domingo, julho 31, 2005

Estalos e maturidade

Há aquela coisa de "estalos", quando, por exemplo, olhamos um programa de tv e algo nele nos faz perceber, se dar conta, entender, que certas opiniões ou impressões nossa à respeito de determinada coisa são completamente erradas ou simplesmente idiotas de tão egoístas/maniqueístas que são(eram). Em muitas vezes, o estalo não é nada mais que passageiro, e nesse caso ele é inócuo, irrelevante, mas ainda sim é com esses que se chega aos verdadeiramente importantes, os que te perseguem até te fazer parar e trocar de estrada porque essa não vai dar em nada além de sofrimento, dor e tristeza. Um belo conjunto de estalos seguidos pode ter diminuída a sua importância por nós, já que te dizer que a estrada não é a certa quando já se andou boa parte dela não é lá uma coisa muito boa, mas é na boa relação com eles que vão te fazer seguir um caminho que te levará a algo mais do que a tristeza, ou a solidão. O interessante nessas horas é ter contato com alguém, não importa se ele/ela já tenha tido esse estalo ou não, para se perceber o tamanho da mudança que te proporcionou, ou se caso contrário, não te trouxe nada além do já conhecido, e nesses casos o estalo ainda é importante porque não é dos definitivos, mas dos inúmeros que te proporcionaram os definitivos.

Da mesma forma, há certos momentos que , na hora, se nota que alguma mudança ele irá trazer, e geralmente essa mudança vem com o nome fantasioso de maturidade. São situações que as impressões, opiniões e preocupações extrapolam o simples umbigo próprio,como as crianças que pelos 3,4 anos percebem que o mundo não gira em torno delas, mas com elas. A sensação é quase a mesma, apesar que quando criança a percepção da mudança não existe. A importância da nossa vida extrapolou a que ela já tinha para cada um, e se torna vital para outras pessoas próximas, ou não, como se uma responsabilidade a mais tenha aparecido para ti, e dessa não há qualquer escapatória fácil porque ela não depende unicamente de ti, tu apenas é uma "entidade" que incorporou a importância e dela não poderá se livrar enquanto não for resolvida.É uma missão e tanto, que acaba te fazendo tomar decisões mais equilibradas e coerentes com o que venha a se chamar "boa conduta". Pode-se envelhecer alguns anos com isso, mas é daqueles envelhecimentos saudáveis, que te fazem poder variar entre pensar como alguém da sua idade ou de 20 anos mais velho. É a tal da maturidade, se um conceito qualquer fosse escolhido pela beleza do que ele pode signficar.

domingo, julho 24, 2005

Nabokov

Alguns trechos de Lolita, do Vladimir Nabokov, um primor de livro, recomendado a todos que querem escrever melhor. O jeito que o Nabokov domina a escrita, as palavras complicadas sem parecerem mera erudição sem propósito, é uma aula a cada página.

"Conquanto seja indispensável registrar alguns pontos pertinentes, a impressão geral que desejo transmitir é de uma porta lateral que abre violentamente numa vida em pleno vôo, deixando entrar uma negra e retumbante golfada de tempo que abafa, com suas chicotadas de vento, o grito da catástrofe solitária"
Hubert Hubert sobre Lolita em sau vida.

" Sou suficientemente orgulhoso de saber alguma coisa para ter a modéstia de saber que não sei tudo"

quinta-feira, julho 21, 2005

Crônica de inverno

Tarde chuvosa em Santa Maria. A previsão é que as massas úmidas permaneçam até domingo, trazendo esparsas pancadas de chuvas. A temperatura, apesar da chuva, permanecerá baixa, com mínimas de 5 graus e máximas de 13. Pela noite, os ventos gelados do sul, somados à garoa fina e às massas de ar polar que estacionaram no estado a uma semana, faz a sensação térmica ser de menos que 5 graus, 1,2 graus provavelmente.As pessoas ainda não se arriscaram a sair na rua, o que pode ser comprovado com uma simples olhada para os prédios ao redor, verificando que muitas luzes de quartos, salas, cozinhas e banheiros estão acesas, denunciando a existência de algum morador no lugar, provavelmente com frio, olhando TV, comendo, cagando ou dormindo.
Um dia quase perfeito para o descanso, diz a funcionária pública Edwiges:

_ Quer melhor pra hoje coisa que ficar em casa debaixo das cobertas?

