "inexplicáveis"; digamos que essas situações fazem parte do "treinamento" do inconsciente, pois sempre pedem respostas rápidas quando nunca pensamos em qualquer uma resposta para situações que também nunca pensamos que possamos viver. São nessas situações que treinamos as ações inexplicáveis, e o prazer de ter enfrentado, e resolvido bem, esse tipo de situação é algo que só abre mais e mais portas para uma complexa, se algum dia possível, compreensão completa sobre si mesmo.

A inconcosciência pode se equiparar a outra palavra que, aparentemente, também não tem explicação lógica: sorte. Quando acreditamos no inconsciente, e esse meu amigo comprovou na pele isso, parece que sempre temos "sorte": perdemos o fogo, o que fazer? achamos outra forma de fazer o fogo, por "sorte". Estamos sem comida? caminhamos e encontramos, por "sorte", uma pequena fazenda que nos oferece um belo assado de ovelha. Uma tentativa de explicação de situações assim seria que o nosso inconsciente, como luz que nos guia nos escuros caminhos desconhecidos, acha sempre soluções para qualquer adversidade, e, por falta de outra palavra melhor, essa solução é atribuída a "sorte" - que nada mais é do que um refúgio para qualquer coisa que não se explica racionalmente.

Por tudo isso, levar a incosciência aos lugares mais longíquos, onde nem um rastro de situação já vivida tenha chegado, faz parte de um longo caminho que todos trilham, mas alguns nunca param para pensar nisso, para chegar ao completo conhecimento de si mesmo, que trará um enorme conhecimento do mundo consigo. A questão é que se estamos preparados para obter essa conhecimento, se a busca por ele não nos enlouquecerá no caminho, ou se, quando finalmente chegarmos lá, descobrir que todas as adversidades foram em vão e que o final encontrado não passa de uma ilusão de que nos conhecemos melhor...

* Traduzido do castelhano

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Diálogo (1)

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De um quase apaixonado diante da irmã de sua quase-alguma coisa-que pode-vir-a-ser-algo-interessante:



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_ Sabe por qual motivo eu continuo com a tua irmã? Porque eu não entendo ela. Não consigo compreender suas atitudes e não-atitudes, sua passividade diante de certas coisas que quase que obrigam a uma atutide, qualquer que seja. E o fato de não entendê-la me faz querer ficar mais com ela, não me entregar diante do primeiro mistério que ela coloca a mim, consciente ou mesmo inconsciente do ato. Não há um prazo definido para compreendê-la; o lado ruim disso é que o fato de eu querer decifrá-la pode ser interpretado como uma desculpa para ficar mais ao seu lado, e o lado bom, se é que ele realmente é bom, é de não desistir na primeira tentativa, da primeira negativa - consciente ou não - a um convite singelo para ter sua presença junto da minha. A dúvida é que a ânsia de querer entendê-la pode acarretar em certa obsessão, e a derrota final decorrente disso pode vir a ser maior pelo empenho, inocentemente despejado, em querer tê-la o mais próximo possível..."


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segunda-feira, março 27, 2006

Divagando e brincando...

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Divagando e brincando de fingir


Complicado, certos termos e esquemas relativos tomados como principais que não deveriam ser. Fingir é necessário, se a sinceridade afronta.
Fingir, mentir, tem um quê de contadores de histórias, ficcionistas que de tanto desgate oriundos da mente fértil para criar esquecem de escrever a sua própria história de vida e precisam inventá-la, mas pela necessidade de ser uma história real eles não conseguem torná-la interessante, ao menos que contem e envernizem na hora de contar a história médíocre que criaram para si... mas o diabos é que há alguns bons séculos é assim, a necessidade de fingir se torna uma dor, por vezes, insuportável de ter de inventar um personagem que não existe, aparentemente, mas que precisa ser despertado para que a dor da sinceridade não se torne ainda pior que a do fingir, que, se fosse em um mundo perfeito, seria tão forte que ninguém poderia aguentar, prevalecendo a realidade em detrimento da falsidade de se transformar em outros para agradar, ou não sofrer (comos e o sofrimento não fosse necessário...), ou os dois...


Engraçado, mas fingir pode ser, ao mesmo tempo, uma abreviação ou uma antecipação do sofrer. Finjo, invento, para não precisar passar pelo processo natural das coisas, que não é feito de muitas mentiras, não. Finjo, crio, para poder me antecipar e saber duma vez o que me espera na encruzilhada da opção...Da mesma forma, da mesma origem e opostos.
Ainda se provará que fingir é, nada mais nada menos, que dizer a verdade que não se conhece nem se sabe que existe - por isso o fingimento. Se soubesse, seria o fim da ficção.

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Finjo que digo a verdade para poder fingir e não dizer que não consigo fingir.

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quinta-feira, março 23, 2006

Histórias da vida real (2)

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Carroceiro perde carroça e cavalo

Na madrugada de sábado para domingo, Enio Raskof se deslocava pela rua Lavras do Sul quando, na esquina com a rua Radialista Oswaldo Nobre, foi surpreendido por dois homens carregando duas facas. Temendo o pior, Enio tenou fugir, mas foi alcançado pelos homens, que o atingiram com facadas no rosto, causando um corte no supercilho direito. Após o confronto, os dois homens foram atrás da carroça de Enio, que se encontrava, no momento, na Avenida Ulysses Guimarães, no Alto da Boa vista. Chegando lá, levaram embora a carroça, o cavalo e tudo que tinha dentro, inclusive uma carteira com R$ 80,00.


Jornal A Razão, 20 de Março.

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terça-feira, março 21, 2006

Histórias da vida real (1)

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Cerveja quente causa agressão

Na noite de sábado, Alexandre Batista da Silva andava pela rua Santa Bárbara, próximo à escola Ludovino Fanton, na Vila Caturrita, logo depois de ter saído de um trabalho realizado em uma festa de 15 anos. Carregando um copo de cerveja, ele ofereceu um gole à Rodrigo Paim, que também passava pela rua na mesma hora. Este aceitou a gentileza, e bebeu, num grande gole, quase todo o copo. Mas a cerveja estava quente, e Rodrigo nâo gostou. Discutiram exaltados e, depois de alguns minutos, este último tirou o facão do lado da calça e agrediu Alexandre na cabeça, provocando um corte na face. Aturdido, Alexandre tratou de fugir.

Jornal A Razâo, 20 de Março de 2006.

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quinta-feira, março 16, 2006

Pausa para o rock'roll

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Crema no Macondo, 10 de março.

Rock'roll will never die!

Nâo tem palco. O lugar onde a banda fica é um canto no fundo do bar, demarcado por um tapete. Só se sabe que vai começar o show porque a música ambiente cessa. Baixo, guitarra e bateria entram devagar, em um volume parecido, e eis que surge o teclado, o mais alto de todos, que já toma a frente na condução da melodia e prepara para a entrada da voz, que surge de início meio tímida, mas aos poucos ganha confiança para a explosão no refrão: "You really got me!". The Kinks. Anos 60. Não, 2006, passado da uma da manhã de uma sexta-feira, dia 10 de março.

Great balls of fire, jerry Lee Lewis. Anos 50. O clássico passo de dança dos primeiros anos de rock'roll, bastante visto em bailes de formatura, é lembrado pelo público que, a essa altura,já tomou cerveja o suficiente para esquecer que o espaço disponível impede qualquer passod e dança mais ousado.
O teclado, dessa vez, entra primeiro e conduz a harmoniosa versão de "Let's spend the night together", dos Rolling Stones. Anos 60 novamente. Logo à frente do "palco", amigos e namoradas da banda, aos poucos, relaxam e curtem a música, esquecendo por algum tempo a inevitável preocupação de se procurar erros no show.

Like a rolling Stone, Brown Sugar, anos 60, e eis que os 2000 dão as caras. Franz Ferdinand, Take me out. Essa toca bastante no bar, todos conhecem, e houve-se até vozes repetindo o som da guitarra no refrão.

Neil Young, Hey hey my my. O verso "rock'roll will never die" ecoa pelo local, tanto nos ouvidos quanto nos pensamentos de todos ali, sabidos de que aqeula velha história que o rock morreu não passa disso mesmo: uma eterna velha história.

A Razão, 16 de Março.
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segunda-feira, março 13, 2006

Hibernação duvidosa (3) : dúvida

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Enquanto durar o período da hibernação duvidosa, haverá espaço para a experimentação por aqui. Por enquanto, seguindo a linha de ontem, mais um capítulo do "Big Brother Mind".

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É, duvidoso, dúvida, palavra cheia de perguntas e nenhuma resposta, carregada de angústia e de esperança, de sofrimento e de pavor com o que poderá vir a esclarecer as perguntas e transformar a palavra, dúvida, em...
outra pior talvez, certeza, certeza de não ter mais dúvidas ou de ser algo tão já definido...obtuso e sem qualquer dúvida para esclarecer, interromper o processo duvidoso que pode levar a certeza.

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Mas a dúvida, o pavor da dúvida é pior que o da certeza, porque esse é genuíno e até tradicional, mas o outro não, é limitante, desgastante, e imitador daquilo que se conhece por auto estima travestida , na real, de "i'm loser baby, e por mais que esconda, não consigo".

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Am... dúvida que me procura para um chamado, ou melhor, uma chamada e uma espera, duvidosa, de um retorno, que se não vêm provoca a dúvida, o que aconteceu?, e se vêm também aparece num duvidoso pacote de esperança embrulhado numa alegria de ser correspondido em qualquer intenção que possa ter um simples sinal de fraqueza que, muitas vezes, é o que ocasiona uma chamada, fraqueza de não ter certeza, ou de ter uma dúvida sem qualquer perspectiva de certeza, que, afinal, é mais angustiante que uma certeza bem definida. Ou não?

domingo, março 12, 2006

Hibernação duvidosa (2): Me and the devil

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O post mais rápido depois de outro.