Um outro ao lado de Edwiges, guri de uns 15 anos aproximadamente, quer aparecer na TV também, e solta, complementando a fala anterior:

_ Tem sim, ficar em baixo das cobertas acompanhado!

Risadas no ambiente. O guri volta para os seus amigos como se tivesse feito um gol de cabeça aos 38 do segundo tempo num Grenal que, até o momento, estava 2x2. O gol, pelo tipo de comemoração, é do Inter.
No meio do falatório e das risadas, um senhor daqueles frequentador assíduos do cafézinho com os amigos no Sábado Demanhã no Calçadão, diz :
_ Melhor é acompanhar a CPI na TV, tomando um mate e rindo da cara dos inconpetentes que mandam nesse país.
Vaias gerais, principalmente da gurizada do futebol.

É preciso respeitar os mais velhos, então o café vai ser feito pra hoje ou pra amanhã, dona? Ó o pessoal aqui, todos com seus cafézinhos e o meu cadê? Preciso de café, olha esse frio, eu sou um homem idoso, será que os sete remédios que tomo não me dão nem uma prioridade de atendimento numa merda de café desses, hã? Não, não me diga que acabou, não me diga isso, não, tu não sabe o que está dizendo Dona, dona de merda, quero meu café, então sempre aparece esses tipos aqui, Margarete? Bah, deve ser duro ficar até tarde aqui, aguentar essas figuras... Não, e pior que tem de tudo né, tem os velhinhos que se acham porque são velhos, os gurizão que querem dar uma de velhos, aquela coisa de intelectual, sabichão, "escritor", hahahaha, eles adoram isso, Oi, muito prazer, tu escreve? Não, só umas coisinhas, mas ninguém leu ainda, hahahahaha, parecem que se guardam para um descobridor que vai achar aquelas merdas, sim, merdas porque na maioria são merdas né, vamos combinar.

O frio aqui em Gramado está pegando foooooogo, o pessoal já começou a chegar hoje, Quinta feira, e amanhã a previsão é de mais gente ainda. A expectativa de todos , lógico, é que desse fim de semana a neve não passe, porque segundo os meteorologistas, as condições estão extremamente favoráveis para a neve. Esse frio, essa chuvinha... É só trocar aquela nuvem cinza de chuva ali por uma mais escura, quase preta. Vamos torcer, né galera, afinal todos queremos ver a neve.A senhora,de onde vêm?

_ Curitiba, Paraná.

E aí, tá gostando do frio? Na expectativa da neve? A senhora já viu neve na vida, que coisa bonita que é, não?

_ Oi, ah eu to ansiosa, estamos eu e meu marido com as máquinas a postos, olha aqui ó, posso tirar uma foto tua? Primeira vez que eu sou entrevistada, imagina...

Não, senhora, estamos ao vivo, depois nós tiramos.
Pois é, a expectativa do pessoal é a melhor possível. Desse fim de semana não passa, vamos torcer, gente! Voltamos aos estúdios.

sábado, julho 16, 2005

Grant Lee Buffalo

Gosto muito do Grant Lee Buffalo, desde pela forma que eu descobri a banda até mesmo por ser difícil de achar coisas deles por aí. Mas é uma banda do início dos anos 90, e se for classificar por estilo, seria algo como um folk/rock alternativo/grunge com algumas pitadas de filme de western e pianinhos de cabaré, tudo isso colocado num liquidificador, acrescentado do principal igrediente: a emoção.
Não há só um rótulo, mas vários.

As músicas deles são extremamente ricas em criar imagens; parecem fazer parte de uma trilha sonora de um filme que nunca foi filmado. As letras sempre contam alguma história meio absurda, fantástica, como a literatura fantástica cheia de realidade do Julio Cortázar, do Kafka e do Daniel Pelizzari, só que em forma de música. O cenário é sempre o mesmo: os grotões perdidos dos Estados Unidos, as cidades fantasmas do Sul, os desertos cheio de personagens estranhos, estradas vazias no meio do nada. Os personagens variam, de fantasmas a ex-presidiários passando por motoristas e artistas mambembes, sempre com a mesma busca: uma pessoa para amar e ser correspondido, que ,afinal, é a busca de todos nós. Basicamente, as histórias são de amor, mas não aquele clichê e piegas de outros músicos: o amor real, com as dores, desafios, lutas e batalhas de uma guerra tão comum a todos nós . A voz do Grant Lee Philips, vocalista, guitarrista e compositor da banda, é uma boa caneta contadora de histórias, indo do texto realista e objetivo que certas situações pedem ao mais emocionante e surreal relato de encontro de duas pessoas, pintando como poucos uma cena de amor. O primeiro e o segundo cd , Fuzzy e Mighty Joe Moon, são como livros de contos sobre o amor impossível contado pelos próprios personagens das histórias, juntos, e provando que a história pode ser algo de impossível e inacreditável, mas o verdadeiro amor não.