Agitação extrema, inquietude de fazer tantas coisas ao mesmo tempo que...
Nem uma frase se completa, pois na metade dela já se pensa em outra coisa.
Calma, calma.
Tomar uma água, quem sabe?
jogar futebol (no PC), que agita mais ainda?
- Pelo menos se chegará num estágio tão grande de "agitume" que não há como não se acalmar -

Hmnn, hmnn
Hmn,

Me and the devil,
was walkin' side by side
Meeeee and the devilll,
was walkin' side by side


Espirro. Certa vez, alguém escreveu que os dois maiores prazeres para o homem era espirrar e gozar ao mesmo tempo. O cara que disse isso, ou melhor, o cara que estava num conto que outro escreveu, demorou algumas décadas para realizar a façanha. Mas conseguiu, e morreu depois, pois não há lembrança que rompe o ciclo repetitivo de filmes que passam na cabeça, e que não deixam vir à tona o que, realmente, aconteceu com o cara.

" Me and the devil,
was walkin'n side by side"

Hibernação duvidosa (1)

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O blog está em estado de hibernação, em busca de uma alternativa ao formato atual, de mero "publicador" eventual não-periódico de textos construídos e revisados na hora. O que pode acontecer é o formato mudar, ser mais rígido com relação à dias de atualização, ou então, após muitas tentativas de achar um formato diferente, ficar na mesma.

Early this mornin'

when you knocked upon my door
Early this mornin', ooh
when you knocked upon my door
And I said, "Hello, Satan,"
I believe it's time to go."


Robert Johnson - Me and the devil
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terça-feira, março 07, 2006

Ode à madrugada

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Passa das 3 e 59 da madrugada, e o cansaço recém cutucou o sono,
que estava dormindo há horas,
nocauteado por aquela água tão ativa, que ainda foi misturada com uma dose de tensão sexual não resolvida e um pó solúvel que dizia no rótulo "eloquência gratuita"

inconformismo
com a inoperância do cansaço,
a lenitude do medroso emebebido pelo vazio envergonhado de sua condição,
tão solitária,
!que vergonha de estar assim!
apavorado, teve de cutucar o sono,
que,
mesmo depois de todas aquelas doses,
voltou a penetrar como antes, ou como nunca,
como eterno perdedor que é, se fez invisível, não deu resposta, não foi percebido e resolveu, depois de muito lutar, perder mais uma vez, como sempre,
se entregar ao desconhecido, sempre comandante,
alter-ego do cansaço,
da derrota, da vitória
e do sono.



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segunda-feira, março 06, 2006

Um ano

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Completou um ano o blog.
Estudo alguma mudançcas, que , provavelmente, virão em breve.

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quinta-feira, março 02, 2006

Reflexões de Herman (2)

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Um texto mais curtinho dessa vez, minhas aulas começaram e estou bastante ocupado. Bon Apetit,

Herman Oliveira.


Ella usó mi cabeza como un revolver, e incendió mi conciencia con sus demonios

Soda Stereo


Dá para se fazer inúmeras leituras dessa frase (a primeira), e em cima dela criar inúmeras situações, metáforas e causos. Lembra frases do Cortázar, que , às vezes, cria imagens tão poderosas e complexas que, quando não se consegue imaginar o que ele quis dizer com uma frase, ele joga mais uma tão poderosa quanto a outra, criando uma espécie de confusão e curiosidade extrema que poucas vezes é saciada decentemente; o normal é desistir, ou achar que sabe o que é aquilo para poder partir para a outra. Numa comparação barata, é como se fosse explicar um conteúdo inédito - um novo tipo de equação, por exemplo - com todas as variáveis conhecidas, mas que ainda assim não se consegue juntar todas as partes e se fazer compreender o todo. As palavras são as partes iniciais, que possibilitam a criação das metáforas, que são a segunda parte, mas que podem ter fases infinitas, só que nem o compreendido na primeira fase vai poder ser útil para a compreensão do todo, a metáfora completa. Mesmo assim, a curiosidade de saber aqulo, de tentar acompanhar a imagem criada é tanta que se cria uma espécie de "atalho" ao pensar que tal coisa é aquilo ali que não se sabe, apenas para seguir adiante na intricada teia de metáforas que se pode criar a seguir. Chega uma hora que extrapolou tanto o conhecido que se desiste e se passa para outra. Mas, como um treinamento, não se pode desistir, pois o resultado, quando encontrado, é recompensador e inspirador.

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quarta-feira, março 01, 2006

Quase

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Quase um ano de blog.
Dia 4 de março completa.
Vamos ver quanto tempo mais vai durar.
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