Grant lee Buffalo - Jupiter and Teardrop
Just a girl who can’t say no
And her sweetheart on parole
Parents named her jupiter
To bless her with a lucky soul
He’s a boy who never cried
When they locked him up inside
And she nicknamed him her teardrop
For the tattoo by his eye

Now she’s sleeping in her bed
And he’s sleeping in her bed
And it’s jupiter and teardrop
And it’s jupiter and teardrop

She divines by radio
Pushing buttons show to show
And she wonders ’bout the fate of
Lovers in the barrio
She forgets after a while
When she tunes in on the dial
Jackie wilson’s lonely teardrops
And she drives another mile

Now she’s sleeping in her bed
And he’s sleeping in her bed
And it’s jupiter and teardrop
And it’s jupiter and teardrop
And it’s jupiter and teardrop

And they want to have a child
Walk together down the aisle
But the world they live in is mean
And it’s built on sheer denial
The phone rings it’s for her
Got to see ya jupiter
I’m in trouble with the law
Bring my 38 caliber

Now she’s sleeping in her bed
As she pulls the phone plug dead
And it’s jupiter and teardrop
And it’s jupiter and teardrop

segunda-feira, julho 11, 2005

Viajar

Preciso viajar, mudar de ares, dormir em cama que não a minha, ver pessoas e coisas diferentes, renovar o repertório de histórias para contar...
Terça to partindo. Vou meio sem rumo, tentar ver algumas caronas até Livramento. Eu e um amigo meu. Vamos ver no que vai dar.

Um texto meio antigo...
Viajar
Andar de carro, avião, bicicleta, o que quer que seja.Viajar.Palavra tão pequena, frágil, débil, mas ah, como pode ser ao mesmo tempo tão profunda e transformadora quando é deixado de lado o seu significado semântico, levando em conta apenas o simples e inexplicável sentido que adquire quando nada além dela pode salvar de uma rotina certinha e burocrática que toma conta da vida em alguma parte de demasiada reflexão ou depressão? Como explicar e descrever a sensação de deixar tudo para trás a fim de buscar um objetivo maior que na verdade nunca se irá encontrar, mas que ao mesmo tempo fascina só pelo fato de ter esperança de que algum dia ele possa existir e ser alcançado? Um motivo este tão importante e misterioso que ninguém consegue explicá-lo ou entendê-lo de forma diferente da qual ele quer que entendamos, pois na realidade ele não teria sentido se fosse facilmente compreendido já que todos teriam acesso a ele de um modo muito mais fácil e assim não daria-se valor ao simples fato de buscá-lo que é por si só o sentido verdadeiro de qualquer busca que se julgue eterna . Posso morrer ao tentar buscá-lo, mas é justamente este o grande desafio que enfrenta-se ao lidar com um inimigo desconhecido, muito maior, e que conhece todos os seus passos como uma mãe conhece os passos de seu bebê, sabendo exatamente qual será a próxima ação a ser tomada e já planejando um outro ataque que deixará ainda e sempre mais distante do motivo principal que busca-se num ato simples determinado por uma palavra tão simples e frágil: viajar.

Um texto de aproximadamente um ano e meio atrás, da minha fase beatnik (hehehehe!). Recém tinha lido o On the Road, do Jack Kerouac, e o Primeiro Terço, do Neal Cassady, o companheiro do Kerouac. É nítido o efeito.

quinta-feira, julho 07, 2005

Como me tornei estúpido

Do livro "Como me tornei estúpido", de Martin Page:

A verdade sai da boca das crianças. Na escola primária, ser inteligente resultava num insulto infame; quando crescemos, ser intelecutal passa a ser quase uma qualidade. Mas isso é uma mentira: a inteligência é uma tara. Assim como os vivos sabem que vão morrer, e como os mortos não sabem nada, penso que ser inteligente é pior que ser asno, porque o asno não se dá conta disso, ao passo que qualquer inteligente, ainda que humilde e modesto, o sabe forçosamente.

Está escrito no Eclesiastes que "quem tem sua ciência aumentada, este também tem aumentada a sua dor".Os cristãos tem a sorte, quando jovens, de ser postos em guarda contra o perigo da inteligência; por toda a vida saberão distanciar-se dela.

O livro, basicamente, conta a história de um cara( Antoine) que , cansado de saber de coisas que não o levam a muito longe, decide investir na idiotice como forma de sobrevivência.Ele se convence de que só a estupidez lhe permitirá ser plenamente aceito pela sociedade.Genial.
Já discuti várias vezes sobre se a inteligência, ou saber determinada coisa que aos olhos dos outros possa parecer que tu é uma pessoa inteligente, tem algum sentido, porque se sofre demais com isso. É um assunto interessantíssimo, não acham?

sábado, julho 02, 2005

Pink Floyd

Há algumas horas atrás aconteceu o show do Pink Floyd no Live 8,em Londres. Passou direto na MTV. Show com a formação clássica : David Gilmour na guitarra/vocal, Nick Mason na bateria, Richard Wright nos teclados e Roger Waters no baixo/vocal.Waters saiu da banda faz quase 20 anos, e essa é a primeira vez que a banda se reuniu nesse tempo todo. Foi algo um tanto espetacular. Pra quem cresceu nos anos 80 e 90, foi algo inédito.

Eles tocaram quatro músicas ( pelo menos foi as que a MTV mostrou):
Breathe e Money, do clássico Dark Side of the Moon, de 73, um dos melhores albuns da história do rock;
Confortably Numb, do também clássico The Wall, de 79;
e Wish you were here, do album homônimo de 75;

Foi muito lindo de ver Waters e Gilmour cantando juntos Wish you were here. Apesar das desavenças entre os dois, que acabou resultando na saída de Waters da banda, no Live 8 eles pareciam felizes, riam, tocavam relaxados - apesar dos dois nunca se olharam. O som tava perfeito como sempre, límpido, poderoso, imponente, e a banda continua tocando muito, Gilmour cantando muito bem, Waters não tanto, mas compensando dando mais emoção à sua voz.

Não me surpreenderia (muito) se eles voltassem a tocar juntos, fazer uma turnê especial, colocar mais um dinheiro na já abarrotada conta bancária deles. Díficil vai ser conciliar o gênio dos cabeças da banda ,Gilmour e Waters,que há anos não se falavam e só se reuniram para tocar porque, palavra deles, "a causa do Live 8 é maior que qualquer desavença entre nós". O que teria de produtores oferecendo milhões e milhões para a banda tocar...

Roger Waters sempre foi o gênio criativo da banda. Compôs a maioria das melhores músicas da banda, e quase todo o The Wall, de 1979. Gilmour é um músico excelente, mas quando Waters saiu da banda e ele teve de assumir o controle, o Pink Floyd não foi mais o mesmo. Isso foi em 85. Hoje, quase 20 anos depois, eles tocaram novamente. E eu não acredito ainda.

Sábado

Sábado de manhã quente, sol forte, vento gostoso e não quente; um dia bom para acordar cedo, tomar um café com calma, ler os jornais tranquilamente no sofá, olhar algum jogo que tenha na tv e depois Os Simpsons, comer um belo churrasco, fazer uma boa caipirinha pra acompanhar, dormir depois fechando as percianas e a porta do quarto sem qualquer pressa/despertador para acordar, acordar naquela preguiça, comer algo e ir tomar um mate no calçadão, conversar com os amigos e olhar o movimento, observar o anoitecer caminhando tranquilamente na Floriano - de preferência perto do colégio Santa Maria -, passar na Presidente lotada de gente nas calçadas, uns tomando também mate outros cerveja e acompanhando algum jogo da dupla grenal nos bares, chegar em casa. Pegar um filme, voltar para casa, jantar algo bom - de preferência pizza - olhar o Jornal, a novela, ir para o computador, jogar um futebolzinho ali no pc, e por fim, se nada surgir que te faça sair de casa, olhar um filme e dormir.Um típico sábado de tempo bom.